Quando meu filho foi diagnosticado com autismo, em 2002, não havia tantas crianças diagnosticadas com o espectro como atualmente. Era até difícil encontrar pais na mesma situação e trocar informações e experiências. Eu me sentia sozinha nessa luta, procurando respostas sem saber ao certo as perguntas que deveriam ser feitas.
Desses quase quatorze anos para cá, o cenário mudou significativamente. Proliferaram as associações de amigos dos autistas, as organizações que abordam o assunto e os sites com informações sobre autismo. O número de autistas mais do que triplicou e passei a conhecer e a conviver, quase que diariamente, com mães e pais lutando pelo tratamento mais adequado para seus filhos. Mas, afinal, o que mudou de lá para cá?
Na década de 80, a Associação Psiquiátrica Americana tornou mais abrangentes os parâmetros para diagnóstico do autismo e, com isso, os EUA viveram uma campanha de informação em massa. Até então, a maioria dos médicos americanos tinha a mesma imagem estereotipada que nós, brasileiros, tínhamos, e cuja mudança se deu recentemente, mais precisamente nos últimos dez anos.
Antes, os médicos americanos consideravam autista apenas quem era totalmente incapaz de interagir socialmente; não se falava em espectro autista, muito menos nas graduações do autismo em leve, moderado e severo.
O aumento da quantidade de casos de autismo na infância
Com as novas normas, contudo, o número de casos aumentou consideravelmente, representando um “boom” nas estatísticas, e o autismo passou, inclusive, a ser tratado pela mídia como uma epidemia.
É importante frisar que esse “boom” foi resultado, basicamente, da ampliação dos critérios usados para se estabelecer se uma criança era autista ou não. Dessa forma, passou-se de um extremo a outro: se antes o número de autistas não era fidedigno por não levar em consideração os tipos de autismo mais leves, agora também não é fidedigno por considerar qualquer alteração comportamental como um indício de autismo. Passamos de um extremo ao outro.
A flexibilização dos critérios foi a responsável pela diferença nas estimativas internacionais e pela profusão de diagnósticos de autismo. Logo, como ocorreu nos EUA na década de 80, agora é a vez de o Brasil ter essa sensação.
A importância do diagnóstico precoce
Relevando os exageros, é louvável que haja maior conscientização da comunidade em geral e de pais, professores e médicos, em particular, sobre o TEA, o que viabilizará o diagnóstico precoce, amplamente defendido por mim. Também merece destaque o fato de que, quanto maior a disponibilidade de informações, mais possibilidade de inclusão social e de combate ao preconceito.
Outro aspecto positivo é que as pessoas entendam a importância da terapia tanto para os casos graves da doença quanto para os casos leves, haja vista que, sem o diagnóstico adequado, corremos o risco de considerar apenas “esquisitas” ou “excêntricas” crianças que se beneficiariam muito com ajuda profissional.
Todos só têm a ganhar entendendo a realidade da criança com autismo
É provável que, nos próximos anos, haja um rearranjo, com a divulgação de estatísticas que reproduzam, com mais precisão, o número real de autistas no mundo. Torço para que, quando esse dia chegar, tenhamos muito mais respostas do que perguntas a fazer.
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