Nem sempre uma criança que gosta de ler é incentivada

abr 14, 2016 | Leitura, Literatura

GANHE PRESENTE DUPLO! Crescer com Leiturinha é mais divertido! Mas é por tempo limitado! Mochila da Iara + Régua do crescimento grátis no 1º kit! Botão: ASSINAR LEITURINHA

Em um país tropical, ensolarado e extrovertido como o nosso, por mais que exista a percepção de que a leitura é uma fonte de conhecimento para a vida – na pesquisa Retratos da Leitura, de 2012, 64% das pessoas disseram acreditar nisso – nem sempre uma criança que gosta de ler realmente é incentivada.

— Mas pára de ler, olha só, você vai estragar a vista!

— Sai, vai brincar um pouco, está fazendo um tempo tão bonito!

— Apaga! Já é tarde!

Mas essas frases vêm lá da França, do livro “Como um romance”, do escritor Daniel Pennac, um pequeno volume que é um verdadeiro tratado emocional sobre o amor à leitura.

Achei interessante porque essas palavras também ecoam na minha lembrança. Passei boa parte da minha infância, especialmente nas férias, sendo dissuadida de ler. (Em excesso, minha mãe diria.). Nunca fui uma garota esportista e na rua em que eu morava quase não havia crianças da minha idade. Só existia TV aberta, não havia Internet. Então, eu lia.

Outro dia minha afilhada, hoje com dez anos, me fez pensar sobre isso. Em uma festa de família, ela levou seu livro. E passou boa parte do tempo sentada em uma poltrona, contente, rindo sozinha, enquanto os adultos conversavam. Desde pequena, ela é super concentrada e pode passar horas assistindo filmes ou jogando Manikraft. E agora que domina a leitura, vi que também pode ficar lendo por horas, mesmo que a casa esteja pegando fogo.

Quando eu era pequena, ler não era uma coisa que se fazia “em público”

Quer dizer, claro que a família valorizava que você gostasse de ler, mas em uma festa de família era mais importante correr, brincar, interagir com outras crianças. E, quando não havia outras crianças para brincar com você, melhor conversar com os adultos ou assistir TV com a vovó, igualmente deslocada.

Cá para nós, fico pensando se tudo precisa obedecer a tantas regras – especialmente em se tratando de momentos de lazer e descontração. De um lado, ouço a voz dos meus pais dizendo que em uma festa não é legal ficar sozinho em um canto, cuidando da própria vida. E se isso valia para os livros, hoje vale para tablets, videogames e celulares. Mas, de outro, apesar de eu sempre ter gostado de conversar e brincar, em alguns momentos teria adorado a liberdade de ficar sozinha, no meu canto, lendo e rindo comigo mesma.

Esse embate entre pais e filhos, é claro, faz parte do processo natural de educação e socialização. E, como em tudo na vida, o equilíbrio parece ser o melhor caminho. Mas, quando se trata de leitura, o pequeno volume de Daniel Pennac vai direto ao ponto. Seu livro começa com a seguinte frase:

O verbo ler não suporta o imperativo

leia-2

Pennac não poderia descrever melhor: “Mesmo no passado, as coisas não davam certo. De um certo modo, ler, então, era um ato subversivo. À descoberta do romance se juntava a excitação da desobediência familiar.”

Ou seja, da mesma forma que não adianta dizer para a criança: “Leia!” também não adianta dizer: “Não leia!”. Afinal, crescer exige uma boa dose de subversão. Só assim nos tornamos a pessoa inteira que podemos ser.

Leia mais:

Lizandra Almeida

Jornalista, tradutora de profissão e proprietária da Pólen Livros, que edita livros infantis e voltados a questões do universo feminino. *Lizandra é escritora e foi convidada pelo Blog Leiturinha para compartilhar sua opinião com as nossas famílias leitoras.

    Acompanhe nossas redes sociais