A maneira como uma criança lida com as diferenças é influenciada por vários fatores. O meio onde vive, a percepção de mundo que constroi dia a dia e, principalmente, a forma como os pais e a escola onde estuda abordam o assunto.
É importante lembrar que a convivência com as diferenças desde cedo, transforma as crianças em adultos mais tolerantes e empáticos. Agora, a tarefa de ensiná-las a lidar com estas diferenças é papel de quem? Dos pais ou da escola?
Aprendendo a viver com o diferente
Ana Maria se casou com o marido, Carlos, em 1992. Decidido em adotar, o casal logo se inscreveu num programa e viajaram para buscar os gêmeos Rafael e Renato. “Na época, não fiz exigência nenhuma. Até porque acredito que adotar um filho seja diferente de entrar num supermercado e escolher um produto na prateleira”, explica.
Logo que chegou em casa com os bebês, Ana percebeu algumas peculiaridades que só mais tarde viriam a se confirmar com o parecer médico: Rafael e Renato eram autistas. Antes mesmo do diagnóstico, o pediatra alertou a família sobre a primeira medida que deviam tomar: matriculá-los numa escola. Isso porque, segundo ele, a convivência com outras crianças poderia ajudar no desenvolvimento.
Estar na escola foi um dos pontos positivos na vida dos gêmeos que, por causa da condição, apresentavam dificuldades motoras e comportamentais. A exclusão social por parte dos colegas surgiu por volta dos nove, dez anos. “Eles começaram a perceber que não eram chamados para grupos de trabalho. Às vezes, acontecia alguma festinha de aniversário, e só ficávamos sabendo na segunda-feira seguinte. Ninguém os chamava na hora do recreio”, conta Ana. Ela ainda acrescenta que os filhos fizeram amizade com alunos da classe especial da escola. “Num final de ano, acabaram me dizendo que queriam estudar com eles. Não sabiam que eram alunos com algum tipo de deficiência, porque não tinham essa consciência”, relembra.
Alunos deficientes podem estudar em turmas regulares?
Alunos deficientes e com dificuldades de aprendizado podem, sim, estudar em escolas e turmas regulares. Exemplo disso é o trabalho desenvolvido na Escola Municipal Júlio Bonazzi, em Poços de Caldas (MG). Dos 400 alunos, 47 estão no programa de inclusão. “O que muda é a maneira como você vai trabalhar o conteúdo com esses alunos e o comportamento em sala de aula. É necessário, acima de tudo, se preocupar com aquela criança”, afirma a diretora Neusa Aparecida da Silva.
Há mais de 20 anos na área da educação, ela vê com bons olhos a convivência dos alunos com as crianças deficientes. “A inclusão vem para somar. Mudamos nossa postura, nossa maneira de ver as coisas. É um ganho muito grande para lidar com as diferenças”, pontua.
Família e escola de mãos dadas
Apesar do papel fundamental da escola nesse processo de inclusão, Ana Maria acredita que a educação que as crianças recebem em casa é essencial para desconstruir preconceitos e transformar a sociedade. “Primeiramente, é preciso que os pais conversem com os filhos, e expliquem que existem pessoas diferentes. Se educarmos as crianças, elas serão adultos muito melhores do que nós somos”, afirma.
Neusa defende a inclusão e permanência de alunos com deficiência, mesmo em escolas regulares e da rede pública. “Não tive essa oportunidade na minha geração, porque naquela época, as crianças não costumavam frequentar a escola. Mas vejo como algo positivo para todo aluno. Eles criam laços de companheirismo, de amizade. Além da parte de empatia. Se a sala está agitada, falando alto, alguém sempre lembra os colegas que tem um aluno autista, por exemplo, e todos ficam quietos”, finaliza.
Se ensinar crianças a lidar com as diferenças é tarefa dos pais ou da escola? Diria que é de ambos, uma construção diária e que deve ser moldada aos poucos, para partirmos rumo a um mundo melhor.
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