Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
(Trecho de O apanhador de desperdícios, de Manoel de Barros)
Manoel de Barros é assim, brinca com as palavras e fala da grandeza das pequenas coisas da vida e do mundo, fala do campo, do tempo, da natureza e da infância, com tanta simplicidade, sensibilidade e leveza que emociona até os mais durões.
Manoel de Barros, o fazedor de poesias
Nascido em Cuiabá em 19 de dezembro de 1916, Manoel Wenceslau Leite de Barros passou boa parte da infância em um colégio interno em Campo Grande. Aos 21, publicou seu primeiro livro de poesias, “Poemas Concebidos Sem Pecados”, e se mudou para o Rio de Janeiro, onde graduou-se em Direito. Entre 1942 e 1946 publicou mais dois livros: “Face Imóvel” e “Poesias”, e em 1960 retornou para Campo Grande, onde assumiu a fazenda da família, vivendo como fazendeiro e criador de gado. Fato que, nas palavras do poeta, permitiu que ele “comprasse o ócio”.
Ao longo de sua vida, publicou mais de 20 livros e recebeu diversos prêmios, como Orlando Dantas, Jabuti, Cecília Meireles e Academia Brasileira de Letras. E embora tenha sido contemporâneo de autores da terceira geração modernista, como João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa, os especialistas preferem não classificar sua poesia, afirmando que se encontra para além dos rótulos por sua espontaneidade manifestada em versos extraídos da realidade imediata, principalmente sobre a natureza e a infância.
Manoel faleceu em 13 de novembro de 2014, em Campo Grande, deixando para trás toda a poética e simplicidade que o fez um dos maiores poetas brasileiros da história recente da literatura brasileira.
Ocupação Manoel de Barros: tudo vira poesia!
Agora, seus rascunhos, cartas, poemas, livros e caderninhos integram a 43ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, em São Paulo (SP). Cheia de sensibilidade e simplicidade, como o próprio poeta, a exposição traz sua vida e obra por meio de áudios, fotografias e escritos.
Os conhecidos cadernos irregulares confeccionados pelo próprio poeta, com rascunhos de poesias e versos dispersos, podem ser conferidos pelo público. Bem como as obras de sua filha, artista visual, Martha Barros, que ilustraram capas de livros do pai.
“Nós desprezamos o ínfimo. O homem despreza o que é pequeno, é desimportante, não vale nada, é lixo. Mas para a poesia, vale.”
Depoimentos inéditos como esse, colhidos em vídeo pelo cineasta brasileiro Joel Pizzini, também podem ser vistos na exposição. Além de cartas trocadas entre o poeta e artistas como Millôr Fernandes, Mário de Andrade, Carlos Drummond e Henfil. Completando a experiência, os visitantes ainda podem ouvir leituras de poemas de Manoel feitas pelo escritor Marcelino Freire e pela cantora Marlui Miranda.
Um verdadeiro passeio pela leveza e poesia de Manoel de Barros!
A exposição, que acontece até 7 de abril, é gratuita e fica aberta de terça a sexta das 9h às 20h, e sábado, domingo e feriados das 11h às 20h. Na Avenida Paulista, 149, São Paulo / SP.
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