Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomende o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês do bebê, essa não é a realidade de muitas mulheres. São diversos os fatores que levam ao desmame precoce.
1. Cesariana Eletiva
O trabalho de parto espontâneo representa a maturidade fisiológica do bebê. Ao longo do processo, mãe e bebê passam por diversas descargas hormonais. Ele é fundamental para a lactação. Independente da via de nascimento, passar pelo trabalho de parto faz toda a diferença para o sucesso da amamentação.
O problema da cesariana eletiva é simples: o bebê não está pronto para nascer. O único fator determinante de que o bebê está realmente maduro para enfrentar o mundo extra uterino é o desencadeamento do trabalho de parto. Isso não significa que todas as mulheres que passam por cesáreas eletivas não conseguirão amamentar. Porém, os estudos de relevância são feitos com dados populacionais e a literatura científica é clara. Os índices de insucesso no aleitamento materno são maiores quando o bebê nasce com data e hora marcadas. A amamentação precoce pós cirurgia cesariana é 43% menor em relação ao parto normal.
2. Pega incorreta e as suas consequências
O ajuste da pega é fundamental para que a amamentação ocorra com relativa tranquilidade. As primeiras horas e dias de vida são cruciais para que o bebê aprenda a mamar. O reflexo de sucção em bebês saudáveis geralmente é natural. Porém, o posicionamento do bebê na mama e a forma como essa sucção vai ocorrer dependem de muita paciência e aprendizado.
Quando a pega se mantém incorreta ao longo do tempo, aparecem os problemas que podem se iniciar com rachaduras que ocasionam dor e dificuldade em manter o bebê na mama. A dor, por sua vez, desencoraja a amamentação. Isso resulta em acúmulo de leite nos ductos, ingurgitamento, formação de abscessos e mastite. Os ajustes de pega associados à prática da livre demanda, ou seja, de acordo com as necessidades do bebê, são fundamentais para o não-início do círculo vicioso.
3. Uso de bicos (chupetas e mamadeiras)
Se existe um conselho importante a ser dado a gestantes e puérperas, ele se resume em: evitem ofertar ao bebê bicos artificiais como chupetas e mamadeiras. A indústria trabalha incansavelmente para convencer mães de que tais artefatos são inofensivos à amamentação. Porém, grandes estudos de impacto na comunidade científica concluem o contrário: chupetas e mamadeiras causam confusão de bicos.
A forma como o bebê suga o seio materno é diferente da forma como a sucção é feita em bicos artificiais. Como o bebê precisa aprender a mamar e treinar a cada mamada para a manutenção da amamentação, a cada vez que é oferecido um bico, a confusão se instala. O bebê passa a sugar a mama de forma incorreta, extraindo quantidade insuficiente de leite e gerando, novamente, o desencadeamento de um círculo vicioso que culmina em desmame.
4. Círculo vicioso das fórmulas infantis
Problemas graves relacionados à amamentação são raros e consultoras em aleitamento materno geralmente possuem conhecimento técnico teórico-prático para a resolução.
A regra é: não existe leite materno fraco. Todo leite materno é nutritivo e “forte” o suficiente para que o bebê se alimente, cresça e se desenvolva. Quando uma fórmula infantil é introduzida na alimentação do bebê sem uma necessidade clínica real , instala-se também um processo que pode culminar em desmame precoce.
A composição química do leite artificial é bastante diferente da composição do leite materno, em quantidade e em qualidade de nutrientes e outros fatores nutricionais. O que ocorre é que a fórmula acaba promovendo maior saciedade ao bebê devido ao peso molecular de seus componentes, o que gera menor procura pelo peito. Como o maior estímulo para a produção de leite é justamente a sucção e o aleitamento materno em livre demanda, tal produção diminui. Quanto menos o bebê mamar no peito, menor a produção láctea pela mulher. Não é necessário dizer qual o fim desse processo, não é? Desmame.
5. Choro do bebê
Vivemos inseridos em uma cultura em que o bebê é visto como “algo” que precisa ser controlado, domesticado, inserido em uma rotina rígida de alimentação, sono e estimulação.
Ocorre que bebês choram e não apenas por fome. O choro do bebê é encarado como angustiante para todos os cuidadores e, inadequadamente, se torna algo a ser solucionado. O que precisa ser compreendido é que bebês choram por que têm sentimentos, emoções e sensações com as quais não sabem lidar e que dependem exclusivamente de seus cuidadores, em especial a mãe, para que sejam amenizados.
Bebês choram, inclusive, de saudade da vida intrauterina. Se todo choro do bebê for interpretado como fome, teremos a instalação do ciclo de tensão-medo-dor que resultará na introdução de bicos e de substitutos do leite materno e, consequentemente, como já elucidado acima, no desmame precoce.
6. Preconceito
Você sabia que muitas mães deixam de amamentar seus bebês por sentirem vergonha de amamentar em lugares públicos? Quando se pratica a livre demanda, o bebê deve mamar quando tem fome. Isso pode acontecer na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê!
Com medo dos olhares de reprovação oriundos de pessoas que carregam em si o preconceito com relação a um ato natural e fisiológico, lactantes tentam driblar situações constrangedoras ofertando mamadeiras ao invés das mamas em locais onde se sentem julgadas. O machismo oprime mães que amamentam em público quando, na verdade, nossa sociedade deveria honrá-las e apoiá-las.
Algumas cidades e estados brasileiros já possuem legislações referentes à proteção de mulheres que forem expostas a constrangimentos por estarem amamentando seus filhos em locais públicos e de acesso coletivo. Poços de Caldas é uma delas!
Promover e proteger a amamentação é dever de todos nós. Quando somos rede de apoio efetiva a mães e bebês estamos realmente desempenhando nosso papel enquanto cidadãos. Amamentar é uma empreitada praticada por mães, mas deve ser vista como responsabilidade de todos enquanto sociedade.
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