Literatura como ato político e amoroso
Portas de entrada para conhecer e explorar novas culturas e modos de ser e estar no mundo, os livros são os grande porta-vozes da humanidade e de sua ancestralidade. Ler um livro é como uma espiadinha por uma fechadura que guarda consigo, do outro lado, um mundo inteiro de possibilidades: por vezes nos identificamos com o que o espiamos, mas por outras vezes não, nos colocando diante de uma realidade que, por ser diferente, é capaz de ampliar nosso ponto de vista, estendendo nossos horizontes e perspectivas, desde que estejamos abertos, é claro.
Com o pé na tradição oral, literatura é ancestralidade, garantia de continuidade das narrativas de um povo, em que sua história se inscreve. Dar acesso às crianças, a literatura de qualidade, que transmita tal carga cultural é, acima de tudo, um ato político e amoroso – é de direito das crianças o acesso à história de seu povo e, de forma geral, à produção cultural de que a sociedade dispõe.
Cada livro é uma voz. A voz de quem?
Se ler é um ato político, cada livro é uma voz. A voz de quem? Para quem? Se quando os pequenos ouvem uma história, terão contato com uma visão de mundo, que eles tenham então contato com as mais variadas histórias, dos mais variados autores e temas possíveis. Já falamos aqui no Blog Leiturinha sobre a importância da representatividade de autores e autoras negros, por exemplo, bem como de personagens que possam traduzir nossa diversidade cultural, possibilitando com que os pequenos e as pequenas se identifiquem e sintam-se representados.
Nuang, Caminhos da Liberdade: A ancestralidade do povo africano
No Clube Leiturinha, prezamos pela maior variedade de vozes, de forma que a visão de mundo dos pequenos seja, a cada envio, transformada e ampliada. Nuang: Caminhos da Liberdade, da Editora Piraporiando, é um ótimo exemplo de como a ancestralidade da cultura afro pode ser transmitida por meio do imaginário infantil.
Janine Rodrigues é a autora do livro e também Diretora Fundadora da Piraporiando que, além de editora é consultora em arte-educação na infância. Segundo o site da instituição, “Os livros da Piraporiando refletem as muitas riquezas da diversidade cultural. O brincar, a imaginação e a criatividade se fazem presentes em todos os contos. Temos também um olhar afetuoso para a educação.”.
Luciana Nabuco, a ilustradora, apresenta, para além das palavras, em seus traços em acrílico, toda a saga do povo de Nuang, com toda carga de sentimentos e emoções que a narrativa nos proporciona. Em seus traços, é possível sentir de perto toda força e beleza do povo africano, bem como os horrores do tempo tenebroso da escravidão.
O livro, chancelado pela Fundação Cultural Palmares, conta a história de Nuang, uma garota muito habilidosa e querida por todos. Ela vivia no povoado de Uthando e, na festividade que comemorava seu aniversário, quando se tornaria uma líder real, algo terrível aconteceu com seu povo. Neste momento o livro apresenta o fenômeno histórico da escravidão, apresentando também toda rica carga cultural deste povo. Sua força e sabedoria foram traduzidas em traços coloridos e alegres e na narrativa poética, ao retratar a fuga do povo de Uthando em busca da liberdade. Ao final da história, o texto conversa ainda com toda questão indígena, ao colocar Nuang diante de um curumim, em um lindo gesto de empatia e união entre eles.
Uma leitura recomendada para momentos de reflexão entre amigos ou até mesmo na escola, para falar sobre história, respeito e liberdade e, claro, para ter um bom momento de leitura em família!
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