Coluninha | Por Lílian Kuhn.
Uma das áreas de atuação da fonoaudiologia, que arrisco dizer até que é a menos conhecida, é a relacionada ao tratamento dos Distúrbios Alimentares. Poucos sabem, mas a alimentação adequada e o desenvolvimento de linguagem caminham paralelamente. Assim, uma criança que não tem uma alimentação balanceada – do ponto de vista de texturas dos alimentos – terá menor experiência e menos oportunidades de “exercitar” os músculos da boca e, dentre as consequências, terá flacidez muscular da região da face, alterações de fala e também de dentição.
A dificuldade alimentar é um dos maiores “perrengues” da infância para os pais. Estudos apontam que 50% das crianças em idade pré-escolar apresentam ou apresentaram sinais de dificuldade para se alimentar em algum(s) momento(s) da vida. Bem, ter preferência por um alimento ou outro é até aceitável, né? Mas devemos nos preocupar e buscar auxílio profissional para investigar a causa desse comportamento quando, por exemplo:
– O bebê consegue comer e até aceita determinado alimento, mas tem ânsias de vômitos;
– Com dois anos de idade, a criança só aceita ingerir líquidos e papinhas. E ainda: não come nada que tenha pedacinhos e/ou só come três seletos alimentos;
– O melhor amigo da escola, o tio mais querido ou o desenho favorito não são suficientes para convencê-lo a experimentar. Ou seja, o comportamento de “não comer” é igual em todos os ambientes (e não é “preguiça” ou “manha”);
– Ele passa a não querer frequentar (e os pais desistem até de ir!) a lugares porque a hora da alimentação é um caos. Nestes casos, acreditem, há uma interferência na socialização da criança devido à questão alimentar;
– Demonstra estar com fome (e devora o alimento preferido), mas não aceita (aguenta) provar os novos alimentos oferecidos;
Percebeu que, em todas as situações citadas acima, o “grau” da seletividade ou aversividade alimentar já é considerada extrema? Por isso, ela deve ser investigada por uma equipe formada por profissionais de diversas áreas da saúde, tais como médicos, nutricionistas, psicólogos, dentistas e fonoaudiólogos.
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É pouco provável que, nestes casos, o problema se desfaça sozinho e a bola de neve tende a crescer. Quanto mais se recusam a comer, mais tardia ficará a introdução dos alimentos sólidos, o que causará maior estranheza na boca e haverá reações desagradáveis e que culminará na recusa… E assim sucessivamente…
Desta forma, a dica mais importante é: procure auxílio profissional se você perceber que há dificuldades neste sentido! A possibilidade de atuação imediata diminuirá os impactos e as consequências (orgânicas, psicológicas e fonoaudiológicas) serão mínimas na vida da criança e de sua família.
Além disso, é importante lembrar que experimentar novos sabores e variar texturas é essencial para o desenvolvimento global das crianças. Deixem-os se lambuzarem com as frutas meladas e pegarem os legumes com as mãos! E bom apetite! 😉
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Lílian Kuhn é fonoaudióloga com especialização em Audiologia e Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Há dez anos atende crianças e adultos com distúrbios de linguagem.