Autismo: Da dificuldade no contato visual à habilidade de montar brinquedos

abr 6, 2016 | 0 - 3 anos, 10+ anos, 4 - 6 anos, 7 - 10 anos, Comportamento, Criança, Saúde

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Além da recusa em experimentar alimentos, do riso inapropriado, da falta de expressividade facial, da fixação por metais, Bernardo não aceitava fazer contato visual com outras pessoas, o conhecido contato “olho no olho”. Esse é um dos principais sintomas do autismo. Muitas crianças autistas olham apenas de canto de olho ou fazem um breve contato visual, desviando logo o olhar. Não conseguem mantê-lo enquanto conversam.

O famoso “olhe para mim enquanto estou falando” não serve para os autistas. Eles fogem deste tipo de contato. No entanto, não é só o olhar das outras pessoas que eles evitam. Bernardo, por exemplo, não aceitava se olhar no espelho. Embora gostasse de segurar meu rosto entre suas mãos e olhar bem dentro dos meus olhos, ele só fazia isso comigo e, em alguns raros momentos, com a irmã. Mas tinha resistência a se olhar no espelho. Passei a insistir nessa brincadeira; compreendi como ela era importante para seu desenvolvimento.

Ao se contemplar no espelho, é como se estivesse “admitindo” sua existência, constituindo-se como pessoa, como um ser único, singular. Não se olhar no espelho significava que meu filho ainda não aceitava que ele fazia parte deste mundo, do meu mundo que, por enquanto, ainda não era o dele.

Eu o pegava no colo, levava-o para a sala de estar, onde havia um espelho enorme de madeira, e, brincando, apontava:

– Olha o Bernardo ali. Que lindo que o Bernardo é!

Ele desviava o olhar. Não tinha jeito. Não olhava para o espelho. Tudo bem. Eu imaginava que haveria resistência; entretanto, não desistiria. Quase todos os dias eu fazia novas tentativas.

A habilidade de montar brinquedos e quebra-cabeças

A extrema habilidade para montar brinquedos e quebra-cabeças também pode ser um sintoma do autismo. Desde muito pequeno, a partir dos três ou quatro anos, Bernardo montava com extrema facilidade quebra-cabeças e brinquedos de encaixar. Muitos deles só eram montados por adultos e, mesmo assim, com auxílio de um manual de instruções.

Era incrível a facilidade com que ele montava. Para completar um quebra-cabeças de 500 peças, ele levava menos de uma hora, e montava sozinho, sem qualquer ajuda. No começo, eu fiquei feliz com essa habilidade. Acreditava que era um bom sinal. Mas o médico me explicou que essa facilidade era uma das características do autismo, comprovando que seu funcionamento cerebral era de um menino autista.

A razão para essa facilidade é que – de modo geral, mas não absoluto – os autistas ficam muito pouco ou nada preocupados em descobrir o sentido da cena representada nos quebra-cabeças, e muito centrados em estabelecer a continuidade das formas, das cores e das linhas. Não exigir das linhas que façam sentido economiza grande parte do trabalho da percepção e facilita a “armação”, embora não saiba o armador o que armou ali.

Mas não eram só os quebra-cabeças que lhe interessavam. Seus brinquedos preferidos eram bonecos de dinossauros e miniaturas de animais. Ele tinha coleção de bichos e de dinossauros, de todos os tamanhos e tipos. Carrinhos e bolas nunca chamaram sua atenção. Eu tinha percebido isso e, quando ele ganhava carros e bolas, eu repassava para outras crianças.

Mais tarde, vieram os legos, especialmente os da coleção do Star Wars (Guerras nas Estrelas) que imitavam o filme lançado em 1980 por George Lucas. Bernardo era extremamente cuidadoso com seus brinquedos. Ele não os perdia nem os estragava. Muitos desses brinquedos ele conserva até hoje.

Luciana Mendina

Jornalista e autora do livro "O autismo tem cura?". *Luciana é escritora e foi convidada pelo Blog Leiturinha para compartilhar sua opinião com as nossas famílias leitoras.

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