“O livro ilustrado é um objeto concebido inicialmente para os não leitores. Uma de suas especialidades é, portanto, atingir este público por meio de mediadores que, por um lado, compram o livro e, por outro, o leem muitas vezes em voz alta para ele.” (Para Ler o Livro Ilustrado. LINDEN, Sophie Van der, SESI-SP, 2018)
Se você é um adulto, tente se lembrar dos livros disponíveis na sua infância: quão diferentes eles eram dos livros que vemos atualmente? O mercado editorial se voltou, nas últimas décadas, à produção do livro ilustrado (ou picture book): aquele tipo de livro em que texto e ilustrações são construídos de forma tão “costuradinha” que um não pode ser lido sem o outro. Nesse tipo de livro, as imagens são também foco central da leitura, e não mais somente uma mera representação do texto escrito.
Ler imagens é ler o mundo
Nada faz mais sentido do que o livro ilustrado em uma sociedade que respira a imagem a cada segundo. Na atualidade, com todos recursos tecnológicos a que temos acesso, a imagem ocupa uma posição central. E quem quer compreender o mundo à sua volta passa, necessariamente, pela leitura das imagens que o cerca: marcas de empresas, ícones da cultura, memórias pessoais: tudo passa pela imagem, de alguma forma.
Ilustrações que produzem sentidos: quando as crianças se apropriam da obra
Ler imagens não significa, no entanto, traduzi-las. Ou seja, não significa ver uma imagem e dizer o que ela é, mas dizer sobre os sentidos que ela provoca. E nisso, as crianças são mestres! Não é difícil encontrar adultos surpresos com as associações que os pequenos fazem de determinados livros, se deparando com divertidas e inusitadas histórias inventadas por eles.
Quando isso acontece, vemos claramente que a criança se apropriou de tal forma da obra que faz suas próprias leituras da mesma. Situações como esta, corriqueiras quando se introduz o contato com os livros desde cedo, são fundamentais para a construção do prazer pela leitura e seu hábito pela vida toda.
Se o livro ilustrado é novo, historicamente, também a maioria das pessoas pode vir a conhecer este tipo de livro só na vida adulta. Nestes casos, os livros ilustrados são uma feliz descoberta com a qual os adultos podem se deliciar e se divertir (e muito!).
Assim, descortinando camada por camada do texto escrito e ilustrado, torna-se ainda mediador entre livro e criança – função poderosa em que apresenta o universo literário a uma criança, ao mesmo tempo em que constrói com ela uma carinhosa memória afetiva!
As possibilidades do livro imagem
As imagens diminuem as distâncias entre leitores e pré-leitores. Assim, com o livro ilustrado, deixamos que as imagens nos conduzam, criem suas próprias narrativas, possibilitando que leitores e pré-leitores possam “viajar” por suas páginas, em pé de igualdade, na maioria das vezes, cada qual percorrendo caminhos semânticos diferentes.
Crianças pré-alfabetizadas podem ser leitoras?
O livro ilustrado é um exercício natural de interpretação e de criatividade, perfeito para os pequenos na primeira infância, momento em que o pensamento corre livre e quando a “leitura” acontece com o corpo todo: pelas cores, sabores, pelo cheiro, pelo toque, pela musicalidade…
Pois então, diante de tantos benefícios, a Equipe de Curadoria do Clube Leiturinha se empenha sempre em selecionar e entregar os melhores livros ilustrados para marcar história na vida de pequenos leitores pelo Brasil afora, na intenção de tornar a leitura irresistível até mesmo para os adultos mediadores!
“Azul”, foi um dos últimos Lançamentos Exclusivos Leiturinha, enviado aos nossos Leitores Brincantes. Confira porque este livro não podia ficar de fora da Seleção Leiturinha:
Azul: Um livro conduzido pelas cores
O livro “Azul”, lançado com exclusividade pelo Clube Leiturinha para os Leitores Brincantes, apresenta narrativas breves, mas não menos elaboradas. Com ilustrações que privilegiam espaços em branco em contraste com o azul, poucos traços e palavras certeiras em cada dupla de páginas, os autores brincam com a imaginação dos leitores, que podem se deixar levar pelo direcionamento que a cor azul proporciona, pelo texto, pelas ilustrações, ou ainda pelos espaços não preenchidos que dão margem à imaginação e à autoria dos próprios leitores.
Toda essa infinidade de possibilidades com a cor azul só é possível dentro do planeta Terra, e é assim que o livro começa e termina. Desse modo, com delicadeza e maestria, Meritxell Martí, a escritora, juntamente com as ilustrações de Xavier Salomó, transmite uma narrativa em aberto, repleta de intertextualidades, sem perder de vista a ludicidade característica da literatura infantil.
Conversamos um pouquinho com Daniela Padilha, editora especializada em literatura infantil e juvenil. Ela nos contou um pouco mais sobre a obra e suas possibilidades na primeira infância, confira:
“Buscamos sempre editar livros que provoquem, que surpreendam o leitor. Neste livro ilustrado, a palavra direciona o olhar na história que é contada pela imagem. Ela vai dando dicas, pistas, para onde o leitor deve seguir.
Azul também pode ser considerado um livro de palavras, mas não aquele que fica restrito apenas a indicar objetos, numa relação referencial, B de bola, C de cachorro. Trata-se de uma brincadeira com elementos que podem inclusive no mundo real não ser azul, como o peixe. É uma ótima oportunidade para o pai, mãe, avó sentar com a criança e ir desvendando essa história.”
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