O poder da contação de histórias em hospitais

abr 29, 2020 | Leitura

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Você já reparou que tem palavras que combinam? Café combina com pão de queijo, formiga com açúcar e criança com brincadeira. Além de brincadeira, criança combina com escola, parque, risada, cores e curiosidade. A palavra infância casa bem com tudo que esbanja alegria e energia! Mas nem só de palavras que combinam decorre a vida. Às vezes esbarramos com palavras que desafiam a harmonia de uma frase e até a harmonia de uma vida. É o caso das palavras criança e hospital, criança e internação, criança e doença. 

Por si só, a internação já impõe uma série de restrições. Quando falamos da internação de uma criança, a situação é ainda mais delicada, afinal os pequenos ainda estão aprendendo a ler o mundo. Por que estão ali? O que é estar doente? São alguns questionamentos que podem surgir. Diante desse cenário, nascem iniciativas para tornar a estadia no hospital menos dura para elas. Uma dessas práticas é a contação de histórias em hospitais, que amenizam as tristezas e as dores e tornam momentos difíceis um pouquinho mais leves.

Histórias que humanizam 

Em um primeiro momento, podemos achar que a única função da contação de histórias em um hospital é distrair as crianças e conferir mais alegria a uma rotina tão delicada. Não é um erro, realmente as histórias cumprem esse papel! Mas para além disso, também estão todos os benefícios e prazeres que moram no encontro entre o livro e leitor. Uma história pode ajudar a passar por uma fase ruim ou ainda colaborar para que os pequenos signifiquem a sua permanência no hospital. Segundo um estudo desenvolvido no Hospital Pediátrico da Universidade Federal de Santa Catarina, o desconforto e a dor dos pequenos parece ceder lugar às risadas ante as passagens divertidas de uma história. 

Assim, para além de distração, o livro é companhia, é hospitalidade e é lar. Especialmente em um lugar estranho. Se engana quem acha que as histórias envolvem apenas as crianças, os adultos, sejam os pais ou os profissionais, também são embalados pelas vozes que dão vida às narrativas!

A leitura literária: um direito de toda criança 

Uma criança hospitalizada é, antes de tudo, uma criança. Assim sendo, deve ser respeitada, amada e fortalecida. Em meio a todos os seu direitos enquanto criança, peço licença para falar de um em especial: os direitos de leitora. Como escreveu Patricia Auerbach no livro ‘Os direitos do leitor’:

“Todo pequeno leitor tem o direito

de ser herói,

escolher o personagem principal,

e decidir quando e como ler

[…]

Todo pequeno leitor tem o direito de contar histórias, 

ouvir histórias

e inventar tudo  outra vez.

todo pequeno leitor tem o direito 

de sonhar sempre 

com um final

feliz.”

O texto de Patrícia é lindo e deixa claro o direito dos pequenos de se relacionarem com as histórias conforme o seu desejo. A prerrogativa é especialmente útil quando pensamos no ambiente hospitalar. Nenhuma ação, por mais bem intencionada que seja, deve ultrapassar a vontade da criança em relação à leitura. Se naquele momento ela não quiser ouvir histórias esse também é um direito dela. 

Além disso, o texto reforça a dimensão do direito da leitura. Ou seja, para uma criança ouvir histórias não é um ‘plus’ ou um acessório, mas sim fundamental, assim como arroz e feijão. Já dizia Antonio Candido, a fantasia é uma espécie de necessidade universal que nos ajuda a manter o equilíbrio. Assim, as histórias passam a ocupar um papel especial na recuperação dos pequenos, ampliando o sentido da palavra ‘cuidado’. 

Experiências de contação de histórias em hospitais

No Brasil existem muitos projetos e ONG’s que desenvolvem ações de contação de histórias em hospitais. Um deles é a Associação Viva e Deixe Viver, criada em 1997. Modelo para outras iniciativas, a associação tem como missão formar, por meio da arte de contar histórias,  cidadãos conscientes da importância do acolhimento. Assim como também produzir bem-estar a partir da empatia, ética e afeto.

Um belo depoimento!

Na página oficial do projeto, Valdir Cimino, fundador e diretor da Associação, compartilha a sua experiência:

“Permitir que o Pinóquio e Gepetto possam receber a ajuda dos Powers Rangers para sair da barriga da baleia, a Cinderela pode até ter joanete e nós, adultos, podemos até nos sentirmos felizes ao ouvir um “não” como esse: “não, hoje eu não quero ouvir história”. Um não pode ser muito importante para quem não pode nunca negar as agulhas, os remédios e os tratamentos de um hospital.”

Experiências como a de Cimino reafirmam o compromisso e o respeito com a infância, em toda a sua beleza e dignidade! Vale lembrar que iniciativas como esta são fundamentais,  no entanto não são exclusivas. A prática da contação de histórias também pode e deve ser realizada por aqueles que estão todo o dia ao lado dos pequenos. Afinal, contar histórias para além de uma prática de vida é um ato de amor!

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Juliana Freitas

Formada em Psicologia, é apaixonada pela ciência e pelas artes literárias. Estuda o encontro entre a criança e o livro, a criança e o psicólogo e a criança e o mundo.

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