Talvez você já tenha ouvido falar que crianças com Síndrome de Down (ou “T21” como falamos atualmente) são capazes de fazer qualquer coisa, mas no tempo delas. Isso porque essa síndrome – além de algumas doenças associadas – também promove um atraso no desenvolvimento psicofísico da criança. Por isso não é recomendado que sejam direcionas pelos mesmos marcos do desenvolvimento infantil que crianças típicas.
Elas começam a andar mais tarde, começam a falar mais tarde, mas uma hora ou outra a maioria vai andar e vai falar; caso não tenham outras complicações correlacionadas. Mas então, por que essas crianças precisam fazer tantas terapias? Lotar a agenda da criança de compromissos não seria colocar ainda mais pressão sobre os ombros dessa pessoa? Sim e não.
A importância da Terapia para crianças com T21
Antigamente, quando quase não se ouvia falar (tampouco se conhecia) uma pessoa atípica, muitas dessas crianças viviam confinadas dentro de casa. Elas tinham pouca – ou quase nenhuma – chance de desenvolver as suas habilidades. Nos anos 70, apenas uma a cada 5 crianças atípicas nos Estados Unidos era alfabetizada.
É importante se lembrar que o ambiente escolar é o grande treinamento social que temos para a vida. Uma criança atípica, para ser alfabetizada com pessoas da mesma idade, ela precisa, digamos, “correr atrás do prejuízo”. Quando uma criança atípica começa a andar com 3 anos de idade, a sua habilidade para brincadeiras na escolinha é menor que dos amiguinhos que já andam desde os 18 meses de vida ou menos.
A infância é uma fase de experimentação e aprendizado. Então é muito possível que as outras crianças evitem brincar com o amiguinho que “não sabe correr”. É natural, crianças tem uma leitura mais simplista do mundo e precisam de orientação. O esforço das terapias todas (fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e outras) é acelerar o processo de aprendizagem de habilidades sensíveis e sociais da criança, de modo com que ela possa ter uma maior qualidade na interação social e assim, se desenvolver melhor.
E se formos pensar nos ganhos de aprendizagem de uma criança que é ativa, que tem uma vida preenchida por atividades das mais diversas, o benefício das terapias é indescritível. Também é bom lembrarmos que, enquanto seres humanos, somos seres sociais. Já andávamos em bando lá no tempo das cavernas. Fazer parte de um grupo é determinante para que possamos desfrutar de uma boa saúde mental. A sensação de pertencimento nos garante uma interação social de maior qualidade – o que melhora tudo.
Em especial na trissomia do cromossomo 21 (T21), cinquenta por cento dessas crianças apresentam cardiopatias congênitas que precisam de cirurgia. O ato cirúrgico em si, na primeira infância, atrasa o desenvolvimento infantil de crianças que ainda não engatinham (já que elas não podem fazer esforço com os braços, ou encostar a caixa toráxica no chão por algum tempo). Assim, quando a criança é cardiopata e faz terapias para o desenvolvimento, é possível estimular nela outros sentidos e capacidades que seriam apresentados naturalmente só mais tarde. Resumidamente, fazer terapias em crianças com deficiência é ganhar tempo.
Do ponto de vista dos pais, pode parecer muito desgastante cumprir uma agenda tão intensa com crianças que tem tão pouca autonomia. Em muitas famílias, a mãe acaba “optando” por parar de trabalhar para poder acompanhar o filho nos seus compromissos – já que a legislação trabalhista não beneficia o funcionário por ausência no trabalho em casos assim. É claro que uma mãe moderna precisa escolher suas lutas. Por isso, quando a criança dá sinais de que está sobrecarregada, convém tirar um pouco o pé do acelerador. Sinais de esgotamento mental devido a sobrecarga de atividades podem indicar o ritmo certo de cada criança. Recomendamos sempre conversar antes com um especialista.
Por se tratar de uma síndrome mais frequente (1 a cada 700 nascidos) a medicina já está começando a se debruçar em tabelas específicas de marco do desenvolvimento para crianças com síndrome de Down. A família precisa ter em mente que cada criança (PCD ou não) é única, e que dados e gráficos são apenas números jogados sobre um papel que podem servir de referência – e não de espelho. Mas o que já temos por certo até aqui, é que a inclusão beneficia demais tanto as crianças com deficiência quanto as crianças típicas. Se por um lado, crianças PCD tem o estímulo necessário para querer se desenvolver ao lado de crianças típicas, também as demais crianças ganham com isso. Ganham em entender que o mundo é diverso, que cada pessoa tem o seu ritmo e suas limitações. E sobretudo, ganham em poder experimentar o convívio com pessoas tão únicas e que tem tantos ensinamentos a nos oferecer.
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