Você já se perguntou qual a relação entre a literatura infantil e o meio ambiente? 🤔
Ou melhor, reformulando: como a literatura infantil se posiciona diante da crise ambiental? Qual o papel da arte frente à emergência climática que estamos presenciando?
Estas foram algumas perguntas que me fiz há dois anos, e que desde então me acompanham como pesquisadora, jornalista e mãe. Vivemos um momento que demanda uma reavaliação profunda de nossas relações com a natureza. No entanto, isso não deve ser apresentado apenas como um cenário de destruição. Afinal, devemos às crianças o direito de poder sonhar com um mundo melhor que o de hoje, cuidando do letramento de futuros e oferecendo a elas a possibilidade de imaginar.
Vem comigo nessa reflexão!
A literatura infantil e o meio ambiente 📖🌱
A literatura oferece às crianças a oportunidade de ampliar sua imaginação e de se perceberem como seres criativos, incentivando-as a descobrir, sem receio, seus próprios caminhos. Diante do cenário atual, o futuro que se desenha para as próximas gerações não é nada favorável. Por isso, é fundamental buscar ideias e práticas que possibilitem a construção de um mundo sustentável.
Nesse contexto, a literatura surge como uma poderosa ferramenta, atuando como uma grande parceira, capaz de nos mostrar outras formas mais generosas de co-habitarmos o planeta com todos os outros seres – sejam eles humanos, não-humanos, plantas, pedras, rios. Inclusive, você sabia que existe um movimento mundial no qual ativistas estão buscando proteger os rios, dando a eles personalidade jurídica? Interessante, não é?
Um convite ao olhar ecológico
Você já ouviu falar no termo “ecocrítica”? Ele se refere a um campo de estudos estabelecido nos anos 1990, e que aborda a literatura sob um olhar ecológico. Essa importante corrente literária propõe algo que vai muito além da análise da representação da natureza em textos e imagens. Os pesquisadores dessa área defendem que ela promove uma conexão, e que por isso desperta uma maior sensibilidade em relação às questões ecológicas que afetam o planeta. É a partir deste ponto que pretendo abrir uma conversa, aqui neste texto.
Pensar nos livros como uma experiência indireta com a natureza é uma forma de refletir sobre a nossa sociedade e as questões contemporâneas, nos aproximando de diferentes cosmovisões e de diversas infâncias nos modos de viver, saber, narrar e brincar. A infância traz a potência de invenção, de sonho, de descaminho e de poéticos exercícios de existência. E ao unirmos isso à imaginação, elemento central na literatura para a infância, cultivando a curiosidade natural das crianças através da beleza e da alteridade, estamos falando sobre o “futuro ancestral” que nos foi apresentado por Ailton Krenak.
Diferente do aparato educativo de moldar a criança desde os primeiros anos e com isso produzir um futuro único que nem sabemos se irá existir, como diz Krenak, deveríamos recepcionar a inventividade que chega através das crianças, portadoras de boas novas e abertas ao sonhar e imaginar, de onde emerge uma criatividade em inventar novos mundos. É essa cartografia a partir das experiências e subjetividades, segundo Krenak, que nos fornece uma espécie de mapa para a vida adulta, ampliando repertórios e caminhos, entendendo que a vida não é uma história única.
“Natureza. Uma palavra muito grande, que envolve tudo que existe ao redor.
É o grande cenário da vida – o que herdamos e o que já existia, mesmo sem
a ação humana. É onde começa e termina a vida.
Mas o que ela representa? Onde principia?
Como a paisagem espelha e reflete nosso olhar,
nosso sentir, nosso pensar?”
(Katia Canton)
Nessas obras artísticas para a infância, onde os elementos e seres da natureza são agentes, as crianças são convidadas a uma atitude de contemplação e reflexão, o que gera transformação, como nos faz lembrar a professora Vima Lia de Rossi Martin em um artigo da Revista Mulemba que discute o potencial humanizador da literatura a partir da questão dos valores envolvidos no ato de ler: “Os deslocamentos de perspectiva e a tomada de (novas) posições são possibilidades abertas pela leitura do texto literário – uma experiência estética que, pautada pela pluralidade de sentidos, desvela os mecanismos de alienação e dominação social e pode contribuir para a ampliação da autoconsciência e da consciência crítica dos leitores.”
Livros infantis que abordam consciência ambiental
É sabido que as crianças visitam a natureza pelas páginas, mas como elas vivem a natureza através dos livros? De que forma criam conexões poéticas com a natureza? É importante considerar que estamos sempre interpretando o meio ambiente de algum modo, sempre nos utilizando de alguma linguagem que faça tornar acessível o entendimento do mundo natural, já que o registro da natureza envolve uma dada percepção, pois o olhar para o ambiente natural está atrelado ao contexto histórico que se situa a paisagem representada.
Por isso, termino esta conversa, que não acaba aqui, recomendando a leitura de quatro títulos temáticos publicados pela Leiturinha. São eles:
Chapeuzinho verde, escrito por Maria Lucia Takua Peres, indígena da etnia Avá-Guarani, e ilustrado por Yacunã Tuxá, indígena do povo Tuxá.
Fogo, gente! e Chuva, gente!, ambos escritos por Cristino Wapichana (nascido em Boa Vista, Roraima, descendente do povo Wapichana) e ilustrados pela artista Graça Lima.
Os quatro amigos: uma história animal, escrito por Marie Ange Bordas e ilustrado por Veridiana Scarpelli
Topa ler algum deles e continuar o papo no meu perfil no Instagram?
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