Há livros que contam histórias usando palavras, outros que contam histórias com imagens, outros que usam imagens a serviço das palavras… E existem aqueles que não se encaixam em nenhum destes modelos. É o caso do livro Onda, da Editora Companhia das Letrinhas, selecionado para o Kit Leiturinha dos pequenos Leitores em Processo. Para lê-lo, é preciso estar atento a todas as suas partes: as imagens, as margens, as páginas, tudo é fundamental para a compreensão da história. A sul-coreana Suzy Lee usou um elemento bastante importante para criar esta obra, que é parte de uma série de três livros: as dimensões do próprio livro. A inteligência e a capacidade de imaginar do leitor é indispensável para o deleite da história.
Onda: um manifesto a favor do devaneio, da fantasia e da imaginação
Em Onda, a relação de uma menina e o mar é contada através das margens e das bordas do livro. As ilustrações funcionam junto com os elementos físicos das páginas. O abrir, olhar e virar das páginas fazem com que a história aconteça. Desassociando o objeto livro da história por ele contada.
Essa forma de ler tem tudo a ver com a forma que principalmente as crianças enxergam o mundo. Fantasia e realidade se misturam e, às vezes, nem as fronteiras físicas são capazes de barrar a imaginação da crianças. Nós adultos também necessitamos da fantasia. O psicanalista Contardo Calligaris elogia o sonhar acordado. Segundo ele, é o sonho de olhos abertos que nos ajuda a aguentar momentos enfadonhos, pessoas entediantes, reuniões intermináveis. Amadurecer nos exige em algum grau cerrar os olhos para os sonhos. Mas, é a imaginação que nos faz sobreviver, vez em quando, à realidade nem sempre tão fácil. Por isso, é necessário um manifesto a favor da manutenção do devaneio, da fantasia, da imaginação.
Ler os livros dos nossos filhos e, junto com eles, fantasiar, é uma ótima forma de exercitar nossa imaginação e incentivar ela nos nossos pequenos. Apenas uma infância verdadeiramente cercada de histórias que construirá um adulto capaz de sonhar e criar por meio da sua imaginação. O mergulho em narrativas como Onda cria uma atmosfera lúdica e imaginativa, na qual é a própria voz da criança que conta a história que seus olhos foram capazes ou quiserem ler. Trata-se de uma forma de ler diferente. Ou não usual. Que nos ensina que o virar das páginas, as margens do livro e suas bordas modificam a forma como lemos as imagens e criam uma história que, às vezes, não temos a capacidade de ler.
Suzy Lee ao criar a Trilogia da Margem, com Onda, Espelho e Sombra, nos reensina a ler e dá a possibilidade aos nossos pequenos de aprenderem, desde cedo, o universo imenso desperto pelo simples ato de abrir um livro.
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