Porque não devemos falar palavrão na frente dos filhos

As crianças reproduzem muito do que escutam, sendo um dos motivos dos quais  devemos não falar palavrão na frente das crianças. Abaixo, relato minha experiência pessoal. 

Um bilhete da professora…

Quando meu filho tinha três anos de idade eu recebi um bilhete gigante da escola dele. Na verdade não era um bilhete. Era uma carta do tamanho de uma folha A4 que veio dobrada dentro da agenda. Lembro como se fosse hoje a cara de assustado que ele fez quando chegamos em casa e eu peguei a agenda para olhar. Vi a carta e então, sentei e comecei a ler. Enquanto isso, ele assistia televisão no sofá. Terminei de ler, olhei para ele e iniciei o seguinte diálogo: 

Eu: “Rafa, desliga um pouquinho a televisão para conversar com a mamãe.”

Rafa: “Tá bem.” 

Ele sabia que era importante e desligou sem questionar, o que não costumava ser norma.

Eu: “A professora enviou um bilhete falando que você chamou o colega de filho da…. na escola hoje. Quer me contar o que aconteceu?”

Rafa: “Eu não falei nada mamãe.”

Eu: “Entendi que você está com medo que a mamãe brigue com você. A professora brigou com você e agora você está assustado porque acha que a mamãe vai fazer o mesmo, é isso?”

O Rafa ficou em silêncio, apenas sacudindo a cabeça afirmativamente, olhando para baixo.

Eu: “Você entendeu porque a professora ficou brava com você? Essa palavra que você usou para chamar o colega é muito feia. Nós não a falamos aqui em casa porque ela não é respeitosa. Você já ouviu alguém falar essa expressão?”

Rafa: “A vovó fala…”

Eu: “Entendi. Às vezes a vovó fica brava e fala mesmo, mas ainda assim, ela não é respeitosa e por isso não devemos falar, está certo?

Rafa: “É palavrão?”

Eu: “Sim, é um palavrão.”

Rafa: “Não posso falar nenhum palavrão?”

Eu: “Não é legal filho.”

Assim, encerramos o nosso diálogo naquele dia. O bilhete da professora dizia que havia conversado com o Rafa. Também dizia que a mãe e o pai iriam explicar para ele a origem do palavrão que ele usou. Fiquei pensando sobre isso. Não vi sentido em explicar a origem de uma palavra agressiva para uma criança tão pequena. Que no caso estava simplesmente reproduzindo algo que ouviu. Porque é isso que as crianças fazem, reproduzem aquilo que ouvem e veem. 

Precisamos prestar muita atenção no que dizemos.

Quando atuamos como educadores precisamos prestar muito mais atenção no que fazemos do que naquilo que dizemos. Pois é para isso que as crianças olham. Se digo a elas que falar palavrão é feio e sigo falando é incoerente. Veja bem, crianças não precisam de pais perfeitos. Mas sim de pais que expressem coerência entre aquilo que falam e fazem.

Alguns momentos servem para nos acordar…

Meu filho sempre foi, desde bem pequeno, aos jogos de futebol do time que ele e o pai torcem. Cresceu acostumado a ficar no estádio mais de noventa minutos assistindo os jogadores se movimentarem pelo campo. Em um desses jogos que ele foi com o pai, voltou com a seguinte indagação: “mamãe, por que falar palavrão é feio se a torcida fala?”. Nesse momento, algo despertou dentro de mim. 

Nem todo palavrão é ruim. Muitas vezes, pode ser até libertador. Quantas vezes você sentiu um alívio só com o fato de falar algo sozinha ou jogar palavras ao vento sobre uma situação que você viveu ou sobre alguma injustiça que presenciou? Fiquei pensando nisso. Achei que o questionamento do meu filho fazia sentido.

Uma solução para a situação!

Para resolver essa situação, fizemos o seguinte acordo: em determinados lugares podíamos falar alguns palavrões, desde que não desrespeitasse nenhuma pessoa diretamente. Se falássemos algo que magoasse outra pessoa, deveríamos nos retratar e não repetir. Os lugares acordados foram: dentro de casa e nos estádios de futebol. Apenas alguns palavrões foram liberados, aqueles não se referiam diretamente a alguém, como por exemplo, “putz”.

Foi uma solução eficaz!

Desse dia em diante, Rafael não reproduziu mais nenhum palavrão na escola. Algumas vezes, quando estamos em casa, ele me pergunta se tal palavra é palavrão. Se for, pergunta se podemos incluí-la na nossa lista de palavras que podem ser ditas em casa. Ele tinha 3 anos quando fizemos esse combinado. Hoje tem 5 e a combinação segue ativa.

Por que funciona? Acredito que pelo fato de ter trazido para ele coerência. Por ter explicado que em alguns lugares podemos fazer algumas coisas e em outros não. As crianças entendem e colaboram com aquilo que faz sentido para elas. 

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