As despedidas sempre foram difíceis para mim. Não tenho nenhuma lembrança em que dizer adeus foi simples ou fácil. Até mesmo quando estava indo para uma viagem desejada ou para um emprego melhor. Demorei muito a aprender como lidar com a despedida. Era só saber que estava chegando a hora de partir que um “nó” começava a se formar na garganta e o peito ficava apertado.
A despedida sempre doeu…
Aprendi que é educado se despedir. Dar abraços, dizer tchau, agradecer a estadia. Nunca fez sentido pra mim. Por que algo que dói precisa ser feito? Vejo sentido em dar bom dia, boa tarde, dizer obrigada. Isso não causa dor. Mas dizer adeus? Dói. Sempre doeu. Talvez porque a estada tenha sido boa, talvez porque estivesse deixando alguém importante para mim, que eu amo. Ou então, talvez porque o medo de sair da zona de conforto estivesse presente.
Era mais fácil ir, sair de fininho, ficar quieta no meu cantinho. Doía, mas eu não precisava mostrar minha dor para ninguém. Porque chorar era um sinônimo de fraqueza. Ainda assim, precisar lidar com a dor da despedida nunca havia feito sentido para mim.
Mas a maternidade veio
Até que me tornei mãe. Então, vi refletido no meu filho as mesmas dores que eu tenho, a mesma dificuldade em dizer tchau! No início agi como se fosse apenas uma coisa de criança. “É assim mesmo”, pensava, deve ser a idade. Mas a história se repetia continuamente. Cada vez que visitávamos meus pais, Rafael (meu filho) fugia da despedida. Quando ia embora da escola no final do dia, saia correndo sem querer dar tchau para os colegas e a professora. Nas festas de aniversário, quando falava em ir embora, corria para se esconder para não ter que dizer tchau para ninguém. “Que falta de educação” eu comecei a pensar. Vai ficar mal educado! Comecei a forçar a despedida. Força-lo a dar abraços que não queria e beijos que não desejava.
Não adianta obrigar
Quanto mais eu forçava, mais ele fugia. Eu gosto de pensar que Rafael veio ao mundo para me ensinar a ouvir, a ter empatia, a olhar para o outro. Então, pela primeira vez, decidi aceitar que a minha dificuldade em dizer adeus estava relacionada ao medo de sentir dor. Me permiti deixar doer. Deixei as lágrimas rolarem. Quando fiz isso, me senti acolhida, por mim mesma.
Entendi que tudo o que uma criança precisa em um momento de despedida é acolhimento e entendimento do que está acontecendo. Porque quando ela é pequena, a criança sente mas não sabe explicar o que está acontecendo. Quando forçamos ela a fazer algo que não deseja, mais reforçamos a dor.
Então devemos deixá-la sem se despedir?
Não! Mas devemos deixar que ela expresse as suas emoções e entenda o que está se passando com seu corpo e mente. Quando sentimos medo ativamos uma área importante do nosso cérebro: o cérebro reptiliano, responsável pelas funções básicas da nossa sobrevivência. Não importa se estamos com medo de um leão ou de uma formiga. Medo é medo. A parte do cérebro ativada é a mesma. Quando isso surge, três coisas podem acontecer: podemos congelar, fugir ou lutar.
Rafael sempre fugia das despedidas
Saia correndo. Se alguém tentasse abraça-lo ou beijá-lo, ele batia ou gritava. Porque estava com medo. Estava invadido por sentimentos que não conseguia controlar e a reação era instantânea. Quando isso acontece, em geral, temos a tendência de brigar com a criança e obrigá-la a se despedir. Quando fazemos isso estamos passando uma mensagem para ela: o que você está sentindo não importa.
O que fazer então?
Um dia decidi aceitar a dor e medo do meu filho nas despedidas. Quando estávamos indo embora da casa de um amigo dele, fui até ele, que já estava no canto da porta esperando para sair assim que essa se abrisse. Então lhe disse: “vir aqui hoje brincar com o amigo foi muito legal né? Você gostaria de ficar um pouco mais porque está divertido, é isso?”
Ele apenas olhou pra baixo como se estivesse concordando. Continuei: “dizer tchau te deixa triste porque você quer brincar mais. Tenho certeza que seu amigo também gostaria de brincar mais com você. E se pudéssemos combinar um dia para ele ir na nossa casa, para que vocês estivessem juntos de novo?”. “Seria legal”, ele me disse erguendo a cabeça. Decidimos então, que iríamos fazer isso. Fomos caminhando para nos despedir e propor um novo encontro. No meio do caminho, Rafael me cutucou e disse baixinho: “Não quero dar beijos ou abraços”. Concordei com ele e combinei de apenas falarmos tchau.
Ele pode escolher como as despedidas vão ser…
Desse dia em diante, ficou combinado que as despedidas podem ser como ele escolhesse: abanando a mão como um sinal de tchau, um abraço, um beijo, ou um simples “tchau”. Às vezes, dependendo da despedida, pode ser mais difícil. Qual o segredo? Aceitar a emoção da criança, reconhecê-la e ajudar a criança a entender o que está acontecendo dentro dela. Dar opções sobre como ela pode se despedir também ajuda.
Mas sabe qual a dica mais importante de todas?
Esqueça o que os outros vão pensar sobre o seu filho. Preocupe-se com o que o seu filho vai pensar sobre ele mesmo! Crianças que se sentem compreendidas tem um autoestima elevada e são capazes de desenvolver novas habilidades ao longo da vida.
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