Em fevereiro de 2019, foi realizada uma pesquisa com mulheres residentes em Portugal, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Nessa pesquisa, das 2.428 mulheres entrevistadas, apenas 18% sentem que têm “tudo sob controle”. Ou seja, conseguem conciliar tarefas da vida (trabalho, filho, relação amorosa). Isso porque a divisão de tarefas entre o casal é igual ou quase igual. Sim, você não leu errado: apenas 18%! De resto, 51% das mulheres portuguesas sentem que sua vida está abaixo das expectativas, 60% das mulheres afirmam se sentir cansadas. Esses números mostram a realidade de Portugal, mas se realizássemos essa pesquisa no Brasil e em outras partes do mundo, não teríamos números tão distintos.
Quantas vezes você ouviu o famoso “era só pedir”?
Há algum tempo, eu li umas tirinhas feitas pela cartunista francesa Emma chamadas “Era só pedir”. Nessas tirinhas, Emma relata situações cotidianas e comuns que ocorrem dentro das nossas casas, onde os “micromachismos” perpetuam. Em seu relato, ela fala que muitas vezes, quando acusamos os homens de não colaborarem com a divisão de tarefas da casa, a resposta que recebemos é “mas era só pedir.” Isso é verdade, quantas vezes você não ouviu essa famosa frase?
O que acontece quando pedimos?
Para ilustrar o que acontece quando pedimos, Emma dá alguns exemplos. Vou citar apenas um aqui.
“A mulher pede ao marido que coloque a roupa suja para lavar. Ele prontamente pega a roupa e leva até a máquina de lavar, despeja sabão dentro e coloca as roupas para serem lavadas. Pronto, sua tarefa foi concluída e ele volta a fazer as coisas que lhe dão prazer, afinal, já “ajudou” nas tarefas da casa. Quando a mulher vai desempenhar esta mesma tarefa, ela se dirige para o cesto de roupas. No caminho encontra brinquedos espalhados pela sala e sai juntando. Passa pela cozinha e percebe que precisa organizar as verduras na geladeira e lavar a louça que está na pia. Quando abre a geladeira para colocar as verduras encontra algumas coisas estragadas e começa a limpar. Percebe então, que estão faltando alguns alimentos e vai anotar na lista de compras do mercado. Por fim, ela põe a roupa para lavar, depois de duas horas executando diversas outras tarefas da casa.”
Observe: o tempo que o homem levou para colocar a roupa na máquina? Apenas 10 minutos. Se você quiser que a roupa seque (caso não tenha secadora), ainda precisa se lembrar de pedir para ele colocar no varal depois. Se identificou com esse relato?
Se soou familiar, é porque isso é o que acontece, ainda nos dias de hoje, na maioria das casas. Homens dispostos a colaborar nas tarefas domésticas, desde que as mulheres peçam. Acontece que, esse “era só pedir” gera um desgaste mental tão grande quanto o esforço físico de realizar a tarefa.
Por quê?
Porque quando pedimos algo para alguém precisamos planejar como isso será feito, em que momento. Além de analisar as habilidades da pessoa para quem estamos solicitando aquela tarefa, pois muitas vezes, talvez seja necessário ensiná-la. Nossa, só de escrever tudo isso, eu já fiquei cansada! Então, quer saber? Deixa que eu mesma faço! Planejar a rotina de um lar é tão exaustivo quanto executá-la. É aqui que precisamos iniciar a mudança.
Na minha opinião, todo processo de mudança é como o estouro de uma rolha de uma garrafa de espumante: deve acontecer de dentro para fora. Quando ela estoura de fora para dentro é porque ela se quebrou. Isso quer dizer que nós, mulheres, precisamos mudar nossas crenças em relação ao que verdadeiramente acreditamos. Porque somos nós, na grande maioria, que educamos nossos filhos homens que irão dividir um lar no futuro.
Como educar os filhos para a divisão de tarefas?
O ato de educar está muito mais centrado no que fazemos do que no que falamos. Não adianta ensinar seu filho a levar o prato dele para a pia se você continua levando o prato de seu marido, entende? A criança aprende aquilo que ela vê.
Carregar sozinha a organização de uma rotina familiar, o trabalho remunerado, a educação dos filhos e mais, a nossa própria vida, pode ser exaustivo. Além disso, todo esse esforço pode causar doenças físicas e psicológicas. É preciso aprender a dividir.
Por isso fica o convite e a reflexão: homens assumam seu papel dentro dos lares! O estereótipo do homem provedor não tem mais espaço nessa sociedade. Mulheres, abram espaço para que os homens passem a fazer o que nunca foram ensinados a fazer: pensar, estruturar e realizar tarefas domésticas em conjunto com a parceira. A caminhada ficará mais leve, eu garanto!
Leia mais: