Se você tem contato próximo com um recém-nascido, é provável que já tenha ouvido ou vai ouvir frases como “seu bebê está magrinho, seu leite deve ser fraco” ou “toda mulher nasce com instinto materno”. Por mais que as opiniões partam de uma boa intenção, se limitar a estes pensamentos é uma realidade capaz de comprometer o processo de adaptação à maternidade, trazendo insegurança e limitações, pois partem de uma ideia infundada.
Por isso, é importante desmistificar algumas afirmações que permeiam a maternidade e o cuidado com uma criança e, por vezes, fazem com que muitas famílias sintam-se desconfortáveis e incertas quanto ao seu papel.
A maternidade ao longo da história
Por séculos, as aspirações femininas se resumiam ao cuidado com a casa, o marido e os filhos. Toda a sabedoria e interesse eram restringidos a este universo. Raras eram as que estudavam, cantavam ou calculavam, e estas acabavam por desaparecer nas brumas, com o tempo, ou atrás de outros homens.
Limitadas devido ao pouco conhecimento científico que obtinham e confrontadas por diversos enigmas do dia a dia, as mulheres precisavam de um caminho para elucidar respostas.
Assim as conclusões, baseadas apenas em observações corriqueiras, eram tomadas como verdade. Não havia quem questionasse, pois os homens também não se dedicavam ao cuidado com o lar. Não estando a par dos problemas diários, este mundo pouco explorado ficava à mercê dos mitos.
Desconstruindo os mitos da maternidade
Com a emancipação feminina, essas demandas passaram a ser estudadas e analisadas. E mais, não só pelas próprias mulheres, como também pelos homens, que se voltaram aos cuidados com a família e as obrigações passaram a ser compartilhadas.
Atualmente, essa área passou a ser abrangida e tomada como foco de estudo. A partir daí, é possível quebrar diversos mitos criados há tempos, a respeito da maternidade.
Os 5 mitos da maternidade mais comuns:
1. O leite fraco
Nos primeiros dias, os recém-nascidos choram incessantemente. Diante de uma nova vida, que só consegue se expressar desta forma, é difícil identificar a causa do desconforto.
Porém, o que espera-se das mães, é que magicamente, ao tomar o pequeno nos braços e nos seios, o choro cesse. Quando isso não ocorre, surge a famosa ideia da complementação, pois o “leite é fraco”.
Primeiramente, é válido consultar a possibilidade da pega errada. Nos primeiros dias, o bebê ainda não está adaptado à tarefa de se esforçar para se alimentar e pode levar algum tempo para ajustar a pega da maneira correta. Nesse caso, é válido procurar o auxílio de um consultor em aleitamento materno ou o posto de coleta de leite materno da sua cidade.
Também é importante ter em mente que o pequeno é um recém chegado a esse mundo. Até os 3 meses de vida, o bebê se encontra em um período chamado exterogestação, ou seja, a gestação fora da barriga.
É um momento em que colo é fundamental para a sua segurança, e o lugar mais seguro é, sem dúvida, nos braços do cuidador. Nessa fase, recriar a sensação e o conforto do útero, podem ajudar a tranquilizar o pequeno. Para isso, existem alguns utensílios, como o ofurô, que possui formato semelhante ao ventre. Além disso, alguns sons com chiado, como o secador de cabelo e televisão também podem ajudar, visto que remetem ao som da água. Uma grande ferramenta é o banho de chuveiro com o cuidador, pois além do som da água caindo, proporciona o contato pele a pele, o que pode ser um grande auxílio para a amamentação.
Também existem diversos outros motivos que podem prejudicar o sucesso da amamentação, como a confusão de bicos. O mais importante é ter confiança e segurança, pois não existe leite fraco.
2. O amor incondicional
Quando nos referimos ao amor materno, a mãe é colocada como um ser dotado apenas de compaixão e cuidados, mas a realidade esconde o fato de continuarmos sendo mulheres.
Sentimos raiva, dor, medo, e com a maternidade, nossos instintos se aguçam ainda mais, o que faz aflorar todo e qualquer sentimento que se faça presente.
Não existe mãe feliz o tempo todo, de forma que também não estamos tristes o tempo todo.
O mais importante é ter a plena noção de que uma mãe é uma mulher que ama e odeia, como qualquer outra pessoa. É comum chegarmos ao limite e nos questionarmos se a maternidade realmente foi uma boa ideia, e logo em seguida, imaginarmos que não poderia ter sido diferente.
3. O instinto materno
Nem toda mulher nasce para ser mãe, e isso é um fato que vem sendo desmistificado aos poucos. Não há nada de errado chegar aos 40 sem sentir o chamado do relógio biológico. Simplesmente, há outros caminhos a serem seguidos. Mas o mais importante é que ser mãe é aprendizado.
Não nascemos prontas e não há manual que nos ensine a ser mãe. É verdade que nosso instinto de cuidado com a criança pode se aguçar, da mesma forma que isso também pode não acontecer. Existem mães que sentem uma ligação profunda com a criança, mas também, mulheres que desconhecem qualquer sentimento de cuidado com outra vida, seja com bebês, plantas ou animais, do mesmo modo que acontece com os homens.
4. Mãe é tudo igual
Quando resumimos o papel de ser mãe a uma imagem pré-moldada, acabamos por sufocar todas as singularidades de uma mulher.
É comum que, no dia a dia, tomemos atitudes que se assemelham a de outras mães, pois desempenhamos os mesmos papéis, mas isso não anula o fato de sermos pessoas pensantes, e não uma máquina programada para agir sempre da mesma forma.
5. O mundo passa a girar em torno do bebê
Quando nasce uma mãe, a mulher, muitas vezes, acaba ficando em segundo plano, mas isso não significa o completo desaparecimento dela. Não há nada de mau pensarmos em nós próprias e nas nossas vontades e sonhos, além dos cuidados com o bebê.
Com o tempo, a mulher e a mãe passam a dividir igualmente o mesmo espaço, e as escolhas começam a se conciliar, de acordo com as vontades de cada uma.
Quando aprendemos a ser livres, também transmitimos aos nossos pequenos essa virtude e a capacidade de medir sacrifícios em prol de outra pessoa.
Amor envolve renúncia, mas também, a liberdade de saber quando exaltar a nossa vontade.
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