A gente não vive só. Para escrever esse texto eu precisei de alguém para planejar e construir o meu notebook, a internet, as letras, a energia elétrica, a cadeira, a mesa e a até a minha casa. Precisei também de alguém que plantasse a minha comida e garantisse água potável. Ah e é claro, precisei do carinho e segurança da minha família para que eu me tornasse uma adulta saudável e confiante. Essas são só algumas das pessoas de quem eu dependo para tocar a minha vida. Inclusive você leitor, se não estivesse lendo esse texto, provavelmente eu teria que procurar outra profissão (obrigada por estar aqui!).
Pois bem, eu te disse tudo isso só para dizer que não dá para viver só e totalmente independente. Muito antes de colocar o pé nesse mundo a nossa vida já está conectada a uma série de pessoas. Porém, embora o convívio humano seja a base da nossa existência, é ao mesmo tempo motivo de muito desencontro e tristeza. Mas por que será que é tão difícil conviver com o outro?
Porque é tão difícil conviver com o outro?
O filósofo francês Sartre já dizia: “O inferno são os outros.” A princípio pode parecer uma frase exagerada ou até descontextualizada. Mas se olhar no detalhe dos sofrimentos mais comuns do ser humano sempre existirá uma outra pessoa. Às vezes um marido ou uma esposa, um gerente, um pai, um vizinho… Enfim, a sensação é de que a maioria dos nossos sofrimentos existe por causa do outro. E se não existisse meu chefe para me cobrar essa tarefa? Ou se o Estado não cobrasse tantas multas? Sem essas pessoas ou instituições muitas pessoas diriam que seriam mais felizes.
Realmente uma vida compartilhada gera incômodo, afinal é o encontro entre mundos diferentes. Quanto a isso não há nada o que fazer, pois enquanto existir vida existirão diferenças. A grande questão é como a gente experimenta o encontro com o diferente e como interpreta as divergências que brotam dessa experiência.
A beleza de uma vida compartilhada
Nascemos em uma cultura que nos ensina a procurar defeitos no outro. São raros as situações em que a gente se inclina para olhar o próprio umbigo. Por isso, não é de se espantar a dificuldade de manter relacionamentos significativos. Mas isso não é o fim. Existem maneiras de repensar o convívio humano e uma delas é valorização da presença e especialmente das belezas de uma vida compartilhada.
Apesar de tudo: uma história de encontros e desencontros
“A vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida”
– Vinícius de Moraes
Escrito e ilustrado por Dipacho, autor colombiano, o livro “Apesar de tudo” é um verdadeiro manifesto em favor de uma vida compartilhada. Não se engane: o livro não apresenta uma visão cor de rosa dos relacionamentos. Muito pelo contrário, a sinceridade é um traço marcante na obra do escritor. Está aí uma das belezas do livro: falar de algo bonito sem esquecer ou diminuir as dificuldades do caminho.
A história começa com o encontro de dois pinguins e termina, apesar de todos os desafios, com os dois pinguins juntos na mesma página. Para contar a história, Dipacho optou pela economia de palavras e ilustrações: o que faz do livro ainda mais impactante para o leitor. Diria que Dipacho está entre os raros escritores que com poucas palavras deixam impactos gigantes no leitor. Além do fio que costura a história, o escritor também apresenta sutilmente uma temática ambiental: o aquecimento global. Para perceber isso é só observar as cores e a espécie de pinguim representada.
Enfim, esse é um livro para ler, reler, ler de novo, dar de presente, ler de manhã, à noite e até de madrugada. É um livro que prepara os pequenos para os desafios de uma vida compartilhada e que lembra aos adultos as belezas de não estar só.
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