Imagine uma tecnologia que permita que você acompanhe e controle tudo o que seu pequeno faz. Pela tela de um tablet, é possível ver através dos seus olhos, observar seus sinais vitais e sua localização. Além de aplicar filtros que evitam situações de estresse e medo. Se você ficou assustada, ou mesmo interessada, ao ler isso, calma. É apenas o contexto do episódio Arkangel, da série britânica Black Mirror. Mas poderia não ser. Ao que tudo indica, em pouco tempo, teremos tecnologia para produzir chips de monitoramento em nossos filhos. E até mesmo, protegê-los de viver momentos estressantes com redirecionamento através de alteração da visão. Mas até que ponto essa obsessão materna, ou paterna, é saudável para pais e filhos?
Proteção ou exagero?
A obsessão materna (e paterna também) tem levado pais e mães a superproteger suas crianças e adolescentes a fim de que não se machuquem fisicamente e emocionalmente. No entanto, quanto mais protegemos, mais os jogamos para os perigos de uma vida adulta sem preparo emocional.
A falta de segurança no Brasil tem sido a grande responsável por monitorarmos os filhos o tempo todo. O medo de que algo de ruim aconteça faz com que crianças com menos de seis anos já andem com celulares para que os pais saibam onde elas estão. Permitirmos que elas passem horas em frente a telas de celulares, TV, computadores e videogames porque sentimos que ali estão protegidas. E esquecemos que com isso acabamos por gerar outros problemas.
Mas você sabe qual o limite entre o amor materno e o cuidado excessivo de zelo e controle dos filhos? A sensação que tenho é que estamos nos perdendo entre dar suporte emocional e evitar que eles vivam suas experiências que os farão desenvolver habilidades importantes para a futura vida adulta.
Educar um filho não é uma tarefa fácil.
Seja pelo medo de perder ou de ver sofrer, esses serzinhos que colocamos no mundo têm nos levado a estados obsessivos de controle. Queremos que nossos filhos estejam em segurança, estudem em uma boa escola, se alimentem bem, sejam educados e obedientes. Invadimos o espaço deles o tempo todo e esquecemos que são seres humanos com desejos e necessidades diferentes dos nossos.
Outro dia eu caminhava na rua com meu filho de cinco anos que levava na mão um pedaço de isopor com um trabalho da escola. Um vento forte bateu no isopor quebrando um pedaço do desenho que ele havia feito. De imediato ele chorou. Lágrimas rolaram no seu rosto demonstrando o quanto ele havia ficado magoado com a perda. Um aperto no meu coração me fez logo pensar em falar: “Não fica triste, a mamãe compra outro isopor e fazemos um novo desenho juntos.” Afinal, que mãe quer ver seu filho triste? Me abaixei e lhe dei um beijo no rosto ao que ele me disse: “você não vai conseguir me deixar alegre.” Foi aí que percebi. Passar por tristezas, medos e inseguranças faz parte do aprendizado. Dei-lhe o beijo e disse: “a mamãe não quer te deixar feliz, eu só quero que você saiba que estou aqui.”
Isso é o que nossos filhos precisam saber: que estaremos com eles aconteça o que acontecer. O resto é com eles. Porque um dia perderemos o controle de suas vidas. E se eles não estiverem prontos para assumir quem o fará?
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