Os benefícios do aleitamento materno são de domínio público. É consenso popular que amamentar um bebê traz incontáveis benefícios para a mãe e o filho. Além disso, o meio ambiente também agradece, pois, o consumo de fórmulas infantis está diretamente relacionado à geração de poluentes.
As vantagens psicológicas também são muito estudadas. Dentre elas, estabelecimento de vínculo, confiança, reafirmação e conforto estão entre as mais citadas. Diante de tantos reconhecimentos, diversos países estabeleceram respeitados programas visando proteger e promover o aleitamento materno. Entre eles, o Brasil, que se destaca no âmbito de proteção à maternidade e infância sendo o país detentor da maior rede de Bancos de Leite Humano do mundo. No entanto, ainda precisamos discutir sobre o desmame precoce e suas consequências.
Qual a realidade sobre a amamentação no mundo?
Diante de tantas vantagens, é de se imaginar que as políticas públicas sejam efetivas. Que os índices de aleitamento materno exclusivo (AME) sejam alcançados conforme recomendações internacionais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o leite materno seja oferecido ao bebê desde as primeiras horas até o sexto mês de vida. Sem introdução de água, chás e complementos, incluindo leites de outros mamíferos, in natura ou industrializados. Somente a partir dos 180 dias de vida, é que o bebê possui, maturidade cognitiva e fisiológica para receber outros alimentos. Entretanto a realidade não é correspondente ao ideal.
O que define o desmame precoce?
Entende-se por desmame precoce o abandono parcial ou total do aleitamento materno antes do sexto mês. No Brasil, a média de aleitamento materno exclusivo é de 54 dias. A OMS recomenda também que a criança continue recebendo o leite materno até o segundo ano de vida ou mais. Novamente o Brasil encontra-se abaixo da média, com 342 dias, ou seja, menos de um ano.
Por que o desmame precoce acontece?
Muitos fatores são considerados como determinantes do desmame precoce. As intenções em amamentar seu bebê são demonstradas pela mulher ainda na gestação. A maioria das mulheres inicia o pré-natal demonstrando preferência pela via de parto normal. Portanto a decisão pelo aleitamento materno exclusivo também é referida pelas gestantes.
Ao longo do período gestacional, a amamentação toma sentidos diversos. As dificuldades e obstáculos geralmente são banalizados, dando espaço à romantização. A maternidade e o aleitamento materno são referidos como momentos especiais. Chegando a ponto de ocorrer silenciamentos de tudo o que significa não ser tão positivo.
Nossa sociedade, patriarcal e capitalista, coloca as mulheres-mães em condições diversas de vulnerabilidade especialmente na fase do puerpério. Frente a esse contexto e com o adicional da falta de informação de qualidade, com embasamento científico, temos uma grande mola propulsora do desmame precoce.
Precisamos de uma rede de apoio!
Um dos dilemas enfrentados tem a ver com a alimentação de seu recém-nascido. Aquele ser pequenino e indefeso precisa ser alimentado. Em tese, a única responsável por sua alimentação é a sua mãe.
A puérpera, às vezes cansada da maratona extenuante do parto normal ou se recuperando de um parto cirúrgico, precisa de uma rede de apoio para poder passar por esses momentos iniciais com mais leveza e tranquilidade. Uma verdadeira mistura de hormônios circulam em sua corrente sanguínea. As sensações podem variar desde uma alegria extasiante até um medo paralisador. Tais questões interferem diretamente na produção e na ejeção do colostro e, posteriormente, do leite de transição e do leite maduro.
A descida do leite, que acontece geralmente a partir de 48 a 72 horas após o nascimento, pode ser extremamente dolorosa caso a mulher não tenha uma rede de apoio eficiente. É necessário também que a proteja dos apelos de consumo de artefatos e de substitutos do aleitamento materno (chupetas, mamadeiras, fórmulas infantis).
Dentre os componentes dessa rede, além de familiares e amigos próximos, é recomendável que exista um profissional que tenha conhecimento técnico teórico e prático sobre o manejo da amamentação. Consultoras de aleitamento materno vêm ganhando espaço no mercado de trabalho. Elas representam um investimento que pode salvar a amamentação com um custo bem inferior ao que o que seria gasto em produtos para substituir o leite materno.
Muitos profissionais da saúde não estão preparados para lidar com essa questão
O discurso médico vinculado ao despreparo dos profissionais de pediatria quanto ao aleitamento materno é preocupante.
A literatura científica reforça que os profissionais de medicina não recebem treinamento adequado quanto ao manejo clínico da amamentação durante a graduação. Os apelos de consumo das multinacionais produtoras de fórmulas infantis atingem tais profissionais em seus consultórios. Até mesmo nos ambulatórios das Unidades Básicas de Saúde.
O marketing agressivo da indústria trabalha exaustivamente com o convencimento dos profissionais de saúde. Oferecem alternativas ao leite materno chegando até as classes sociais mais vulneráveis. As duas variáveis desta equação – despreparo acadêmico/profissional e apelo capitalista de uma sociedade baseada no consumo desenfreado e na crença de que o que é natural e fisiológico não tem valor, resultam em um grave cenário de promoção em massa do desmame precoce.
Mulheres que conseguem driblar os dois principais obstáculos ao início e à manutenção da amamentação podem então se deparar com a licença maternidade de 120 dias. Esse é um período inferior ao preconizado para que o bebê mame somente no peito. A manutenção do AME se torna um novo desafio frente às longas jornadas de trabalho enfrentadas pela mulher.
Confira agora os 6 fatores mais comuns que levam ao desmame precoce.