Empatia, generosidade e altruísmo estão entre as habilidades mais admiráveis dos seres humanos. Não é para menos, quanto mais elas estão presentes, melhor é o convívio em sociedade. No entanto, dispor dessas habilidades não é uma façanha assim tão simples. É preciso treino, estudo e tempo. Porém, não sei se por ironia do destino ou ilusão da nossa sociedade, pouco depois de nascer, esperamos que as crianças apresentem as habilidades citadas acima. Não só esperamos, como repreendemos com vigor qualquer manifestação do chamado egocentrismo na infância.
O tal egocentrismo na infância…
Certa vez, alguém ouviu falar que um certo autor escreveu que crianças são egocêntricas. Pronto. Estava aí a prova de que crianças não sabem conviver em grupo. Então travamos uma batalha com o ser criança no mundo. Primeiro explicamos a importância de dividir, depois obrigamos que compartilhamentos aconteçam e por aí vai.
Só esqueceram de nós avisar que estamos brigando com moinhos de vento, pois a luta travada com o tal egocentrismo na infância é uma luta contra as próprias fases do desenvolvimento. É uma luta contrária ao ritmo da natureza, que carrega mais ansiedades dos adultos do que as realidades das crianças.
Mas afinal, o que isso quer dizer?
Para o universo adulto, a palavra egocentrismo vem acompanhada de uma carga negativa.
Justamente por essa carga, de cunho moral, Piaget, um dos principais pesquisadores do tema, reconheceu que a palavra egocentrismo não foi o termo mais adequado para descrever o fenômeno a que ele se referia.
Em linhas gerais, para Piaget, “o egocentrismo infantil é, em sua essência, uma indiferenciação entre o eu e o meio social”. Daí a incapacidade de descentração e a dificuldade em perceber diversos pontos de vista. Sendo assim, o conceito se refere a um fenômeno do desenvolvimento que, para o psicólogo, será vivenciado por todas as crianças.
O que eu faço se meu filho se tornar um adulto egocêntrico?
No auge dos seus três anos de idade um pequeno se recusa a dividir seu brinquedo. Não só se recusa como fica extremamente irritado quando alguém insiste. Vendo essa cena, logo a seguinte frase vem a cabeça: “se eu não corrigir agora ele se tornará um adulto egocêntrico”. Assim, por medo de estarmos nos ausentando na educação dos pequenos, acabamos obrigando a divisão e nos estendendo em explicações que ainda não fazem sentido para essa etapa. Pois bem, perceba que essa atitude está mais relacionada a uma ansiedade do adulto em educar e a um medo que a criança se torne egoísta, do que à situação em si.
O medo é legítimo!
O medo é legítimo! A educação humana dos pequenos é uma das nossas principais preocupações. No entanto, esse medo pode provocar atitudes enérgicas que no momento pouco contribui com o desenvolvimento dos pequenos. Se a nossa preocupação real é com a formação humana das crianças, primeiro precisamos olhar para o presente. O que está realmente acontecendo? O que meu filho está preparado para fazer e entender agora?
Se naquele momento, como por exemplo aos três anos, a criança demonstrar uma dificuldade em perceber outros pontos de vista, lembre-se: faz apenas três anos que ela chegou nesse mundo. Os comportamentos que agora ela demonstra estão relacionados à sua estrutura biológica e cognitiva. De maneira alguma, significa que ela se comportará dessa forma na vida adulta. Até a maturidade chegar ela terá tempo para aprender muitas coisas, como o compartilhamento e a empatia. Quando ela estiver preparada para aprender você será o principal facilitador desse processo.
Até lá, uma dica importante é ter curiosidade e interesse sobre o desenvolvimento infantil. Não que você precise estudar o tema horas a fio. Mas uma leitura atenta de vez em quando, um papo com um especialista, um bom documentário, são fundamentais. Essas informações acalentam e empoderam corações ansiosos!
Isto é meu: um livro para refletir sobre as fases do desenvolvimento
Para conversar um pouquinho sobre esse tema cercado por ansiedades e incertezas, a Equipe de Curadoria da Leiturinha selecionou um livro muito especial: Isto é Meu.
Publicado pela Companhia das Letrinhas, a obra é uma produção de Blandina Franco e José Carlos Lollo. No livro, os leitores acompanham a relação de uma menina com o seu urso de pelúcia. Por meio da combinação entre Ilustrações e texto, o leitor é sensibilizado sobre a intensidade característica do sentimento de centração.
Qual a história do livro?
Na história, a menina depois de uma forte resistência, que vai sendo diluída a cada passagem de página, compartilha a sua querida pelúcia. O livro faz uma comparação sutil com os próprios estados do desenvolvimento. No começo a centração é mais intensa, então a resistência da personagem também é mais categórica. Com o desenvolvimento, que no livro é o virar das páginas, a tendência é que os pequenos comecem a perceber o mundo por outros pontos de vista, como acontece no livro.
Aqui vai um alerta ao leitor. No contato com a história tenha em mente que a atitude da personagem de compartilhar não aconteceu tão rápido como a nossa leitura. Por esse motivo, cuidado com as expectativas! O tempo do livro, assim como o tempo da vida, nem sempre se condiciona ao tempo do relógio.
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