Mães que trabalham fora, vocês não estão sozinhas

dez 16, 2019 | Família

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Qual a realidade de mães que trabalham fora?

Conciliar filhos e carreira é sempre um desafio. Mas para as mulheres esse fator ganha uma dimensão muito maior. Em um país onde apenas 21% das mulheres estão em cargos de diretoria e somente 8% em cargos de presidência, a maternidade se torna mais um desafio na trajetória profissional feminina. 

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, quase metade das mulheres que tiram licença maternidade perdem seus empregos em até 24 meses. Ou seja, se, segundo dados do Insper, a paternidade vem geralmente acompanhada por um prêmio salarial, tornar-se mãe desacelera a trajetória de crescimento profissional e de remuneração das mulheres.

Para entender melhor o cenário de mães que trabalham fora, conversamos com três mães e profissionais. Alais, Beatriz e Manu conciliam cargos de muita responsabilidade com maternidade e casamento. (*Alguns nomes foram trocados para a matéria). 

Maternidade vs Oportunidades

Para mulheres com filhos, os desafios no mercado de trabalho podem começar mesmo antes de uma contratação. Alais conta que a maternidade ainda é, infelizmente, um tabu na vida profissional. Muito por conta de vieses inconscientes reproduzidos, frequentemente, de forma não intencional. “Acham que porque você é mãe, você não vai poder viajar ou vai faltar. É comum oferecerem oportunidades, viagens e vagas para mulheres que não são mães ou para homens. É como se a mãe tivesse que provar duas vezes mais o seu valor“. 

Um sentimento similar é exposto por Beatriz, que adiou a gravidez algumas vezes em função da carreira. “Nunca existe o momento certo para conseguir engravidar e uma grande insegurança deriva-se disso. Só de pensar em ficar sete meses afastada do trabalho, ainda mais em uma empresa onde as coisas acontecem muito rápido, me dava muita angústia. Sabia que estava tomando uma decisão que poderia afetar minha carreira profissional”. Angústias como essas demonstram como ter filhos ainda é algo que impacta muito mais mulheres do que homens, impactando diretamente na forma em como elas serão vistas pela empresa, muitas vezes. 

Maternidade vs Dinheiro

Outro ponto que é frequentemente mencionado pelas mães é o salário e o dinheiro destinado a babás, cuidadoras, creche ou escola. Algo indispensável para quem trabalha fora e não conta com rede de apoio. “Muitas vezes o valor gasto com a cadeia de apoio é exatamente o salário que a mulher ganha, aí a conta não fecha. A mulher precisa ver uma motivação além do salário no trabalho para continuar a investir em sua carreira. Eu conto bastante do trabalho para meus filhos, assim os pequenos me olham com admiração, como alguém forte e aprendem a dar valor do trabalho”, ressalta Alais.

Maternidade vs Padrões

A falta de empatia e de um olhar mais atento às mulheres que têm filhos pode vir, muitas vezes, da diferença de realidade entre chefes e funcionários ou entre homens e mulheres. “Muitos dos meus chefes têm em casa esposas que optaram apenas pela maternidade. Esse padrão reforça a forma que esses homens vêem a mulher mãe. Isso pode contribuir para que, de certa forma, eles esperem que outras mulheres também ajam assim, e priorizem a família em detrimento ao trabalho.”, comenta Alais. 

Beatriz menciona com carinho como a gestão feminina fez diferença durante todo o processo de gravidez, licença e retorno. “Para mim, ter uma gestora mulher fez total diferença, me senti muito apoiada em todos os momentos. Acho que a gestão feminina ainda faz diferença, pois a empatia e entendimento ainda são um pouco diferente.” 

Maternidade e Rede de Apoio

Beatriz reforça a importância da rede de apoio e de uma carga horária e ambientes mais flexíveis. “Parece clichê, mas é a mais pura verdade. Pode ser família, amigo, babá, mas precisamos de alguém de confiança para conseguir trabalhar, não tem jeito. A falta dessa rede pode levar muitas mulheres a abandonar a carreira. Outro ponto é flexibilidade. As empresas têm que ter ambientes flexíveis para essa mãe, que permita que ela amamente no horário de almoço, por exemplo. Rigidez e maternidade não dialogam”, afirma.

Sobre o mesmo ponto, Manu complementa: “Rede de apoio, escola, alguém no período de férias escolares… Sem isso eu não conseguiria viajar a trabalho ou fazer o que tenho que fazer profissionalmente”. 

Maternidade e Habilidades Profissionais

Um ponto ainda pouco falado é como a maternidade contribui para o desenvolvimento de habilidades muito valorizadas profissionalmente, como paciência, empatia, motivação e resolução de problemas.

“Antes eu era uma pessoa muito impaciente. Hoje, tento entender o outro, tenho mais empatia, mais paciência e mais compreensão, menos julgamento”, diz Alais. Beatriz tem o mesmo sentimento: “Vejo o mundo de forma diferente após a maternidade. Trato as pessoas como eu gostaria que o mundo tratasse a minha filha. Me sinto muito produtiva, o tempo se multiplica de forma inexplicável. Faço três vezes mais do que fazia antes. Passei a organizar a vida de outra forma. Sempre fui uma pessoa muito ocupada, mas penso que se eu voltasse ao tempo antes de ter filhos, não saberia o que fazer com tanto tempo livre”. “Tenho muito mais responsabilidade, o jeito de pensar muda, assim como a tomada de decisão, afinal tenho uma pessoa que depende totalmente de mim. Pondero muito mais as coisas agora, antes encarava as coisas sem pensar tanto nas consequências”, concorda Manu.

“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”

Ainda são muitos desafios. Algo que todas as mães trouxeram foi sobre aprender a lidar com o sentimento de culpa, de priorizar em alguns momentos os filhos e em outros a si próprias. Nesse sentido, fica a dica de Beatriz, “Para mim, para ser uma boa mãe, é preciso primeiro estar feliz, e o trabalho é muito importante para mim. Fico mais completa, me reencontro como pessoa”. 

E para nós, não mães, homens e até outras mães, fica o aviso para olhar para as mães que trabalham fora com mais empatia. Ser apoio, não julgamento. Entender que criar um filho é algo muito precioso, não só para a família, mas para toda uma sociedade que se importe com nossas crianças e com um mundo melhor no futuro. É como diz aquele provérbio: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”.

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Nathalia Pontes

Mestre em Psicologia da Educação, educadora e escritora, acredita que aprender é uma combinação entre autoconhecimento, troca e curiosidade pelo novo. É apaixonada por educação, desenhos, viagens e literatura.

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