Educação inclusiva: aceitar que a criança seja matriculada ainda não é inclusão

Um dos mais importantes ambientes para crianças se desenvolverem é a escola. É, também, onde ela vai passar grande parte da vida e aprender não só as disciplinas curriculares, mas a interagir com outras pessoas da mesma idade e lições que leva para vida toda.

Agora, o que fazer quando seu filho tem necessidades especiais? Esta é a realidade de mais de 750 mil pessoas. De acordo com dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2016, 57,8% das escolas brasileiras possuíam alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades incluídos em classes comuns. O número é expressivo, especialmente se considerarmos que, em 2008, o percentual era de apenas 31%.

Falar sobre crianças com deficiências na escola, seja na rede pública ou particular de ensino, é falar de inclusão. Lembrando que incluir não é apenas aceitar que aquele aluno seja matriculado, mas estar atento e compreender melhor as necessidades daquele indivíduo para auxiliá-lo dentro e fora da sala de aula.

Trabalhando com a inclusão em ambiente escolar

“É preciso ter vontade, atitude. Acreditar realmente no outro, no que é possível fazer”, estas são as palavras de Larisse Junqueira Mendes, quando questiono sobre as qualidades que um profissional deve ter para trabalhar com inclusão.

Larisse Junqueira Mendes

Larisse é responsável pela criação do Centro de Inclusão Escolar, na Adefip de Poços de Caldas.

Há mais de 10 anos na Adefip (Associação de Apoio aos Deficientes Físicos) de Poços de Caldas (MG), ela é responsável pela criação do Centro de Inclusão Escolar.  O projeto ganhou destaque a nível nacional e tem como principal objetivo prestar assessoria escolar para instituições das redes pública e privada no planejamento, reestruturação e adequação para que crianças com deficiência possam aprender e se desenvolver dentro do ambiente escolar. “Um ser, independente de qualquer deficiência ou dificuldade, aprende com o meio. O que ele precisa é de pessoas que estejam ao seu redor e que sejam o mediador desse conhecimento”, afirma.

Desde a implantação do projeto, em 2009, foram mais de duas mil assessorias prestadas e inúmeros alunos contemplados. Quantidade que, aliás, sobe mais a cada ano. Para Larisse, a sensação é de vitória, uma vez que, mesmo com legislações sobre o assunto, a inclusão escolar ainda era tema pouco falado. “De nada adiantava ter todas essas leis se não existissem militantes que buscassem e lutassem para que essas pessoas, essas crianças e adolescentes estivessem com qualidade dentro da escola”.

Profissão: auxiliar de educação inclusiva

Tornar a escola um ambiente acessível para o aluno com deficiência é papel importante na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Muitas vezes, além de adaptar materiais e ter estrutura adequada, é necessário contar com o apoio de um profissional: o auxiliar de educação inclusiva.

Liliane Terra lecionava inglês e, na prática, nada entendia sobre educação especial. A necessidade a fez seguir esta área na qual atua desde 2017.  “Precisei abrir um leque de possibilidades. Foi muito difícil no início, porque eu tinha muitas incertezas e sabia que era um grande desafio”, comenta.

Depois de buscar capacitação, ela iniciou o trabalho na Apae de Poços de Caldas (MG) e também em um colégio da rede estadual de ensino. Entre as inúmeras lições que afirma ter aprendido no pouco tempo de convivência e trabalho, ressalta a principal parte: “Basta você respeitar, ensinar as pessoas a respeitarem as diferenças e ter amor de sobra, porque isso nunca é demais e é do que eles mais precisam”, pontua.

Relatos: como estar na escola ajudou crianças autistas

Quando recebeu o diagnóstico de autismo do filho mais novo, Camila Nogueira, bem diferente de outras mães, ficou feliz. “Tinha ouvido de outros médicos que podia ser algo degenerativo. Então, meu medo era ele morrer muito novo. Eu sabia que autismo era para sempre, que não tinha cura e eu ia ter que aprender a viver com um monte de complicações, mas não causava morte”, explica.

Adefip

Imagem: acervo Adefip

Na época, Miguel frequentava pré-escola numa instituição pública. Mesmo sem ter conseguido identificar o autismo, a professora foi essencial na vida do menino, que se desenvolveu em várias áreas. “Ela simplesmente disse: não sabemos o que ele tem, mas vamos trabalhar com o que der e ver onde chegamos”, relembra Camila. No ensino fundamental, o menino mudou para uma escola particular. No local, aprendeu sobre socialização, mas os pais começaram a perceber que tinha dificuldades de aprendizado e de permanecer dentro da sala de aula.

Foi quando a mãe buscou uma escola pública e matriculou o filho. Já na sétima série, Miguel recebe acompanhamento diário de uma auxiliar de educação inclusiva que o ajuda em todas as atividades. A escola da rede municipal de ensino onde estuda hoje, tem mais doze alunos autistas.

Antonella também entrou na escola antes de receber o diagnóstico de autismo. Para a mãe da menina, a convivência com outras crianças foi essencial no processo de aprendizado. “Ela ficava em casa comigo, brincava vez ou outra com o irmão e há muito tempo eu notava que tinha alguma coisa diferente. Cheguei à conclusão: essa criança precisa de criança e mandei para a escola. Foi sensacional, ela aprendeu várias coisas, inclusive a comer direito. Porque ela via outras crianças comendo, e imitava”, explica.

Diferente de Miguel, ela nunca precisou de auxiliar de educação inclusiva. Mas estar na escola foi de extrema importância “Ela melhorou muito na sociabilização, na interação social e aprendeu com as outras crianças. Foi um ganho excepcional. Se ela estivesse dentro de casa por conta do diagnóstico, jamais seria a criança que é hoje”, finaliza.

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