A criança não para quieta um minuto, tem dificuldade para focar e prestar atenção em qualquer coisa, seja em casa ou na escola, interrompe todo mundo e chega a atrapalhar a aula… Aliadas a outras questões, essas características podem configurar um quadro de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ou, como é mais conhecido, TDAH. Cada vez mais em pauta, o TDAH é um dos transtornos neuropsiquiátricos mais comuns na infância, atingindo cerca de 3 a 5% das crianças em idade escolar, de acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção. Para entender melhor sobre os sintomas, diagnóstico, consequências e tratamento de crianças com TDAH, nós conversamos com a neuropsicóloga Betânia Alves Veiga Dell’ Agli, que é pós-doutora pela Faculdade de Ciências Médicas pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e fundadora do Casulo – Centro de Atenção à Aprendizagem e Comportamento Infantil.
O que é e como o TDAH pode afetar a vida e o desenvolvimento dos pequenos?
De uma maneira geral, o TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico caracterizado pela dificuldade de concentração e foco, chegando ao ponto de afetar e causar prejuízos na vida social, escolar, emocional e nas interações familiares da criança. “O transtorno existe e traz muito sofrimento à criança e à família. Por este motivo, deve ter toda atenção. Esse apoio deve ser realizado em conjunto entre escola, família e equipe de profissionais especializados no tratamento dos transtornos da infância”, afirma Betânia Alves. Portanto, ao perceber sinais que possam indicar Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, é importante que o adulto procure ajuda de uma equipe profissional para diagnosticar e iniciar o acompanhamento e o tratamento da criança. Segundo a neuropsicóloga Betânia, “o diagnóstico de TDAH na infância deve ser realizado por uma equipe interdisciplinar, composta por, no mínimo, um médico (neurologista ou psiquiatra), neuropsicólogo infantil, psicopedagogo e fonoaudiólogo escolar.
Como saber se, realmente, se trata de TDAH?
Segundo Betânia, embora hoje em dia os critérios sejam mais conhecidos, “é muito comum vermos diagnósticos realizados sem o aprofundamento investigativo que merece, ou seja, sem ser realizado por equipe interdisciplinar especializada no desenvolvimento infantil. Isso é preocupante, porque um diagnóstico que não visa o aspecto da funcionalidade pode contribuir para a manutenção do rótulo, tão criticado ao longo da história. O diagnóstico deve ter a função de auxiliar no desenvolvimento e não rotular”.
Quando falamos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade na infância, pode surgir uma importante questão: como saber se a criança, realmente, tem TDAH ou se ela é apenas muito ativa? Para Betânia, é possível identificar quando se trata de sintomas do transtorno observando 4 sinais:
1. Os sintomas acontecem em pelo menos dois lugares diferentes.
2. Os sintomas persistem mesmo após mudanças nas condutas educacionais.
3. Geralmente, há algum membro (pai ou mãe) da família que tem os mesmos sintomas.
4. E o mais importante e que engloba os outros: os sintomas impactam no desenvolvimento da criança.
Como é o tratamento?
Observados os sinais, consultada a equipe profissional e dado o diagnóstico, é hora de passar para o tratamento. De acordo com a neuropsicóloga, “o tratamento do TDAH deve envolver o uso de medicamento e tratamento comportamental: terapia com a criança (a Terapia Cognitivo Comportamental é a mais indicada), orientação à família e à escola. No caso de problemas de aprendizagem, deve ter o acompanhamento psicopedagógico concomitante. Em casos mais leves e com uma família mais organizada, é possível tratar sem remédio. A opção pela medicação é feita quando há impacto na vida da criança”. Aí surgem as dúvidas:
Os remédios podem fazer mal às crianças? Causam dependência? E efeitos colaterais?
Este é um tema delicado, que varia de acordo com o caso e com a criança, afinal cada ser é único, com suas particularidades e necessidades. Por esse motivo, o acompanhamento de uma equipe interdisciplinar é fundamental para que o tratamento seja realizado de maneira correta e ponderada, sem prejudicar a vida ou o desenvolvimento da criança. Sobre o assunto, Betânia esclarece: “Estudos de revisão da literatura demonstram que a medicação não é prejudicial. Isso não quer dizer que não possa ter efeitos colaterais. Um deles pode ser o emagrecimento. Existem outros, mas a medicação deve trazer benefícios à criança e não ser prejudicial. Por este motivo deve ser avaliada pela equipe, família e escola. A medicação, quando bem empregada, pode minimizar impactos afetivos, sociais e acadêmicos e possibilitar um desenvolvimento mais adequado”. A neuropsicóloga também ressalta: “O tratamento medicamentoso não tem o sentido de fazer a criança ficar mais atenta e menos hiperativa para isentar a família e o professor de responsabilidade no seu trabalho. Pelo contrário, a medicação deve dar abertura para que as intervenções ocorram de forma adequada. Todos nós temos a obrigação de cuidar do desenvolvimento e protegê-la sempre”.
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