Incentivar a autonomia e o protagonismo das crianças com deficiência é uma tarefa de toda a sociedade (não somente dos pais, responsáveis e professores desta criança). Portanto, seja você responsável por outra criança com deficiência, ou alguém que convive com crianças PCDs, saiba que o seu papel em incentivar crianças com deficiência a se desenvolverem é importante e significativo nesse processo de acolhimento e despertar das potencialidades desta criança.
Lá nos anos 80/90, não costumávamos ver crianças com deficiência como convidados em festas e eventos – muito menos para a festa do pijama. Para podermos construir a sociedade que queremos para nossos filhos, precisamos desde cedo convocar a pessoa com deficiência para fazer parte desta conversa. Por isso, hoje aqui a primeira sugestão é: converse com a criança, converse com a família. Entenda de que maneiras esta criança pode ser incluída com segurança e conforto.
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Neste artigo, vamos conhecer algumas estratégias que podem impulsionar o desenvolvimento e protagonismo da criança com deficiência.
Como incentivar crianças com deficiência a se desenvolverem?
Acredite nas suas capacidades
Uma palavra já bem conhecida das pessoas que convivem com as deficiências, o capacitismo é, entre outras coisas, o ato de você julgar incompetência antes de se certificar se aquela pessoa é capaz ou não de determinada coisa. Trocando em miúdos, quando a gente presume que a criança “não vai dar conta” de determinada tarefa, estamos sendo capacitistas. Enfrentar o capacitismo que habita o nosso íntimo é a primeira arma para criar crianças independentes. Independentemente das suas condição, as crianças baseiam as suas crenças pessoais em cima do que os adultos colocam em pauta. Por isso, incentivar a atuação da criança, acompanhar de perto seu desempenho e ajudá-la a melhorar o que está tentando fazer com resiliência é um grande passo. É igualmente importante comemorar as pequenas conquistas da criança, para que ela perceba o valor de suas realizações e esforço.
Proporcione experiências de escolha
Permitir que a criança tome pequenas decisões faz com que ela exercite o poder de escolher, estimulando seu raciocínio crítico e lógico. Fazer escolhas nos dá a oportunidade de entender que escolhas tem consequências e que é preciso refletir sobre isso. Com relação a crianças, podemos começar com pequenas decisões, como usar saia longa ou calça pra brincar no parquinho. Será que a saia longa é uma boa escolha? Poderei brincar confortavelmente em todos os brinquedos? Escolhas simples ajudam os pequenos a se preparar para decisões maiores com o passar do tempo e no ritmo do aprendizado de cada um. Com uma criança de 07 anos, por exemplo, talvez eu já trabalhe a ideia de que quando eu começo a jogar um jogo de tabuleiro, tenho que considerar o tempo de duração do jogo pra saber se será possível terminá-lo naquele dia. É fundamental que você não dê as respostas mastigadas, mas permita que a criança exercite o raciocínio. Conduza a conversa com perguntas simples e diretas. Se necessário, reelabore a pergunta – sempre dando tempo suficiente para a criança poder pensar. Criar um ambiente seguro onde ela se sinta acolhida também estimulada a refletir e responder.
Dê responsabilidades
Quando fazemos tudo pela criança, a mensagem silenciosa que passamos é a de que ela não tem competência para ter responsabilidades. Por isso, confie pequenas tarefas domésticas para a criança, ainda que seja a de lembrar um adulto que é preciso regar as plantas. Sentir-se responsável por uma tarefa ajuda a criança a compreender que desempenha papéis no mundo e que as outras pessoas dependem dela, tanto quanto ela depende dos demais. A responsabilidade fortalece o sentimento de pertencimento, trabalha a memória de longo prazo e exige a atenção para o seu entorno.
Adapte o ambiente ao máximo
Acessibilidade é um fator fundamental para a criança poder se entender como pertencente e livre no espaço em que ela se encontra. Desde rampas e barras de apoio para pessoas com mobilidade reduzida, até cadeiras com peso adequado para a criança poder sentar sozinha, torres de aprendizagem. Artigos adequados para sua idade e autonomia são um convite para que a criança se perceba como protagonista da própria vida, capaz de realizar tarefas simples como seus pares. Tenha em mente que o espaço-tempo que você vive hoje não será o universo que essa criança terá para toda a vida. Ainda que você consiga compreendê-la e fazer diversas coisas por ela, no futuro ela precisará fazer coisas sozinha, inclusive conviver com outras pessoas. O que nos leva ao nosso próximo tópico.
Estimule a comunicação
Muitas famílias de crianças não oralizadas deixam de investir em libras ou comunicação alternativa por achar que conseguem compreender tudo que a criança quer. Mas com o passar do tempo, a comunicação no nível das necessidades primárias torna esta pessoa (futuro adulto) alguém com muita dificuldade de expressar seus sentimentos, anseios, pensamentos e sonhos. Investir na comunicação de uma criança com deficiência é investir no seu futuro.
Promova a inclusão social
A interação social pode ser uma habilidade inata para algumas pessoas, mas a maioria de nós um dia precisou ser ensinado a socializar e ser educado. Estimule a criança com deficiência a participar de eventos sociais e praticar esportes. Atividades coletivas são um ótimo momento para treinar a civilidade. Mas um alerta: apoie com gentileza, mas sem superproteção. Esteja disponível para orientar nas questões com amigos e colegas, mas permita que a criança tente e erre. A decepção, o desapontamento e um certo sentimento de inadequação fazem parte do processo de amadurecimento emocional e são importantes para a criança poder se experimentar e evoluir.
Estimule a autoestima
Faça com que a criança compreenda que a deficiência é apenas uma de suas características e reforce suas qualidades e talentos. É importante que ela saiba de forma muito clara que a deficiência não limita o seu valor como pessoa.
Procure profissionais especializados
O trabalho que a família faz dentro de casa pode ser potencializado com a ajuda de profissionais como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas que devem ser procurados o mais cedo possível. Além do treinamento em consultório e da estimulação precoce, eles serão grandes aliados da família, fornecendo táticas e estratégias para acelerar o desenvolvimento infantil inclusivo. A parceria entre a escola e a família é essencial para criar um ambiente que valorize a autonomia da criança com deficiência.
Dê exemplo
Permita que a criança participe das decisões da casa e da família, fazendo com que ela se sinta pertencente e tão importante quanto os outros membros. Manter uma postura sempre otimista e confiante nem sempre é algo fácil na vida atípica, mas compartilhar seus sentimentos permite que a criança compreenda que também os adultos não são perfeitos o tempo todo.
Agora que você entendeu como incentivar crianças com deficiência a se desenvolverem e o quanto isso é importante para a autonomia e o protagonismo, é hora de fazer o seu papel na sociedade e colocar em prática! 😉
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