Morar em um país diferente, com uma cultura que foge do que já estamos habituados já é um grande desafio para adultos. Imagine então para uma criança!
É por isso que vim trazer para vocês um pouquinho da minha experiência como uma criança brasileira que morou nos Estados Unidos.
10 coisas que entendi sendo criança brasileira e morando nos EUA
1. A linguagem é um par de patins que você encontra no porão. Você os calça. Por uma questão de sorte, pura sorte, seus pés cabem. Quanto antes você pegar o jeito, melhor. Você vai cair, vai tropeçar, mas sempre levanta e continua. O resultado compensa os joelhos ralados. A linguagem é o melhor jeito de fazer amizades.
2. Mas se você for adulto, em vez de patins a sua linguagem será um automóvel e você precisará de um monte de habilidades sofisticadas. Você terá de fazer aulas, estudar, se inscrever, se cadastrar, passar na prova, e aí, sim, talvez, você consiga obter seu meio de transporte. Para adultos, linguagem é um meio de transporte.
3. A linguagem que vale é a daqui. A linguagem dos seus pais é a de lá. Se eles falam de lá, você responde no daqui. Você pode pular de lá para cá e de cá para lá, mas sabe que precisa estar sempre aqui.
4. É esquisito demais quando seus pais usam a linguagem daqui. Soa engraçado. Você não consegue levá-los a sério. Parece que eles não são mais seus pais.
5. Você nunca, jamais, vai conseguir usar a linguagem de lá para conversar com seus irmãos e irmãs. Quando tenta, vira uma brincadeira maluca que gera crises histéricas de riso. Para brincar é divertido. Mas é o tipo de brincadeira que ninguém mais entende.
6. O sotaque da vovó, falando a linguagem daqui, é a coisa mais bizarra e bonita que você já viu. Dá tanta vontade de ajudar, ao mesmo tempo que você sabe que não vai adiantar nada. Ela está fazendo o seu melhor. Você se emociona vendo como ela se esforça. Você sente vontade de lhe dar um abraço e uma estrelinha de parabéns.
7. Frases que começam com a linguagem de lá podem terminar com a de cá ou vice-versa, e tudo bem. Todo mundo vai entender. Querer ficar sempre no mesmo idioma é uma caretice. Misturar é muito mais legal e prático.
8. Livros vindos de lá são o melhor jeito de viajar de volta. Eles têm um gostinho especial que você jamais vai conseguir compartilhar com seus amigos de cá. Mas isso não é um problema porque, quando você lê um livro de lá, você até se esquece dos seus amigos de cá.
9. Algumas palavras viram códigos secretos que você só usa com a sua família. É bom ter essa linguagem particular. Vocês ficam mais unidos. Vocês têm uma muralha que pode ser erguida sempre que precisarem.
10. E quando acontece de, por acaso, você estar na rua e encontrar estranhos usando a linguagem de lá, você vai sentir um quentinho no coração. Você vai olhar para eles com toda a atenção do mundo. Vai entender que ali tem um mundo que é seu também. Talvez você tenha coragem de se aproximar, talvez não, mas de alguma maneira eles vão te tocar.
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