O que a visita dos meus sogros pode te ensinar sobre educação

abr 26, 2016 | 0 - 3 anos, 10+ anos, 4 - 6 anos, 7 - 10 anos, Família, Parentalidade

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Coluninha | Por Pamela Greco.

No mês passado, e pela primeira vez desde que me mudei para o Canadá, recebi meus sogros por aqui. Esse texto pouco tem a dizer sobre eles, na verdade, que são ótimos. Tem a dizer sobre mim e sobre o que eu aprendi nesse período.

Veja, meus sogros são de uma geração anterior à minha. Mas mais do que isso, não imagino que eles entendam profundamente o que faço. Essas questões que penso (e que claro, muitos mais letrados do que eu pensam) sobre psicologia infantil, sobre criação com apego, sobre a importância de deixar que eles sintam o que precisam sentir, sobre nomear sentimentos e falarem sobre o que sentem… bem, imagino que isso lhes pareça muito estranho.

Não imagino porque isso lhes seria diferente dentro do contexto histórico e social em que viveram. Meus sogros cresceram sob pés de não sei quantas árvores frutíferas, dentro de fazendas em uma cidade pequena. Eles entendem de colheita, entendem de brincar de boneca de pano e entendem de bailes durante a adolescência. Entendem também das “sovas” que levavam se aprontassem.

Quando eu digo para eles que eu acredito que é preciso acolher o choro de um bebê, cuidar, conversar mas deixá-lo extravasar, eles confiam em mim mas me olham com ares de estranheza. O que estou dizendo? Apenas faça essa criança parar de chorar. “Olha aquele passarinho! Olha aquele carro na rua! Olhe que legal esse brinquedo colorido!”.

Outra coisa interessante que aconteceu com meus sogros e que moldou quem eles são: durante a sua fase adulta eles se mudaram para uma cidade grande. Depois de mudar para uma cidade grande e ter filhos, eles esqueceram dos conhecimentos que tinham sobre riachos, árvores, pega-pega e brincadeiras de boneca. Eles se atentaram para as sirenes da cidade, para os riscos e para os medos. Criaram os filhos com todo amor que poderiam, mas tinham muito medo de que algo lhes acontecesse. É claro que isso foi impresso na educação que deram.

Ao ver o pequenino de um ano e meio correndo em nosso espaço de educação, minha sogra preocupada diz “Ele vai cair! Ai, vai machucar.” Ou ainda “Não corre porque você cai e se machuca”. E ele cai mesmo, as vezes até se machuca. Ela tem razão. Mas o que ele aprende no limite de segurança que lhe é permitido é a arriscar. Tudo bem a gente ralar o joelho às vezes, contanto que a gente saiba levantar, procurar ajuda, se cuidar e começar de novo.

A geração dos meus sogros não quer que as crianças se machuquem fisicamente e ignoram a presença de uma psíque complexa e em desenvolvimento. Eles fizeram e fazem o melhor que podem.

Mas a nossa geração sabe. Eu e você, lendo esse texto, sabemos a complexidade do desenvolvimento de um ser humano todo novo. Eu e você sabemos o impacto das nossas ações e dos nossos exemplos. Eu e você pensamos em coisas que nossos pais não tinham a oportunidade de pensar.

E é por estarmos tão conscientes e assustados com essa responsabilidade, que nos unimos em comunidades que nos apoiam, que nos suportam com boas informações e com acolhimento. Conhecer nossa responsabilidade é mais fardo do que libertação, vamos parar de diminuir o peso do nosso papel de educadores.

Somos uma geração com excesso de informações, intenso e rápido avanço de tecnologias, agressiva, ansiosa, competitiva, sem limites e sem saber dar limites. Mas temos uma poderosa arma em nossas mãos que é totalmente nova: Acesso ao conhecimento como nunca antes. Depois de um belo filtro, é possível encontrar coisas realmente boas na internet. Como eu quando encontrei você aqui, disposto a ler esse texto e pensar comigo.

Somos uma geração aprendendo a colocar o confronto às caras, pra todo mundo ver, tendo que vencer nosso ego em prol do bem coletivo. Somos engatinhantes em estabelecer relações respeitosas e sermos honestos conosco e com outros.

Mas somos a geração que tem consciência disso e que tem consciência de que o que fizer impactará profundamente o desenvolvimento psíquico da geração futura.

E isso não é poder?


Pamela Greco é pedagoga e criadora do Blog Pais que Educam

Pamela Greco

Pedagoga e criadora do Blog "Pais que Educam". Já foi professora de educação infantil, trabalhou com adolescentes e passou por ONGs. *Pamela é escritora e foi convidada pelo Blog Leiturinha para compartilhar sua opinião com as nossas famílias leitoras.

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