Não foram duas, nem três, nem quatro, mas muitas e muitas vezes que ouvi pais angustiados me perguntarem: “Meu filho só faz birra, o que eu posso fazer? Estou cansadíssimo(a)”. As professoras que também não escapam, enfrentam isso todo dia, principalmente se forem da educação infantil.
Mas o que é a birra?
A birra – Segundo o dicionário: 1 Capricho, pertinácia, teima, teimosia. 2 Obstinação caprichosa – não é nada mais que uma forma de expressão. Há os que choram, os que se jogam no chão, os que gritam, os que saem batendo nas coisas e pessoas.
Até aí não estou falando nada de novo, não é? Quem já não presenciou essa cena? A criança berrando, a mãe falando baixo com vergonha e outros pais em volta olhando com o olhar de cumplicidade do tipo “Eu sei como é isso!”.
Quando a criança entra nesse “estado de espírito” há varias questões em jogo e vamos falar um pouco sobre elas aqui.
Antes de tudo, falando biologicamente, é importante lembrar que:
“Uma das áreas que não nascem prontas é a parte superior da massa cinzenta, composta pelo neocórtex. Essa região, que corresponde a 85% do cérebro, é responsável por capacidades como reflexão, planejamento, imaginação, pensamento analítico e solução de problemas. Mas nos primeiros anos de vida, faltam conexões suficientes entre os neurônios que existem lá. (…)É como se um lustre viesse da fábrica com todas as lâmpadas, mas, em parte delas, faltassem os fios que permitem que elas acendam (não se preocupe, mais tarde, por volta dos seis anos de idade, tudo se iluminará)” explicou o neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para a revista Super Interessante, na reportagem A ciência contra a birra.
Isso significa que a criança não tem domínio da reflexão necessária para que ela perceba que a reação dela é infundada, que há outras maneiras de lidar com a situação e se expressar.
Outro fator importante é que elas ainda estão incorporando na construção de sua psique os modelos de comportamento, as ferramentas necessárias para trabalhar com essas situações e outras formas de solucionar os problemas.
Mas não é porque elas não sabem se expressar de outra forma que não devem ser ouvidas, que não devem ser estimuladas a agirem de outra forma. Se simplesmente cedermos aos “acessos” e darmos tudo que eles querem, ou ainda os ignorarmos, há riscos para o bom desenvolvimento deles. Podem se tornar pessoas profundamente frustradas ou egoístas por não se sentirem ouvidos ou sentirem que são a autoridade (sem estarem prontos para tal).
Como agir diante da birra do meu filho?
Aqui vão algumas ideias:
- Mantenha a calma. Eu sei que é muito difícil, mas também é muito importante. Não se desespere porque o problema não é seu, é da criança. Você é o adulto que a conduzirá e a ensinará a solucionar o problema. É preciso separar isso, porque alguns pais tomam o problema pra si, como se aquilo fosse “algo errado” na relação com os filhos. Relaxe um pouco, a birra não é sinal de que você está errando na educação dos filhos. É parte do desenvolvimento deles, é natural. Você ensinará outros caminhos.
- Procure atividades que te façam bem e te preparem para conduzir situações estressantes. Você precisa estar bem, e birra é uma situação muito estressante e angustiante!
- Não os mimem. Não ceda a tudo que pedem porque isso não faz bem para eles e nem para você. Pondere o que está sendo solicitado.
- Deixe seu filho participar do “processo de encontrar uma solução”. Se o problema é dividir (outro muito comum, afinal eles estão na fase egocêntrica entre 02 e 06 anos mais ou menos) converse com ele(a) mais ou menos nesses termos: “Solicite que a dona – da boneca – diga por que não quer cedê-la. Repita de forma resumida a fala, afirmando que ela gosta do brinquedo e que sentir ciúmes dele é natural. Depois, diga à outra que fale e conversem sobre o desejo dela de brincar com o objeto. Peça que busquem uma solução. Se não propuserem nada, sugira algo – “e se brincarem juntas?” – e veja se aceitam. A criança pode não querer emprestar a boneca e a decisão deve ser respeitada. Se for um brinquedo coletivo, diga que há duas pessoas para um e pergunte como resolveriam o problema.” Sugere a professora de psicologia Educacional da Unicamp, Telma Vinha em sua coluna voltada a orientação de professores na revista Nova Escola.
- Ajude seu filho(a) a identificar o que está sentindo: “Eu sei que você está bravo, isso é natural, mas…”, ou “eu sei que tem ciúmes, que quer o brinquedo pra você, isso é natural, mas…”
- Valorize os avanços. Quando, mesmo depois de uma birra, ele encontrar uma solução e ela for benéfica para todos os envolvidos diga algo como: “Eu vi que você ficou bravo, mas conversou em vez de bater. Que bom!” – Sugere Telma.
Essas atitudes te ajudarão a lidar com a situação e ajudarão seu(a) filho(a) a superar essa fase.
E você? Como tem se sentido em relação a isso?