Para quem está dentro da “bolha” parece muito curioso, mas algumas pessoas ainda têm receio de usar a expressão pessoa com deficiência, por acreditar (erroneamente) que é um termo ofensivo ou duro.
Isso acontece porque estigmatizamos a deficiência em nossa sociedade, e hoje, vamos falar um pouco mais sobre isso. Uma das formas de perpetuação e/ou mudança de padrões e comportamentos nas nossas vidas é a linguagem. Por isso, é fundamental que desde cedo ajustemos o nosso vocabulário, principalmente na presença das crianças. A linguagem que utilizamos no dia a dia é um reflexo de como enxergamos o mundo e, por isso, ela tem o poder de construir ou desconstruir preconceitos.
Quando falamos sobre pessoas com deficiência, é essencial adotar uma comunicação que respeite sua dignidade e promova a inclusão. Nesse contexto, é fundamental compreender que determinados termos que antigamente eram aceitos, hoje caíram em desuso por reforçarem estereótipos ou carregarem conotações capacitistas. Neste artigo vamos explorar a evolução da linguagem inclusiva e oferecer alternativas respeitosas para se referir às pessoas com deficiência. Vamos lá?
Linguagem inclusiva e pessoa com deficiência
A maneira como nos referimos às pessoas com deficiência não é apenas uma questão de palavras, mas de postura e de reconhecimento de seus direitos. A Constituição Federal e a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) reforçam o direito à dignidade, à igualdade e a não discriminação. Nesse sentido, utilizar uma terminologia adequada é um passo essencial para criar ambientes mais acolhedores e respeitosos, tanto para as crianças quanto para os adultos. Acredite: crescer num ambiente inclusivo faz toda a diferença para normalizar a diversidade.
Termos em desuso sobre pessoa com deficiência
Alguns termos historicamente utilizados para descrever pessoas com deficiência carregam estigmas que reforçam ideias ultrapassadas e capacitistas. Vamos ver alguns exemplos de palavras que devem ser evitadas e por quê:
❌ Portador de deficiência: sugere que a deficiência é algo que a pessoa carrega, como um objeto, um acessório (que pode ser deixado de lado). A deficiência é parte integrante da identidade de uma pessoa, e não algo que ela porta. O correto é pessoa com deficiência.
❌ Pessoa especial: embora muitas vezes utilizado com boas intenções, é um termo capacitista que infantiliza e coloca a pessoa com deficiência em um pedestal irreal, desviando o foco das demandas por direitos e acessibilidade. Embora as pessoas com deficiência possam ter necessidades ESPECÍFICAS, as suas necessidades não são especiais, como as de um artista que pede 200 toalhas brancas no camarim. Necessidades Específicas são relativas ao mínimo necessário para se equiparar aos demais.
❌ Defeituoso ou incapaz: expressões claramente pejorativas e que reforçam estereótipos de incapacidade total, ignorando as potencialidades e habilidades das pessoas com deficiência. Por mais significativa que seja a deficiência de uma pessoa, ela sempre terá capacidades, talentos e qualidades.
❌ Aleijado: Carregado de uma história de marginalização, é um termo extremamente ofensivo e excludente.
Formas adequadas de se referir à pessoa com deficiência
Adotar uma linguagem inclusiva significa colocar a pessoa em primeiro lugar, reconhecendo sua humanidade antes de sua condição. Esse princípio é conhecido como linguagem de pessoa primeiro. A seguir, apresentamos algumas alternativas adequadas:
✅ Pessoa com deficiência: reconhecida como a terminologia oficial pela ONU e amplamente utilizada na LBI, essa expressão coloca a pessoa antes da deficiência, evitando reduzi-la à sua condição. Quando abreviada, devemos colocar a letra P (referente à pessoa) em maiúsculo e as demais em minúsculo: Pcd. Essa abreviação dá ainda mais evidência à importância da pessoa perante a deficiência.
✅ Pessoa surda: pessoas com deficiência auditiva não se incomodam de serem chamadas de surdas. Um equívoco que devemos evitar é o termo surdo-mudo. Isso porque grande parte das pessoas surdas não são oralizadas pelo fato de não ouvirem. Quando se refere a indivíduos da comunidade surda, é importante respeitar a identidade cultural e linguística associada à Língua Brasileira de Sinais (Libras).
✅ Pessoa com deficiência visual ou auditiva: é preferível a expressão que descreve a especificidade da deficiência, caso seja relevante para o contexto.
✅ Pessoa com mobilidade reduzida: termo apropriado para se referir àquelas que têm dificuldades temporárias ou permanentes de locomoção.
O papel dos pais, educadores e comunicadores
Pais, educadores e profissionais da comunicação desempenham um papel crucial na disseminação de uma linguagem inclusiva. Ao escolherem cuidadosamente suas palavras, eles educam as novas gerações a enxergar a diversidade humana com respeito e naturalidade. Algumas dicas práticas incluem:
Evitar eufemismos: termos como “anjo” ou “especial” podem soar bem-intencionados, mas são condescendentes e desviam o foco das questões estruturais de acessibilidade e inclusão. É preciso também se atentar ao fator idade: pessoas com deficiência não são eternas crianças. Elas amadurecem intelectual e emocionalmente como qualquer pessoa.
Ouvir as pessoas com deficiência: cada pessoa tem preferências sobre como gostaria de ser chamada. Sempre respeite essa escolha.
Aprender continuamente: a linguagem é algo vivo e está em constante evolução. Muitos termos que usamos hoje podem estar defasados daqui a algum tempo. Busque se atualizar sobre terminologias e conceitos inclusivos.
Como a linguagem impacta a inclusão de pessoas com deficiência?
A linguagem inclusiva é um instrumento poderoso de transformação social. Quando utilizamos termos corretos, contribuímos para a desconstrução do capacitismo e para a criação de uma sociedade que valoriza as diferenças. As crianças nos modelam o tempo todo e terão mais facilidade de incorporar as terminologias corretas quando este exemplo começa desde cedo. Mais do que evitar termos inadequados, trata-se de adotar uma postura ativa em prol da inclusão e do respeito.
O poder é de todos nós. Adotar uma linguagem respeitosa é um passo fundamental para promover a inclusão das pessoas com deficiência. Cada palavra que escolhemos pode contribuir para quebrar barreiras ou reforçar preconceitos. Por isso, pais, educadores e profissionais da comunicação têm o poder e a responsabilidade de liderar essa mudança. Lembre-se: a inclusão começa na maneira como falamos, mas não deve terminar aí. Que nossas palavras sejam um reflexo de nossas ações e escolhas.
✨ Leia também:
O poder da leitura na inclusão de crianças com deficiência
Autonomia e protagonismo: como incentivar crianças com deficiência a se desenvolverem?
O impacto do capacitismo nas interações sociais de crianças com deficiência
O papel dos adultos nas descobertas das crianças com deficiência