Coluninha | Por Lizandra Magon de Almeida.
Ufa!
Duas semanas sem escrever, tudo por conta dos preparativos para a participação das autoras Marina Miyazaki Araujo e Liliane Oraggio na programação da Flipinha, a área dedicada às crianças da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip.
Foram cinco dias muito intensos, em que nos vimos rodeadas de crianças, pais e professores ávidos por conhecer melhor o mundo dos livros, as histórias e os autores, numa troca que nos deixou completamente preenchidas de alegria e insights.
Como diz o cantor e compositor mineiro Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Essa é a ideia por trás dos eventos, quaisquer que sejam seu mote: estar perto de quem gosta da mesma coisa que nós, para estreitar laços e conhecer melhor os gostos e desejos do público. E também, de uma certa forma, para que nosso trabalho solitário aqui do outro lado do computador seja legitimado e reconhecido, para que tenha a chance de chegar a quem percebe a importância daquilo que produzimos. Nesse sentido, a recompensa foi realmente enorme.
Esta foi a primeira vez que Marina, autora de dois dos nossos títulos mais difíceis, participou de um evento como esse. Diagnosticada disléxica já adulta, a autora de Dislexicando passou a vida inteira tentando se enquadrar nos modelos que a escola lhe impunha. Mesmo que escrevesse uma redação inteira cheia de boas ideias, com começo, meio e fim, o que importava eram apenas os erros ortográficos. E como trocava letras e às vezes até palavras, seus trabalhos eram sempre cobertos de cruzes vermelhas.
Ela contou sua experiência às crianças e adultos da Flipinha, na tenda-biblioteca que abrigou as rodas de conversas. Foi acolhida por muitos pais, se viu compreendida por um garoto disléxico que se aproximou para dizer que se identificava com o que ela disse, mas também conversou com professores preocupados com a dificuldade de lidar com crianças “diferentes” em salas de aulas cheias demais, com poucos recursos e muitas dificuldades pessoais e profissionais.
Liliane Oraggio, autora do Min e o tudo de novo, falou sobre perdas – tema de seu livro, em que conta como nós renascemos a cada novidade que acontece em nossa vida. Inclusive quando perdemos alguém querido: também nos tornamos outra pessoa, passamos a viver outra vida. De um jeito poético e profundo, seu trabalho é capaz de aproximar gerações, propondo perguntas que ajudam a desvendar quem somos a cada momento.
E junto a toda a emoção de conversar sobre esse assunto que tanto me encanta, tive ainda um prazer adicional: conheci a Elis, uma leitora assídua desta coluna, que passou em uma das rodas para me conhecer e para dizer que acompanha tudo que posto. Não é demais?
O trabalho do editor muitas vezes fica escondido por trás da beleza das letras e das imagens, é até difícil explicar qual é o nosso papel. E também não é o caso de estarmos sob os holofotes: nosso trabalho realmente é costurar os mundos, juntar linguagens diferentes para compor uma obra que seja capaz de engajar o leitor a ponto de que sua relação com o livro seja única e original.
Mas acho que vou deixar para falar mais sobre isso nos próximos textos. Se prepare, que a Flipinha me trouxe um monte de ideias.
Leia mais publicações de Lizandra Magon de Almeida em Conselhos que eu daria para a criança que fui.