Conceitualmente, a culpa se refere à responsabilidade atribuída a si ou a outra pessoa pelas consequências de um ato que promova prejuízo de ordem moral, material ou espiritual. No âmbito subjetivo, o sentimento de culpa se manifesta como um sofrimento após avaliação negativa de um comportamento emitido. Em outras palavras, a pessoa confere a si mesma as implicações de determinada ação. Isso gera angústia e pode comprometer sua saúde mental.
Dentro da função materna não é diferente, a culpa existe. A experiência da culpa materna está diretamente associada à representação social e às expectativas direcionadas à figura da mãe. Normalmente, sendo representada por uma mulher protetora, forte, capaz de proteger e prover as condições de sobrevivência para sua cria.
Qual o peso dessa culpa?
Há uma crença cultural sobre o “amor de mãe”, que seria concebido como um amor incondicional, inato e instintivo. Isso, exige dessa mulher um preparo emocional e físico muitas vezes distante da realidade diariamente vivenciada. Soma-se a isso as responsabilidades atribuídas ao “ser feminino” pela sociedade. Como por exemplo, o cuidado, a educação e a organização do lar.
Historicamente construiu-se um ideal materno pautado na ideia da perfeição, em que predomina única e tão somente os acertos. Não há espaço para a aprendizagem a partir da rotina diária e das singularidades presentes na relação.
As imposições geram frustrações
Quando olhamos por esse prisma, desconsideramos o que há de mais precioso na condição humana. Perdemos a característica individual e única de cada Ser existente. Perdemos o prazer e a beleza do “vir-a-ser” substituído pelo “como-deve-ser”. Tratamos aqui da invisibilidade daquilo que nos faz únicos, para sermos moldados e definidos aos padrões pré-estabelecidos. A maternidade, então, acaba contemplando um lugar inalcançável que gera frustrações cotidianas e constantes.
A relação mãe-bebê
Lembremos que, em uma relação materna há sempre dois, a mãe e o bebê. Cada qual é dotado de características particulares. Elas conferem aos dois a subjetividade e a maneira de viver as primeiras experiências dessa relação, cada qual ao seu modo.
A empatia é fundamental durante a maternidade
Durante a gestação, é fundamental e saudável que a mulher seja convidada a entrar em contato com as suas expectativas frente aos temas relacionados à maternidade. Também deve ser com seus desejos e medos para que possa desconstruir essa figura idealizada e se aproprie de sua maternagem, que irá de fato se concretizar com o nascimento. Esse movimento exige compreensão, empatia e respeito dos demais envolvidos nesse processo.
A mulher ocupa de modo consciente o lugar de protagonista em sua própria história. Por isso, ela tem melhores condições de assumir e reconhecer suas possibilidades, atitudes e suas faltas. Assim, é possível compreender o que realmente lhe cabe e lhe pertence. Desse modo, as frustrações e culpas podem ser acolhidas, elaboradas e ressignificadas.
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