Na maioria das vezes, discordar é inevitável, principalmente com a convivência. Assim, com o casamento, muitas vezes vêm as inevitáveis discussões. Mas, afinal, discutir na frente dos filhos é um problema?
O casamento – e as discussões – depois dos filhos
Para além da maternidade/paternidade, existe uma parceria – um casamento, um companheirismo. Uma relação que antes, não tinha momento certo para desfrutar do deleite de beijos amorosos ou abraços quentes, não tinha hora para acertar aquele impasse do atraso para o almoço, do “eu te amo” não dito. Os carinhos e as discussões aconteciam, em certa dose, sem restrição de horário.
Afinal, um lar é o lugar mais íntimo para que essas situações aconteçam naturalmente, para que uma “briga” se transforme em uma reconciliação, para que um desencontro se transforme em um debate. E é no momento em que mais precisamos que muitas vezes, acabamos por encontrar problema naquilo que deveria ser a solução: a comunicação sofre. O diálogo que deveria ser o principal aliado, vira um problema.
Aí o filho nasce e, desde sempre ouvimos que não é bacana discutir na frente da criança. “Ele se tornará um adulto rancoroso”, “ele não merece presenciar essas discussões”, “não é certo discutir na frente dos filhos”, “essa é uma conversa de adulto, não a faça na frente do bebê”. Em meio a tantas opiniões não paramos para refletir sobre o impacto real que discutir na frente de uma criança pode gerar.
A diferença entre um briga e uma discussão
Em primeiro lugar é importante esclarecer as diferenças entre uma briga e uma discussão. Briga é quando duas pessoas se atacam inconsequentemente, de forma violenta, seja física ou até mesmo verbalmente, sem ter como fim comum a resolução de um problema. É quando ataques valem mais do que tréguas ou soluções.
Discussões são quando pessoas debatem um problema comum e buscam um resolução para eles. Existem discussões mais quentes, nas quais as duas partes se exaltam, mas sem perder a cabeça ou sair desvairadamente atacando a outra parte. E as mais amenas, onde um problema apontado por uma das partes é confrontado pela outra de forma ponderada e equilibrada. Mas o que define uma discussão é levantar os prós e os contras de um problema sem usar a violência, seja ela verbal ou física.
Discussões acontecem toda hora, seja porque o marido demorou demais para atender um chamado, quando alguém exalta o tom sem necessidade, quando aquele plano sai bem diferente do que o previsto. Brigas são situações agressivas, que marcam de forma negativa a rotina. Discussões são necessárias para acertar pequenos impasses do dia a dia. Brigas deixam no ar um clima de desavença, têm consequências negativas psicologicamente e, por vezes, fisicamente.
Mas, afinal, posso ou não discutir na frente do meu filho?
Discutir é um ciclo. O assunto entra em pauta, as duas partes se posicionam, se opõem, discutem, e, depois, se acertam. Quando as discussões seguem esse roteiro, não há problema em que elas aconteçam de forma natural na frente de um filho.
Discutir é necessário para aprender a educar em par um ser humano. É usar o diálogo para acertar diferenças na forma de criar um criança, por exemplo. É natural casais discutirem. É natural se posicionar de forma diferente à postura do outro, é natural conversar sobre isso. E é importante que os pequenos saibam sobre ciclos. Sobre raiva e calma, sobre discussões e conciliações, sobre felicidade e tristeza.
O debate é um aliado!
É válido e necessário criarmos crianças que saibam que discordar não é algo negativo, desde que elas façam isso de maneira respeitosa. Isso é criar pessoas que assumem a responsabilidade sobre suas posições, consideram a postura do outro, que sabem que toda ação gera uma consequência. Que sabem que pais são humanos e que erram mas que também acertam e que tudo bem acontecer isso. É o que vai inspirar nossos filhos a estarem abertos a ouvirem a opinião alheia e, quando necessário, debatê-la. E também a estar convicto e não ter medo de expor sua própria opinião, sabendo argumentá-la.
No mais, resolver impasses implica em refletir e buscar soluções, esse movimento incita a criatividade e não há contribuição melhor para o seu filho do que estimular a sua capacidade criativa! Afinal, as melhores ideias e inovações nascem de impasses.
Agora brigas, as brigas geralmente acontecem em famílias que não possuem o diálogo como a principal via de resolução de conflitos. Em famílias que sabem dialogar com respeito, impasses mais árduos podem até vir em forma de uma discussão mais quente, mas nunca partem para o uso da violência. Não é saudável que brigas aconteçam na presença de uma criança e nem mesmo na ausência. Brigas geram marcas e isso não é positivo para as relações.
As discussões são inevitáveis…
Mesmo as pessoas super controladas, usam da disciplina positiva como regra na educação, em um momento ou outro, acabam discutindo. Criar filhos, como explícito no início do texto, é muito difícil e tudo bem que não estejamos 100% de acordo o tempo todo e tenhamos que discutir em algum momento. Acontece. Isso deve ser usado como uma forma de transmitir aprendizado às crianças. Afinal, nós, humanos, aprendemos justamente nas relações.
O importante é sempre lembrar de pedir desculpas, também na frente dos pequenos, e demonstrar o quanto somos felizes por estar juntos com quem amamos e que tudo bem que essas relações sejam preenchidas por momentos de muita felicidade e outros mais tensos. Trilhar caminhos tem mesmo dessas coisas. E tudo bem. O importante é caminhar juntos.
Leia também: