Pai de menina: minha paternagem como construção de afeto

nov 8, 2022 | Família, Parentalidade

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Olá! Aqui é o Luciano Ramos, pai, consultor em Masculinidades & Paternidades, autor do livro infantil “Quinzinho” e, a partir de agora, colunista do Blog Leiturinha! Para inaugurar este nosso espaço, eu gostaria de conversar um pouco com você, querido leitor e querida leitora, sobre a aventura de ser “pai de menina”. 

A paternidade é um momento muito especial da vida humana e que precisa ser celebrado. Alguns estudiosos das paternidades, os chamados “paternólogos”, cujo grupo me enquadro, preferem chamar a paternidade de “paternagem”. Este novo termo significa “paternar de acordo com as fases do desenvolvimento infantil, correspondendo às precisões da criança”.

Ao exercer o cuidado e a proteção e buscar suprir as necessidades físicas e emocionais dos filhos ou filhas, a paternagem se refere à escolha de ser pai. Não é um ato unicamente biológico ou jurídico, mas sim uma decisão consciente baseada em distintos aspectos individuais e sociais, e que passam, principalmente, pelo afeto. Opto durante os textos que escreverei por aqui, portanto, em tratar a paternidade como “paternagem”. 

A ansiedade da espera

Dito isso, voltemos a falar sobre ser o tal “pai de menina”. Quando descobrimos que seremos pais, ainda na fase da nossa gestação ou da espera pela adoção, cria-se em nós e nas pessoas próximas a ansiedade pela descoberta de quem é esta pessoa que está chegando para preencher os espaços das nossas vidas. Saber o sexo biológico do nosso filho ou filha nos enche de expectativa! E, quando descobrimos que seremos pais de meninas, inúmeras questões passam pelas nossas cabeças e das outras pessoas.

É importante não esquecermos que vivemos numa sociedade bastante machista que, em primeiro lugar, caracteriza que o papel do homem não é cuidar, mas somente prover. Você pode pensar que isso é tão arcaico, já que estamos no século XXI, o homem já pisou na lua, já tivemos tantos avanços no mundo e que não é possível que ainda existam pessoas que pensem e ajam baseados num formato tão patriarcal. Sim, infelizmente, existem! O nosso papel, então, é conseguir conversar e convencer estas pessoas o quanto isso não cabe mais.

Estamos numa sociedade em que mulheres e homens estão desenvolvendo, em muitas situações, funções parecidas e, noutras situações, as mulheres são as provedoras! E mesmo quando as mulheres não realizam funções laborais, homens e mulheres, socialmente, precisam ser vistos igualmente. Desta forma, nós homens, somos então convidados a exercer as funções domésticas e de cuidado em relação à criança de forma equitativa. 

A paternagem precisa ser vista, prioritariamente, do lugar do afeto. O desenvolvimento do afeto se aplica na relação que os pais estabelecem com os seus filhos ou as suas filhas desde a espera (seja na gestação ou no processo de adoção). 

Qual o papel do “pai de menina”, afinal?

“Luciano, o que pode fazer um pai de menina?”. Uma vez eu fui interpelado com essa pergunta e parei para pensar sobre algo que ainda não havia refletido, já que paternar integralmente, sendo pai de uma menina, é algo muito natural para mim. Esta pergunta me fez olhar com muita atenção para o quanto o machismo pode atravessar as nossas paternagens se não houver um rompimento importante com a estrutura social machista.  

Afinal, o que o pai de menina pode fazer? E a resposta é simples: tudo que se relaciona com seu papel do cuidador! 

O pai de menina pode dar banho! E essa é uma discussão muito presente em muitas rodas de conversa. O pai, enquanto cuidador integral, pode sim dar o banho, já que ele é alguém que precisa cuidar da filha.  E o banho, por exemplo, pode ser um espaço de muita conexão, diálogo e diversão para a criança.

Construindo conexão

Pai, você já experimentou dar banho na sua filha? Aqui, eu gostaria de te dar algumas dicas: 

  1. Em diálogo com o pediatra que acompanha a sua criança, você vai entender a melhor temperatura da água para que esse banho seja bem acolhedor para a criança;
  2. Coloque uma música para que o ambiente fique ainda mais agradável;
  3. Coloque brinquedos na banheira;
  4. Experimente levar um livro impermeável para o banho. O livro também pode ser um excelente amigo do banho com a sua criança; 
  5. Conte uma história para a sua filha durante o banho;
  6. Os especialistas também propõem que você nomeie as partes do corpo enquanto as lava para que a criança as reconheça.

A troca de fralda e de roupa da menina podem e devem ser vistas como práticas naturais para os pais desenvolverem também. Aqui, pai, eu te dou uma dica que sempre funciona bem na minha relação com a minha filha pequena: peça licença à criança sempre que for trocar a fralda, ao passar a tomada, ao passar o lenço umedecido.

A criança precisa ter a consciência de que o corpo é dela e que o cuidador ou a cuidadora estão tocando-o para cuidar. 

Pais também podem preparar a alimentação (seja sólida ou mamadeira). Existem vários tutoriais que poderão ajudar os homens que não são muito íntimos no preparo de alimentos. Ainda que essa não seja uma prática diária, preparar a alimentação pode ser um bonito ato de afeto.

O afeto como protagonista

Estabelecer uma relação baseada no cuidado contribui para o fortalecimento de vínculo entre você e a sua filha. Faz a menina perceber que não existe gênero para o cuidado, ou seja, homens e mulheres podem cuidar da mesma forma e na mesma medida.

Se você já pratica o cuidado desta forma, vamos apoiar os nossos amigos a começarem também? Se você ainda não pratica, que tal começar já? 

Um abraço e até o nosso próximo encontro!

Leia mais:

👉Paternidade: como ser o pai que sua criança precisa?

👉8 coisas que todo pai deveria saber

👉Licença paternidade: precisamos falar sobre a ausência do pai na criação dos filhos

Luciano Ramos

Historiador de formação, com especialização em desenvolvimento infantil pelo núcleo latino-americano da Universidade de Harvard, especialista em paternidades e masculinidades, Consultor em Projetos que incentivam o empoderamento de crianças, adolescentes e jovens negros, além de práticas antirracistas. *Luciano foi convidado pelo Blog Leiturinha para compartilhar sua opinião com as nossas famílias leitoras.

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