Esses dias a mãe da Maya me contou que sua filha reconhece meus textos.
— Como assim? – perguntei, achando que não tinha entendido direito.
Ela explicou.
E, sim, era exatamente o que eu tinha entendido.
Sempre que Maya lê um livro meu, lá pelas tantas ela vira para a mãe, abre um sorriso espertinho que diz:
— Já sei quem escreveu isso!
Maya sempre acerta.
Detalhe um: Maya tem cinco anos de idade.
Detalhe dois: para cada livro, faço parceria com diferentes ilustradores. Isso significa que Maya, com seus preciosos cinco anos de idade, reconhece a autoria, não pelo visual, mas pela minha voz literária em si, independentemente da embalagem do texto. Isso, entre os livros de tantos outros autores que tem em sua casa.
Detalhe três: isso não acontece porque Maya leu o meu nome na capa do livro antes de começar a ler. Nessa idade, as crianças nem atinam para o nome do autor. Essa informação vem por último, se é que vem.
Isso me remete a uma outra experiência arrebatadora que tive com o que eu chamo de leitores-mirim. Foi na Bienal do Livro de Pernambuco, muitos anos atrás. Eu estava caminhando pelos corredores da feira quando uma professora me parou e disse:
— Índigo, todos aqui nessa turma são seus leitores.
Eu olhei para baixo.
Eles tinham meio-metro de altura. Primeiro, tive de me controlar para não rir. Na verdade, acabei rindo, incrédula. Para mim, parecia inimaginável que gente daquele tamanho “me lesse”.
Mas liam!
Uma das garotinhas pediu para me dar um abraço porque ela amava demais o Walter, de “Casal verde”. Com essa especificidade, não teve dúvida. Ali estava uma leitora.
Voltando à Maya, ela também me presenteou com outros desses momentos preciosos e raríssimos. Sem que ela visse, eu espiei justamente no momento em que estava lendo Leitor desconfiado, de minha autoria, para a sua irmã caçula, Melissa.
As duas riam de se descabelar. Quem visse, acharia que estavam brincando. Eu mesma, ao passar por elas, achei que era uma brincadeira. Mas daí observei melhor, e vi que estavam com meu livro na mão.
O livro, nesse momento, funcionando como um brinquedo que provoca gargalhada, na leitora de cinco anos e na leitora-coadjuvante, de três.
Admito: eu me senti como uma engenheira que desenvolveu um produto que funcionou. Tem uma satisfação quase mercadológica, de ver o livro atendendo a uma necessidade. É completamente diferente de escrever para adultos, que apreciam o livro. A escrita para crianças tem um efeito prático. Vira um objeto que será lido e relido, compartilhado, explorado, desvendado.
Graças a experiências assim, minha admiração pelos meus leitores-mirim só aumenta, quase que na mesma proporção em que eles diminuem de tamanho.
Cada vez que tenho de olhar para baixo, para reconhecer os meus leitores, meu espírito olha para cima, percebendo o tamanho da minha responsabilidade.
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