Quando os pequenos crescem: os primeiros passos para a autonomia
Quem tem filhos pequenos e os leva a todos os lugares sabe: um dia eles sairão pela porta e darão seus próprios passos sozinhos. No máximo, os acompanharemos por pensamento ou pelo celular (se eles quiserem nos atender). Se uma pedra estiver em seus caminhos, caberá a eles mesmos desviar delas. Nós, adultos, teremos feito o papel de ensinar técnicas de superar desafios, caminhos alternativos, meios de pedir ajuda, mas serão eles mesmos quem encontrarão todas as respostas pelas próprias mãos. É o irreversível caminho do crescimento.
Como pais, vamos deixando aos poucos o papel de protagonista da vida dos filhos, para nos tornar espectadores de sua trajetória. O necessário afastamento começa cedo… Os primeiros passos sozinhos, as primeiras palavras, a despedida na hora de ir para a escola, os primeiros momentos longe dos pequenos, já anunciam um sujeito se formando ali – independente e autor de sua própria história. Nesse meio tempo, como não poderia deixar de ser, vamos sentindo as angústias de nos perceber desnecessários e, algumas vezes, até “esquecidos” e deixados de lado. Vamos sentindo o movimento da vida levar nossos filhos para mais longe, porém, na realidade, nos aproximamos ainda mais quando este espaço é respeitado.
Quando há cuidado e liberdade, encorajamento e certa distância, abre-se a possibilidade da construção de uma nova identidade. É na falta dos pais que eles poderão usar sua autonomia, construir relações, conhecimentos, visão de mundo e de si mesmos. A independência é um caminho natural do desenvolvimento e cabe a nós, adultos, abrir espaço para que ela aconteça.
Dica Leiturinha: Um olhar sensível sobre o amadurecimento
Entre os livros selecionados pela Equipe de Curadoria da Leiturinha para seus pequenos leitores, está um título em que o processo de crescimento e autonomia dos filhos é abordado de maneira inusitada e poética. O livro Ônibus (Editora Jujuba), de Marianne Dubuc, traz uma cena bastante comum: a primeira vez de uma criança pegando um ônibus sozinha. No livro, temos a visão privilegiada de alguém que está sentado em frente à pequena personagem Clara, que, segundo Marianne, foi inspirada em sua própria filha.
Para dizer melhor sobre esta obra, conversamos com a própria Marianne Dubuc, escritora e ilustradora canadense, que contou à Equipe de Curadoria um pouco sobre seu processo de criação. Segundo a autora, para este livro, ela usou uma técnica de ilustração diferente, pois tinha vontade de experimentar algo novo. Em suas palavras, “a doçura nas ilustrações se deve ao processo de fazer dois desenhos sobre o papel: o original no papel cartão e, em seguida, colocar um papel por cima e acrescentar o desenho à linha, às texturas e cores”.
A cada página deste livro é possível ver movimento. Quase ouvimos o barulho do motor do ônibus ao acompanhar a entrada da personagem principal até sua descida. O que era para ser só um meio de transporte, se transforma em um verdadeiro acontecimento, tanto pelas trocas e aventuras vividas, quanto pelo que elas representam para a pequena Clara: um passo rumo à autonomia.
Curiosidades!
Como pano de fundo, a autora declarou a influência da clássica personagem Chapeuzinho Vermelho, que na história encontra-se bem representada pela cestinha e pela blusa vermelha, sem falar na saga do caminho percorrido para chegar à casa da avó, sozinha. Como bônus, a autora ainda acrescenta dois detalhes: O primeiro deles é que a parada 18, que aparece no livro, é a mesma de sua casa, em Montreal. E o segundo é que há uma personagem que lê seu jornal o caminho todo, mas nunca vemos seu rosto. Este mistério ela só revela a quem encontra pessoalmente… Aos leitores cabe usar a imaginação para tentar desvendar este personagem misterioso.
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