Quem nos acompanha por aqui sabe o quanto somos apaixonados por tudo o que envolve o meio literário e o quanto sabemos da importância de estimular o hábito da leitura desde cedo. No entanto, sabemos também o quanto isso pode ainda estar distante da realidade de grande parte do nosso país. De acordo com a 4ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – 2016, 30% dos brasileiros nunca compraram um livro, 67% não tiveram uma pessoa que incentivasse a leitura ao longo da vida e 44% da população não lê livros.
Além disso, uma parte significativa ainda precisa se preocupar com coisas básicas como moradia, transporte e alimentação, o que acaba deixando a preocupação com o hábito da leitura, por exemplo, em segundo, terceiro, quarto, quinto… plano. Por isso, ficamos tão felizes e emocionados ao encontrarmos iniciativas que levam a leitura para jovens e crianças que, talvez, não tivessem essa oportunidade no lugar onde vivem. Este é o caso da Livreteria Popular Juraci Nascimento (LPJN), projeto fundado por Guilherme Roberto, no Complexo do São Carlos, no Rio de Janeiro (RJ).
Livreteria Popular Juraci Nascimento: aprendendo e ensinando a sonhar por meio dos livros
Com o objetivo de promover o acesso à literatura, colaborar com a formação de novos leitores e, assim, criar novas perspectivas à população, a Livreteria Popular Juraci Nascimento nasceu em 2014, no Complexo do São Carlos, um conjunto de 4 favelas (Zinco, São Carlos, Querosene e Mineira) com aproximadamente 28 mil moradores, localizado na região central do Rio de Janeiro, nos bairros Estácio e Catumbi.
O projeto homenageia Dona Juraci, ativista cultural do Morro do São Carlos que promovia saraus e outras atividades culturais para as crianças e jovens da comunidade, entre os quais estava o Guilherme Roberto, fundador e coordenador da Livreteria Popular Juraci Nascimento. “Existe o antes e o depois da criação da Livreteria Popular Juraci Nascimento (LPJN). Nossas ações têm um impacto significativo no dia a dia e também na vida de cada um deles inicialmente por sermos a única ONG de todo o conjunto de favelas que tem como missão aproximar os livros deles e eles dos livros. Eles percebem que a nossa existência aqui não é algo com início, meio e fim. Estaremos aqui todos os dias da semana e com um discurso horizontal. Onde eles podem a todo momento opinar a respeito de todas as nossas atividades”, conta Guilherme.
Morador da favela do Zinco, no Complexo de favelas do São Carlos, Guilherme estudou na Fundação Bradesco e cursou jornalismo na PUC-RJ como bolsista integral. Apaixonado por livros desde pequeno, percebeu logo o poder transformador da literatura e decidiu que queria espalhar isso para outras crianças e jovens, assim, no final de 2014, fundou a Livreteria Popular Juraci Nascimento. Hoje, a Livreteria conta com quatro projetos: o Triciclo Literário, projeto de contação de histórias pelas ruas do Complexo do São Carlos com o objetivo de fortalecer o interesse das crianças e jovens pela leitura; a Resenha de Livros, encontros quinzenais com o objetivo de debater os livros indicados pela Livreteria e lidos pelo grupo, além de realizar passeios culturais pela cidade; o PAD (Programa de Apoio e Desenvolvimento à Leitura), programa de reforço e mediação de leitura com uma metodologia individualizada.
Nesses quatro anos de existência da LPJN, mudamos a percepção de cada um deles a respeito da importância e relevância de tornar a leitura um hábito. As crianças sentem a nossa falta e nos cobram por mais dias de ações, e os jovens, por incrível que pareça – eles são os mais difíceis de agradar – também cobram a nossa volta, fazem lista de espera para participar dos projetos e quando participam pedem pra voltar. E assim, nos esmeramos muito para poder apresentar projetos de qualidade. Que realmente façam eles saírem dessa zona de conforto que é a idade que eles têm, e principalmente o ambiente em que nasceram. Utilizamos a literatura para fazer as crianças pensarem no meio ambiente à sua volta, como cuidar e preservar. E os jovens repensarem as suas posições e convicções, frente às questões da sociedade atual, que os atingem, mas, eles por viverem cada um no seu maravilhoso mundinho, acabam não percebendo. Utilizamos uma literatura de aproximação para transformação. – Guilherme Roberto, coordenador e fundador da Livreteria.
Saiba mais sobre esta iniciativa, acessando Livreteria Popular Juraci Nascimento!
Foto de capa: Guilherme Roberto
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