A leitura nos traz, além de conhecimento, uma viagem interplanetária aos incontáveis universos paralelos, aos nossos universos existenciais. A leitura nos desloca e nos conecta, ela nos permite transcender barreiras, conhecer a nós mesmos a partir de uma perspectiva narrada e/ou vivida pelo outro. A leitura é o cerne da nossa existência. Eu, particularmente, necessito de leitura como necessito de alimento. Uma sociedade sem leitura, é uma sociedade sem vida, um corpo sem alma… – Emanuela Lopes, mãe da pequena escritora Ana Júlia
Nasce uma pequena leitora
Ana Júlia acaba de completar seus 11 anos e, desde que se lembra, é apaixonada por tudo que envolve o mundo da literatura. Nascida e criada em Salvador (BA), a caçulinha da família cresceu cercada por telas, pincéis, tintas, canetinhas, papéis, papéis e mais papéis! A mãe, Emanuela, conta que a relação da família com a leitura é de disciplina diária, “estamos sempre nos motivando a ler”. Ela lembra que, desde muito nova, entre as brincadeiras e obrigações, recebeu o incentivo do pai pela leitura: “Acho que surgiu aí, essa paixão pelas letras que formam lindamente a infinidade de palavras e que materializam-se em frases, em textos, em histórias de tantos sentimentos, muitas vezes perdidos pela fala”.
Anos depois, já adulta, Emanuela procurou fazer a mesma coisa com suas duas filhas. Com a mais velha, hoje com 19 anos, foram “noites e noites de leitura compartilhada, tantas histórias, tantos livros presenteados pela sua vovó e pelo seu pai que nunca deixava de lhe comprar um novo livrinho”. Já com Ana Júlia, a caçula, junto com todo o incentivo, ainda houve um ingrediente a mais: a própria personalidade comunicativa da pequena. “Ela quer sempre ouvir as histórias sobre a infância do pai e da vovó, sempre conversando, perguntando, compartilhando assuntos”, conta a mãe, que logo percebeu o interesse da filha mais nova pela escrita.
Antes mesmo de frequentar a escola, Ana Júlia já demonstrava indícios do seu gosto e talento com as palavras e a mãe, por sua vez, sempre incentivou e estimulou esta habilidade da filha: “ela escrevia tudo, a todo instante e em qualquer lugar. Escrevia até que estava chateada com a mãe, que estava em greve de mesada, que o pai havia proibido o IPad… Acho encantador como ela vê o mundo!”.
Gostaria de parabenizar a Leiturinha pelo lindo trabalho e por serem o fio condutor dessas sementes que certamente muitas delas eclodirão em frondosas e suculentas leitoras, leitores, escritores, escritoras e/ou simplesmente pessoas melhores se tornarão. – Emanuela Lopes, mãe da pequena Ana Júlia
Nasce uma pequena escritora
O incentivo e a paixão pela escrita foi tanto, que em 2015, aos 9 anos, Ana Júlia se tornou uma pequena escritora e publicou seu próprio livro, chamado Ana e suas pérolas, que junto com outros 73 livros produzidos por crianças, está disponível na Leiturinha Digital. A mãe, que trabalha em uma corretora, conta que, quando a filha começou a acompanhar no trabalho em dias de sábado, observou que a pequena passava o tempo todo se divertindo com os papéis e canetas do escritório. Foi quando surgiu a ideia de escrever um livro! “Na minha cabeça seria fácil, estava tudo à mão, só precisaria juntar as peças e achar uma pessoa para diagramar. Apesar de ter sido bem trabalhoso e intenso, foi imensamente prazeroso e enriquecedor.”, relembra Emanuela. Durante o processo, Ana Júlia participou de cada decisão sobre seu livro, fazendo todas as ilustrações e se colocando à disposição para tudo que precisasse, como por exemplo passar a tarde com a designer que ela não conhecia, desenhando em um programa que ela também não conhecia, ou criando novas ilustrações à medida que o conteúdo ia se desenrolando. “A cada etapa vencida, compartilhamos e curtimos em família!”, conta a mãe da pequena escritora.
Ana Júlia afirma que sempre adorou ler e ouvir histórias e que, desde muito nova, já escrevia em seus desenhos. Sobre suas histórias favoritas, a pequena conta: “Gosto de revistinhas e adoro o Maurício de Souza. Agora, estou lendo um livro dele (A história que não está no gibi) e estou adorando, também gosto de poesias e de coisas engraçadas.”. Em relação ao seu primeiro livro publicado, Ana e suas pérolas, a pequena escritora diz que trata-se de um Conto de Fadas e que, após a publicação, sente que passou a gostar ainda mais de histórias. Ao pensar que seu livro está sendo lido por crianças de todo o país, Ana afirma estar muito alegre, “acho que o meu livro pode inspirar mais crianças a escrever suas historinhas também.”.
A mãe contou que, no momento, Ana Júlia está com uma Coluninha semanal na Revista Adoleta e está se divertindo muito, “ela adora e passa o dia envolvida”, afirma Emanuela. Sobre esse trabalho, a pequena Ana conta que escreve sobre curiosidades, coisas que são divertidas ou que aprendeu com alguém e que todo mundo pode gostar. “A gente vai conversando e de repente surge aquele assunto que dali a gente tira uma frase e encaminha para a Revista, ou às vezes a revista pede algo para uma data ou minha mãe lembra de algum momento e eu escrevo sobre o tema, tem sido assim.”, relata a escritora mirim. Em relação ao seu gosto pela escrita, Ana diz: “escrever para mim é mágico! A importância das histórias é trazer felicidade para mim e para o mundo.”. Ana Júlia quer se tornar uma bailarina profissional, mas pretende continuar escrevendo e desenhando, “acho que dá pra fazer as duas coisas.”, afirma. Para as crianças que têm o sonho de escrever e publicar o próprio livro, a pequena escritora dá um conselho: “continue seguindo seu sonho!”.
Uma editora de livros feitos por crianças
Ana e suas pérolas foi o primeiro título produzido exclusivamente por criança a integrar o acervo digital da Leiturinha. Quando a mãe Emanuela entrou em contato com o Clube para falar sobre o livro da filha, mal poderia imaginar que esse seria o primeiro passo para uma parceria de muito sucesso! O livro da pequena Ana Júlia foi uma produção independente. No entanto, existe uma editora que trabalha única e exclusivamente com pequenos autores, é a Editora Pata Choca, que hoje, por meio de uma parceria com a Leiturinha, integra parte do acervo da biblioteca digital do Clube. E mais, todos os pequenos escritores ganham o acesso liberado à plataforma, e toda a renda obtida com a leitura desses livros é revertida em livros para doação a projetos sociais. É todo mundo junto na missão de inspirar além da leitura, né?
Agradecemos muito à Leiturinha por permitir que o ciclo de leitura perdure para além da publicação dos livros, já que as crianças publicadas ganham um ano de acesso à sua imensa biblioteca digital. Estamos semeando… Temos projetos e sonhos ousados, sempre pensando em como contribuir para que dias melhores venham logo para os nossos jovens. – Elvira Cardoso, editora da Pata Choca
Após trabalhar por cerca de 20 anos no mercado editorial tradicional, a psicopedagoga carioca, Elvira Cardoso, e seu sócio Ronaldo Ramos tiveram uma ideia e mergulharam no universo infantil com um simples e importante objetivo: criar um projeto “que legitimasse o protagonismo da criança em seu processo de aprendizagem, centrando esse processo não no ensino do objeto cultural em si, mas em atividades por meio das quais a criança pudesse atribuir sentidos e se apropriar desse novo objeto cultural”. Foi então que, em 2015, surgiu a Pata Choca, uma editora que, por meio de atividades realizadas, principalmente, em conjunto com as escolas, edita livros 100% escritos e ilustrados pelos pequenos. “A nossa experiência confirma a importância do professor nos papéis de principal mediador e de agente de transformação em qualquer assunto concernente à Educação. É ele quem pode, efetivamente, fazer a diferença.”, afirma Elvira.
Por meio da produção e publicação dos seus próprios livros, as crianças tornam-se mais autônomas, reconfigurando sua relação com a leitura e com a escrita. “Nós trabalhamos para que o leitor em formação veja sentido na leitura, para que perceba o valor da palavra como uma ferramenta útil para a sua expressividade, para a construção de sua identidade e para a busca da sua autoria de pensamento.”, conta Elvira. Além disso, esse processo também é uma demonstração de afeto, contribuindo para uma melhor autoestima e autoconfiança dos pequenos. Para Elvira, “são esses comportamentos que, fundamentalmente, contribuem para o desenvolvimento pleno do indivíduo, na medida em que, por meio da autonomia, do autoconhecimento e do espírito crítico é que se pode pensar em efetiva liberdade de pensamento.”.
Se nós entendermos a leitura como fator crucial para o sucesso escolar de um jovem e a educação como um fator de mobilidade social, vamos perceber que o fracasso escolar desse jovem implica também a sua marginalização na sociedade. – Elvira Cardoso, editora da Pata Choca
Sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido já há dois anos, Elvira diz que está amadurecendo e aprendendo cada vez mais, superando as expectativas: “Logo na primeira sessão de autógrafos, quando pais e filhos choraram de emoção, nós percebemos que tínhamos criado algo significativo para outras pessoas também. Já recebemos feedbacks, como ‘Meu filho não lia, escrevia só quando era obrigado. Hoje ele fica no quarto escrevendo sem parar e me pede um monte de livros. Ele diz que quer ser escritor’.”.
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