O papel das artes na quarentena

ago 11, 2020 | Atividades

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Não apenas em situações de clara inconstância social a arte tem seu papel. Pelo contrário, antes do momento atual, em situações cotidianas típicas (que também carregam um quê de incertezas), a arte já produzia experiências singulares. Mas por que a arte tem tanto impacto na vida dos seres humanos? Na quarentena em especial, qual é o papel das artes? O que ela pode fazer por nós? Ou então, nós por ela? 

Você tem fome de quê?

Ao mínimo anúncio de uma pandemia, os supermercados se esvaziaram, as dispensas ficaram cheias e uma parte das casas abastecidas. Mas ao que parece, embora a comida e a água garantam a sobrevivência, a vida exige mais. Não é a toa que a música diz: a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Logo, o pão não é o suficiente para aplacar a ansiedade, muito menos a água apaga uma crise de angústia. 

Não digo que a arte controle esses fenômenos. Mas ao contrário do pão e da água, há algo na arte que vai de encontro a esses estados, aos medos e as fantasias que convivem com a vida humana.  

O que é a arte? 

Querida leitora ou leitor, sinto lhe dizer que não existe uma única resposta para essa pergunta. Pelo contrário, para alguns, esse questionamento pode até soar grosseiro ou pouco inteligente. Na contramão dos que pensam assim, arrisco dizer que a arte não só pode como deve ser questionada. Se nos privamos de refletir sobre a sua natureza,  corremos o risco de nos afastar das possibilidades que ela permite. 

No livro “Arte como Terapia”, Alain Botton e John Armstrong descrevem a arte como um instrumento que amplia as capacidades humanas e compensa algumas de nossas fraquezas inatas. Assim como uma faca que nos ajuda a cortar um alimento, ou uma garrafa que permite que carregamos água, a arte completa algo que por natureza estamos impossibilitados de executar.

Quais as funções da arte?

A arte amplia o que nós como seres humanos não podemos fazer, pois então suas funções estão estão ligadas às nossas fragilidades.  Pensando nisso, Alain Botton e John Armstrong descrevem sete funções da arte:

1. Rememoração

Não é um segredo para ninguém que temos a memória ruim. Esquecemos com facilidade detalhes que gostaríamos de guardar para sempre. Quer um exemplo? Você já se sentiu emocionado e surpreso revendo uma fotografia? Uma das funções da arte é justamente ampliar a nossa capacidade de evocar (rememorar) experiências. Nas palavras dos escritores: “A arte conserva as coisas que amamos depois que elas partiram”

2. Esperança

No contexto de quarentena essa função fica ainda mais evidente. Diante de problemas tão grandes e, em certa parte, desoladores, nos sentimos fracos e pequenos. Justamente por isso, é preciso de ares que preservem o ânimo. Longe de criar uma visão cor-de-rosa sobre o mundo, a esperança e o otimismo que nascem da arte nos ajuda a não permanecer em um estado de inércia. 

3. Sofrimento

Aceitar o sofrimento parece uma tarefa quase impossível no mundo moderno. Basta dizer um problema, que logo algo ou alguém terá a solução. A arte, entretanto, não pretende afastar ou esconder aquelas emoções das quais pouco se fala ou se aceita. É como uma tristeza que tem casa e não precisa correr para dizer que não está lá. Para Botton e Armrstrong: “muitas coisas tristes ficam ainda piores porque achamos que somos os únicos a sofrer.”

4. Reequilíbrio

É quase irracional desejar uma vida sem desequilíbrios. Olhando com atenção para a nossa história, conseguimos perceber com clareza que ora pendemos mais para um estado de espírito, ora nos aproximados do seu oposto. Nesse sentido, a arte pode nos colocar em contato com aquilo que nos falta no momento. É como um dose de vitamina D quando deixamos de nos expor ao sol. 

5. Compreensão de si

Como diria Heráclito, a natureza humana tem predileção por ocultar – se – não só para os outros, como para si mesmo. Nesse sentido, é como se a arte colocasse luz onde ainda é escuro para nós. Além disso, a arte também parece ter o papel de comunicar ao outro um pouco sobre mim. Assim, os objetos que eu escolho para decorar a minha casa podem dizer a quem me visita um pouco da minha personalidade.

6. Crescimento

Ouvi dizer que certa pintura é uma das mais privilegiadas do mundo. Mas quando a vejo pela primeira vez o sentimento é desagradável ou hostil. De onde vem esse sentimento? Da minha história de vida. Para mim, por mais louvado que seja a pintura do mar, ela pode não ser bem-vinda caso me lembre um momento difícil de vida. Assim, assumo uma posição defensiva frente a tudo que lembre essa ameaça. O problema nasce quando essa vira uma regra e uma generalização. Nesse sentido, a arte permite que nós nos encontremos com aquilo que nos incomoda. A partir disso tenhamos tempo e privacidade para lidar de forma mais sábia possível com esse encontro. 

7. Apreciação

Somos seres do hábito, ou seja, com pouco esforço uma tarefa complexa virá uma ação automática. Uma habilidade extremamente adaptativa, mas que também pode apagar elementos importantes do cotidiano. Por isso, Botton e Armrstrong reforçam que “a arte permite retornarmos a uma concepção mais precisa do que é valioso ao operar contra o hábito e nos convidar a redimensionar o que amamos ou admiramos”.

Conta para a gente, o que acharam de nossas dicas? Quais formas de arte vocês estão experimentando nessa quarentena? 

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Juliana Freitas

Formada em Psicologia, é apaixonada pela ciência e pelas artes literárias. Estuda o encontro entre a criança e o livro, a criança e o psicólogo e a criança e o mundo.

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