Coluninha | Por Luciana Mendina
Há treze anos, quando meu filho foi diagnosticado com autismo, não havia muitas informações disponíveis sobre esse transtorno. E as que existiam, não eram otimistas. Havia quase um consenso de que o autismo era incurável. Hoje, a situação é bem diferente.
Bernardo foi diagnosticado com autismo quando tinha um ano e onze meses, o que é considerado diagnóstico precoce (até os três anos), sendo que a maioria dos autistas no Brasil, infelizmente, recebe o diagnóstico bem mais tarde. É fundamental levarmos em consideração que o diagnóstico precoce pode ser o diferencial, assim como o tratamento médico e a inclusão social.
Há várias razões para esse diagnóstico tardio, mas uma das mais difíceis de se combater é o preconceito. Preconceito dos pais, dos familiares, da sociedade. Ter um filho com autismo soa como uma sentença. Uma sentença de morte em vida. Os pais ficam atordoados, desesperados, revoltados. Por que o meu filho?
Ao receber o diagnóstico de autismo do meu filho, eu passei por todas essas fases. Primeiro, tentei convencer o neuropediatra de que ele estava errado, citando ações, atitudes e feitos do Bernardo, como se ainda fosse possível modificar o diagnóstico.
Achei que o mundo se fecharia para o meu filho, que ele seria rejeitado a partir daquele momento. Achei que só eu poderia aceitá-lo e amá-lo do jeito que ele era. O diagnóstico martelava em minha cabeça. Só pensava no que significava ter um filho com autismo, o que o futuro reservava para ele e para a minha família – sua irmã, Maria Júlia, e meu marido, Hector.
Que futuro o Bernardo teria? Eu não sabia nada sobre o autismo. Só o que via na televisão. Mas de uma coisa eu tinha certeza: queria ver de volta o sorriso no rosto do meu filho. Bernardo não sorria mais, não parecia feliz, não parecia estar vivo. Estava distante de tudo e de todos. Era muito angustiante. Eu só queria que ele fosse feliz, que brincasse, que tivesse prazer na vida.
O meu desespero era tamanho que passei alguns dias chorando, tentando entender de quem era a culpa. Agora sei que não há culpados e que procurar culpados, além de ser inútil, pode afastar as pessoas de quem você mais precisa, como sua família e seu marido.
Apesar de devastada com a notícia, eu não neguei o diagnóstico. Negar o diagnóstico é perder tempo precioso. Tempo que não volta mais. Muitos pais tentam se convencer de que os sintomas do autismo passarão com o tempo – e sozinhos – sem qualquer intervenção médica, o que só prejudica ainda mais a criança, que deixa de ter tratamento adequado.
Sim! O autismo pode ter cura. Foi isso que aprendi ao longo desses treze anos. Meu filho está curado. Graças ao diagnóstico precoce, ao tratamento psicanalítico e à inclusão social, Bernardo, hoje com 15 anos, estuda em um colégio particular regular, faz judô (ganhou uma medalha de prata e outra de ouro), tirou várias notas 10 em seu último boletim, adora Ciências e pretende ser biólogo.
Embora haja graus para o autismo, o que chamamos de Espectro Autista, e seja bem mais difícil conseguir melhoras nos casos severos, não sabemos ainda até onde eles chegariam caso o diagnóstico fosse precoce, caso os pais procurassem tratamento o quanto antes para seus filhos e caso essas crianças tivessem acesso a colégios regulares, convivendo lado a lado com outras crianças, trocando experiências e participando de brincadeiras próprias de suas idades. Mas de uma coisa tenho certeza: enquanto não tivermos o diagnóstico precoce, não teremos essa resposta!
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Luciana Mendina é jornalista e autora do livro “O autismo tem cura?”, publicado pela Editora Langage.