Quando penso em uma pessoa distraída logo me vêm à mente a imagem de alguém desatento. Alguém que não consegue prestar atenção por muito tempo, que afasta o pensamento com facilidade e perde o foco facilmente com coisas que estão ao seu redor. Você conhece alguém assim? Aliás, você conhece a síndrome dos pais distraídos?
Você se identifica com essa situação?
Outro dia estava almoçando com meu marido e meu filho. Meu filho contou uma história sobre um brinquedo que ele tinha visto na internet. De repente ele disse: “Papai, será que eu posso ter esse jogo no dia das crianças?” Silêncio. Eu olhei para meu marido e ele tinha os olhos fixos na parede enquanto levava a comida à boca em um processo automático. Mais uma vez meu filho tentou: “Papai?” Nada! Dei uma cutucadinha nele por baixo da mesa fazendo com que ele saísse do estado de “transe” em que se encontrava. Novamente a pergunta foi jogada e, mesmo sem saber sobre qual jogo nosso filho falava, ele simplesmente respondeu: “Sim, vamos pensar no caso”.
O tempo das crianças é diferente do nosso
O fato das crianças pequenas estarem sentindo “menos” os desafios do confinamento social durante a pandemia do COVID-19 está diretamente conectado a elas viverem essencialmente no momento presente. Daqui a pouquinho, logo mais, amanhã e ontem são denominações temporais sem sentido para as crianças pequenas. Elas conhecem o agora. Ainda não conseguem compreender o que significa esperar um pouco. Por isso temos tantos conflitos entre pais e filhos. Queremos fazer as coisas com eles no nosso tempo. Porém, quase nunca é o tempo presente. Enquanto eles desejam que seus desejos e necessidades sejam atendidos no presente.
Parentalidade consciente
Mas então, eu li um livro sobre parentalidade consciente. Ele diz que uma das formas de reduzir os conflitos com os filhos é dedicarmos um tempo para estar presentes com eles. Decidi então começar a praticar. Combinei com meu filho que após o trabalho iremos jogar aquele jogo, brincar de carrinhos, bola… Enfim, teremos nosso tempo juntos. Ele aguardou ansiosamente ao longo do dia por aquele momento combinado. Quando o momento chegou, sentei com ele e decidimos jogar dominó.
Enquanto ele organiza as peças, eu digo que só vou na cozinha aquecer a janta. Retorno e iniciamos o jogo. Meu telefone toca e eu levanto para atender. Enquanto eu converso com a pessoa, meu filho começa a me chamar. Desligo o celular, volto a sentar. Reiniciamos o jogo. O feijão começa a cheirar na cozinha, levanto e então vou desligar o fogo. Na volta, vejo que o quarto dele está uma bagunça. Chego na sala reclamando e dizendo que se ele não arrumar tudo não vai ter mais jogo. Ele protesta. Ligo a televisão para ouvir uma diferente. Começo a prestar atenção nos números da pandemia enquanto meu filho chora e reclama que não terminamos o jogo.
Ao olhar para o relógio, já se passou uma hora e eu preciso terminar a janta, arrumar o banho, colocar ele para dormir e dar uma olhada nos e-mails. Também, assistir um episódio da minha série favorita antes de encerrar o dia. Fico nervosa com a quantidade de coisas que ainda precisam ser feitas e o choro do meu filho começa a me irritar. Ele segue me acusando que não terminamos o jogo. No fim, chego a conclusão de que essa história de parentalidade consciente não funciona mesmo porque as crianças nunca estão felizes com nada.
Pais distraídos: focar no presente é desafiador
Uma das principais coisas que percebemos quando tentamos focar nossa atenção no presente é quão desafiador isso pode ser. Nossa mente está constantemente produzindo pensamentos e nossa atenção é levada para esses pensamentos. Não sermos capazes de focar nossa atenção no que estamos vivendo nesse momento é uma das grandes causas de culpa e sofrimento na parentalidade. Temos cada vez mais meios tecnológicos ao nosso dispor, o que leva a um processo de distração maior. Distraímos-nos pensando no que fizemos, no que temos pra fazer, nas mensagens do celular, nas notícias da televisão e assim por diante. Muitas vezes por isso acabamos sendo pais distraídos para nossos pequenos.
A brincadeira é um dos assuntos mais sérios para uma criança. E deveria ser para um adulto também. Através da brincadeira a criança desenvolve diversas habilidades: comunicação, criatividade, concentração, entre outras. E quando brincamos com a criança, lemos um livro ou simplesmente a escutamos estamos criando vínculos afetivos e de confiança com ela.
Por isso, experimente treinar estar presente
Tire um tempo para você ficar com você mesma, sem interferências. Treine ouvir o outro. Peça que seu filho lhe conte algo que aconteceu com ele ou mesmo uma história e ao final se esforce para fazer pelo menos três perguntas sobre o assunto que ele trouxe. Isso vai treinando seu cérebro para prestar atenção no que está sendo dito. Quanto mais você der essa permissão a você mesma, mais sucesso terá. Com consistência somos capazes de mover montanhas! Conta para a gente, você já sofreu da síndrome dos pais distraídos na sua casa?
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