Alinhavando passado e presente: Um livro infantil sobre a memória dos povos ribeirinhos

ago 17, 2018 | 10+ anos, 7 - 10 anos, Palavra da Curadoria

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Um delicado conto tecido nos afluentes da memória.

Tio Flores: Uma História às Margens do Rio São Francisco

Esta frase poética define bem o livro que a Equipe de Curadoria da Leiturinha selecionou para os pequenos leitores mais experientes: Tio Flores: Uma História às Margens do Rio São Francisco. A obra, de Eymard Toledo, publicada pela Editora V&R, conta um pouco sobre as histórias que permeiam as margens do “Velho Chico”, apresentando ricos elementos relacionados à cultura interiorana, das comunidades ribeirinhas e aos impactos ambientais sofridos com a expansão industrial.

O presente e o passado, o campo e a cidade, o idoso e a criança: uma narrativa sensível e profunda

Tio Flores Uma História às Margens do Rio São Francisco

Inspirada em uma viagem pelo interior brasileiro com seus dois filhos, a autora conseguiu abordar de forma leve e sensível temas profundos, como a importância do encontro de gerações, os impactos sociais e ambientais do progresso e a relação entre o campo e a cidade.

A narrativa, que tem como pano de fundo Olho D’Água, uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, retrata a mudança dos hábitos e costumes do povo local com a chegada das indústrias e apresenta, com  muita clareza e simplicidade, profundas questões ambientais e sociais – tudo isso sem que se perca o valor literário da obra. Para construir e ilustrar este livro, Eymard Toledo usa a técnica da colagem com imagens e gravuras que conseguem transmitir a relação entre o passado e o presente, o campo e a cidade, o idoso e a criança, e o povoado e a fábrica, tudo em tons poéticos e com a sensibilidade que o tema pede.

A voz que nos conduz na narrativa é a de Edinho, uma criança que tem de ficar com seu tio, enquanto os pais trabalham. Assim, todas as tardes, depois da escola, o garoto ouve as tantas histórias que o Tio Flores tem para contar e se delicia com aquelas que começam com “Antigamente”… A trama que perpassa esta narrativa é revestida em afeto e ternura, mas também de duras críticas sobre uma realidade que se passa à revelia, tornando cinza o que antes era colorido.

Um desfecho inspirador: a redescoberta de nossas raízes

As fábricas e indústrias que ocupam a pequenina cidade atraem novos moradores e, com eles, o progresso. Nesse momento, os uniformes ocupam o lugar das chitas e dos ternos, o Velho Chico fica turvo, os peixes somem e o trabalho é dobrado. Assim, Tio Flores, o costureiro mais habilidoso de Olho D’Água, perde sua clientela, que não mais conserta, mas troca seus velhos uniformes por novos. O cenário do campo se transforma, se urbaniza, se asfalta. Mas algo resiste no fundo de uma gaveta esquecida: os tecidos coloridos de outrora, que Edinho encontra sem querer.

O desfecho da história é poético e reconfortante, ainda que toda a realidade permaneça. Tio e sobrinho encontram um modo de colorir e acordar aquela beleza adormecida do povoado, através de cortinas estampadas, uma broa, café e boa prosa. Assim, os moradores redescobrem a si mesmos, suas raízes e a cultura popular. Por fim, a autora nos presenteia com a possibilidade da vida autêntica e coletiva, ainda que o redor diga o contrário.  

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Sarah Helena

Mãe de Cecília e de Olívia, psicóloga, escritora, especialista em filosofia e mestre em educação profissional e tecnológica. Sempre trabalhou com famílias, especialmente com os pequenos. Por esse amor ao universo afetivo infantil, hoje, na Leiturinha, integra o time de Curadoria e colabora fortalecendo o vínculo das famílias leitoras através da experiência da literatura.

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