Burnout materno de mães atípicas

Burnout materno em mães de crianças atípicas: causas, sinais e como ajudar

Há um fenômeno conhecido como mommy burnout – ou burnout materno – que tem ganhado cada vez mais visibilidade. No entanto, ele ainda é pouco discutido quando falamos de mães atípicas — as mães de crianças com deficiência. O esgotamento físico, mental e emocional enfrentado por essas mulheres, apontam estudos, equivale ao de um soldado de guerra. Esse estado, também chamado de burnout materno de mães atípicas, é resultado de uma sobrecarga (mental e física) intensa e contínua, que merece acolhimento e compreensão.

Neste artigo, você vai entender por que a carga materna da mãe atípica é tão extenuante e o que podemos fazer, enquanto sociedade, para apoiá-las.

O que é o burnout materno?

O termo burnout materno, ou mommy burnout, descreve o estado de exaustão profunda vivenciado por mães devido às demandas constantes e, muitas vezes, desgastantes da maternidade. No caso das mães atípicas, o fenômeno é ainda mais intenso devido às particularidades do cuidado diário de seus filhos.

Os sinais de burnout materno incluem: fadiga extrema, sentimentos de fracasso, irritabilidade, insônia e, em casos mais graves, sintomas físicos como dores de cabeça e problemas gastrointestinais.

Essas manifestações não surgem de uma só vez. Pelo contrário, elas se acumulam ao longo do tempo — especialmente quando a mãe sente que precisa (e, muitas vezes, realmente precisa) dar conta de tudo sozinha.

Impactos do burnout materno

O burnout não afeta somente a saúde física e emocional das mães. Além disso, ele prejudica suas relações familiares e sociais. Essa exaustão impede que a pessoa tenha clareza no pensar e agir, tornando tarefas que já são árduas ainda mais desafiadoras.

Em geral, mães atípicas já se sentem isoladas por terem menos trocas sobre os cuidados maternos do que mães típicas. Como resultado, muitas se culpam por estarem exaustas e se veem pressionadas a manter a rotina, mesmo quando o cansaço se torna insuportável.

Afinal de contas, a responsabilidade sobre o desenvolvimento dos filhos quase sempre recai sobre seus ombros. Em uma sociedade que atribui à mulher o papel central nos cuidados familiares, é compreensível que tantas mães se sintam sobrecarregadas.

Reconhecer que esse esgotamento é real e legítimo é o primeiro passo para buscar acolhimento.

Não é à toa que, em 2025, o tema escolhido pelas associações de familiares com síndrome de Down é “Seja Rede de Apoio”. Ter com quem contar nos momentos de maior vulnerabilidade e poder dividir tarefas é essencial para a sobrevivência emocional da mãe atípica.

Créditos: Federação Down – FBASD/Facebook

Por que as mães atípicas são mais vulneráveis?

Cuidar de uma criança com deficiência, transtornos do neurodesenvolvimento, condições crônicas ou outras necessidades específicas exige um esforço emocional e físico significativo.

Mesmo para famílias com mais recursos, o peso financeiro do cuidado é uma preocupação constante. A agenda costuma ser preenchida por terapias, tratamentos, consultas, internações e procedimentos que, em muitos casos, impedem a mulher de ter vida para além dos cuidados com o filho.

Além disso, a ausência da mãe atípica no mercado de trabalho reduz os recursos para bancar o desenvolvimento da criança — o que gera ainda mais estresse.

De acordo com a pesquisadora e e fundadora da Rede Mães Atípicas Patrícia Salvatori, em seu estudo “Trabalhos além da maternidade atípica: mapeamento sobre empreendedorismo e mídias digitais”, 70% das mulheres que se tornam mães atípicas deixam o mercado de trabalho ou precisam fazer grandes mudanças profissionais para adequar a geração de renda à nova realidade.

Em outro estudo, publicado em 2025 e intitulado “Do cuidado à autonomia”, Salvatori relata que 86% dos cuidados com a pessoa com deficiência são assumidos pela mãe.

Além da ausência paterna em muitos casos, essas mães ainda enfrentam julgamentos, preconceitos e a falta de uma rede de apoio real. A sobrecarga burocrática, somada à busca constante por recursos e tratamentos, intensifica o burnout materno de mães atípicas.

A importância da rede de apoio

Ter uma rede de apoio sólida faz toda a diferença na vida dessas mães.

Mas, afinal, quem pode ser rede de apoio? Ainda há certa confusão em torno do termo. A resposta é simples: qualquer pessoa genuinamente disposta a ajudar pode fazer parte dessa rede.

Além dos profissionais pagos (como terapeutas, enfermeiros e professores), amigos, familiares e vizinhos podem colaborar no cuidado cotidiano. No entanto, é importante lembrar: esse apoio precisa ser comprometido e respeitoso. A mãe precisa se sentir segura para se ausentar em alguns momentos e cuidar de si sem culpa.

Quando alguém aceita — ainda que de forma implícita — fazer parte dessa rede, é fundamental entender que a função é de amparo, não de julgamento ou palpite.

👉🏼 Leia mais: Rede de apoio na criação de crianças com deficiência

Rotinas de autocuidado

O crescente interesse pela economia do cuidado tem evidenciado a urgência de olharmos para as mulheres cuidadoras não apenas do ponto de vista financeiro, mas também do ponto de vista emocional.

Para que seja possível evitar o burnout materno de mães atípicas, a autopreservação precisa ser prioridade.

Como nos ensinam nas instruções de voo: é preciso colocar a máscara em si antes de ajudar o outro. E vale lembrar que autocuidado não se resume a beleza, estética ou momentos de spa.

Veja, a seguir, 5 atitudes práticas para cultivar o autocuidado:

  1. Reservar um tempo para si mesma: mesmo que por alguns minutos ao dia, dedicar-se a algo prazeroso pode trazer alívio.
  2. Aceitar ajuda: permitir que outras pessoas cuidem da criança em certos momentos alivia o peso da responsabilidade.
  3. Cuidar da saúde mental: participar de grupos de apoio, fazer terapia e compartilhar vivências ajudam a ressignificar a jornada.
  4. Reorganizar prioridades: nem tudo precisa ser feito de uma só vez. Priorizar e delegar traz mais leveza.
  5. Manter hábitos saudáveis: alimentação equilibrada e movimento diário são fundamentais para manter energia e bem-estar.

Falar sobre o mommy burnout com sinceridade é um ato de coragem. Mais ainda, acolher o burnout materno de mães atípicas, validar seus sentimentos e criar espaços de escuta e suporte é fundamental para construir uma maternidade mais humana e menos solitária.

Que possamos entender de uma vez por todas: autocuidado não é luxo. É condição básica para seguir cuidando com afeto e qualidade.

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