O termo maternidade atípica reflete mães cujos os filhos são pessoas com deficiência e que, por este motivo, precisam atuar de maneira mais ativa no desenvolvimento de seus pequenos.
Quando eu estava grávida obviamente já sabia que, se tudo desse certo, em alguns meses me tornaria mãe. E que a minha filha tinha a trissomia do cromossomo 21, ou T21 (ainda conhecida como síndrome de Down) – mas nem imaginava que teria uma maternidade atípica. Claro que toda maternidade é singular, e que cada mãe tem seus desafios diários e infinitos, independentemente das características do filho que tem – ou justamente por conta delas.
Mãe é mãe. Por que mãe atípica?
Além de toda a carga da maternidade por si só, a mãe atípica tem ainda que enfrentar as filas da assistência social, conciliar a sua rotina em casa e/ou no trabalho com as múltiplas terapias para o desenvolvimento do filho, “morar” no hospital por um ou algum período da vida por conta das intervenções cirúrgicas do filho, processar o plano de saúde para garantir o direito ao tratamento, se aproximar de entidades, vereadores e deputados na luta por direitos e inclusão. Enfim, a lista é infinita. É importante lembrar que a jornada da mãe atípica não é para levar o filho ao ballet ou inglês. Pode incluir isso também, mas via de regra, falamos especialmente de “maternidade atípica” como o esforço para garantir condições de vida, independência e acessibilidade que aproximem seus filhos das pessoas consideradas típicas.
O termo “maternidade atípica” surgiu para dar visibilidade a luta das mães de pessoas com deficiência; dar visibilidade a nós. Eu, como mãe atípica, vivo cotidianamente uma realidade que é muito parecida com a de todas as mães, mas assim como nós mulheres temos a famosa “dupla jornada”, a mãe atípica enfrenta jornada dupla dentro da maternidade.
Mas porque foi escolhida a palavra “atípica” exatamente?!
Assim como termo “pessoa com deficiência” veio substituir a expressão “pessoa com necessidades especiais” ou “portadores de deficiência” (já ultrapassados), o termo “atípico” surgiu na tentativa de trazer a sociedade para reflexão sobre quem são essas pessoas. Você que é pai/mãe/responsável por uma criança leitora certamente corresponde a uma parcela muito pequena da sociedade que está sempre preocupada em adquirir conhecimento e fazer com que nossos pequenos também cresçam com uma cultura mais amadurecida do que as gerações anteriores. É bem provável que já tenha escutado este termo antes. O mundo muda, e é inevitável que com isso novas ideias, novos olhares e novas abordagens de sociedade venham com isso.
Se você for pesquisar no dicionário, vai encontrar lá que típico e atípico podem corresponder a normal e anormal. Então por que este termo? Além da definição de “normalidade” ser muito subjetiva, a expressão vem justamente trabalhar com a ideia de “incomum”, ou “menos frequente”. Quando eu uso a expressão “pessoas normais”, estou categorizando as pessoas com deficiência como anormais ou diferentes, o que impõe ainda mais barreiras para a inclusão. Dizer que você é normal, reforça uma visão de normalidade restritiva e discriminatória. Promover uma linguagem inclusiva na família, no seu círculo social e em todos os espaços é mais uma das lutas das mães atípicas – mas não precisava. Por isso eu chamo você, que me lê agora, para tornar-se atuante no esforço de educar seus pequenos a promover um mundo mais inclusivo, mais amoroso e plural.