São 20h, as crianças jantam, escovam os dentes e, após ouvirem uma história, pegam no sono. Nada de muito novo nessa cena, não é? Não fosse pelo fato de que elas estão em uma creche, e não em suas casas. Diante da necessidade de pais que trabalham em diferentes turnos e/ou possuem mais de um emprego para arcar com suas despesas, a demanda por creches noturnas tem crescido cada vez mais. Nesse contexto, surgem diversas questões: Trata-se de educação ou cuidado? Quem deve arcar com os custos dos novos turnos das creches? O quanto isso pode interferir no desenvolvimento dos pequenos? Estamos terceirizando demais a criação de nossas crianças? Ou iniciativas como essas são formas de auxiliar pais e mães que, muitas vezes, não tem outra opção senão trabalhar em diferentes turnos para sustentar a casa e os filhos?
Creches noturnas no Brasil: necessidade, opiniões e embates
Embora, se comparado ao número de crianças em idade pré-escolar no Brasil, a quantidade de crianças em creches noturnas ainda seja pequena, essa demanda só cresce. Nos últimos cinco anos, ao contrário de todas as outras etapas de ensino, que perdem alunos todos os anos, as matrículas em creches noturnas aumentaram 44,5%. Isso mostra que a necessidade não só existe, mas vem aumentando gradativamente.
Com uma oferta de horários variada, como por exemplo de 4h30 à 23h45, a educação infantil noturna tem se espalhado pelo país, dividindo opiniões entre pais, educadores e gestores, quanto aos seus impactos no desenvolvimento infantil e a origem dos recursos financeiros para esse tipo de atividade.
Para driblar o embate quanto a prejudicar o aprendizado das crianças, as creches noturnas têm se atido a oferecer aos pequenos apenas cuidados no período da noite, restringindo as atividades ao dia. Mas aí surge a segunda questão: Se trata-se apenas de cuidados, seu financiamento deveria vir da educação?
Considerando que muitas das creches noturnas são mantidas com recursos municipais, que já não são muitos, aparecem algumas possibilidades para resolver a situação, como responsabilizar as empresas, que poderiam criar espaços onde os pais pudessem deixar os filhos enquanto trabalham, criando assim uma parceria entre municípios e empresários. Ou ainda transferir a demanda para áreas assistenciais dos governos, ao invés da educação.
O cenário em outros países
A procura por creches noturnas não é exclusividade do Brasil. Pelo contrário, países como Estados Unidos e até a Suécia, que é considerada referência em educação infantil, já estão se adaptando a necessidade das famílias por horários alternativos. Nos EUA, inclusive, já existem até mesmo creches 24h, onde os pequenos passam a noite e, no dia seguinte, são levados pelas próprias “cuidadoras” para a creche diurna. Na Suécia, atualmente, das 290 áreas administrativas do país, 123 possuem creches noturnas, que já são frequentadas por quase 5 mil crianças.
Muitas questões e poucas saídas…
Nesse cenário, para algumas crianças, os membros da equipe da creche acabam cumprindo o papel dos pais, servindo o jantar, ajudando com as lições de casa, com a higiene, e na hora de dormir. Isso nos faz refletir sobre até que ponto “terceirizar” a criação dos filhos pode prejudicar os vínculos familiares e o desenvolvimento da criança. No entanto, ainda que preferissem que os seus pequenos estivessem em casa, o alto custo para contratar uma babá, a necessidade de trabalhar – mais e mais – para manter a casa e os filhos, a busca por uma vida melhor, com a dupla jornada entre trabalho e estudos, e, ainda o, cada vez maior, número de pais e mães solteiras(os) que precisam cuidar de tudo, muitas vezes, sem ajuda, faz com que as creches noturnas sejam a melhor e, às vezes, até a única alternativa.
Qual sua opinião sobre essa questão? As creches noturnas são problema ou solução? Compartilhe aqui com a gente!
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