Por que falar sobre literatura indígena com as crianças?

abr 19, 2022 | Leitura

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Detalhe do livro Chuva, Gente!, um livro Original Leiturinha e exemplar da literatura indígena.

Em pleno mês em que celebramos a cultura indígena, gostaríamos de te convidar para refletir a partir das palavras de Cristino Wapichana. Cristino é autor indígena, do povo Wapichana, e já escreveu um Original Leiturinha, o livro Chuva, Gente!. 🌧️ Então, que tal entender mais sobre a diversidade cultural indígena e literatura indígena? Além disso, também gostaríamos de te desafiar a inserir cada vez mais essa rica literatura no universo da sua criança e de toda sua família! Vamos lá?

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Por que falar sobre literatura indígena com as crianças?

Você já ouviu falar do povo Wapichana? 🤔 A literatura indígena é uma ótima oportunidade para estudar a cultura indígena e descobrir povos ricos em herança cultural. É também uma chance de resgatar parte da nossa história e das nossas raízes!

Atualmente, existem cerca de 255 povos indígenas em todo território nacional, falando mais de 150 línguas diferentes. Então, que tal aproveitar a leitura e convidar a sua criança para criar um mural, localizando alguns dos povos indígenas do Brasil? Os Wapichana, por exemplo, residem majoritariamente em Roraima.

Outra sugestão é aproveitar esse momento para pesquisar sobre as línguas de cada povo, como o Aruak, falado pelos Wapichana. Além disso, busquem conhecer sobre pessoas de povos indígenas que estão atuando de diferentes formas na sociedade, inclusive em defesa dos direitos indígenas. Será que alguns deles estão na política? Sim, em diversas esferas! E escritores, temos? Muitos!

Seja através dos livros, filmes, histórias ou outros recursos, apresentar a cultura indígena para as crianças é fundamental para que elas compreendam o passado e contribuam para um futuro melhor! Afinal, em um país tão rico e diverso como o Brasil, conhecer mais sobre a cultura dos povos indígenas é imprescindível para criarmos crianças mais críticas e conscientes! 😉

Chuva, Gente!

Chuva, Gente!

Chuva, Gente! conta a história de uma menina e sua avó. ❤️ Mas também é a história da chuva! Além disso, a equipe de Curadoria da Leiturinha recomenda este livro para os pequenos e pequenas porque:

  • Apresenta a perspectiva do povo indígena Wapichana sobre a chuva e a natureza;
  • As ilustrações da artista Graça Lima enchem as páginas de poesia e imaginação;
  • Convida à reflexão sobre a relação humana com a natureza e os animais;
  • Aborda a relação entre avós e netos e a importância de compartilhar memórias.

Este Original Leiturinha foi enviado, pela primeira vez, para os assinantes do Clube Leiturinha. Contudo, também já está disponível na Loja Leiturinha para todas as famílias leitoras! Por isso, se você quer levar essa obra incrível para sua casa e apresentar a literatura indígena para suas crianças, não perca essa oportunidade. 😉

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Entrevista com o autor indígena Cristino Wapichana

Então, sem mais delongas, vamos à entrevista com o autor indígena Cristino Wapichana, autor do livro Original Leiturinha Chuva, Gente?. Acompanhe:

Leiturinha: A literatura tem o poder de nos cativar desde pequenos, ampliando nossa percepção do mundo e do outro. O que te move a fazer literatura? E como foi escrever “Chuva, Gente!”?

Cristino: A literatura é parte do tudo. Não existiria um passado sem parte estar escrito com os detalhes das cenas daquele tempo vivido pelas pessoas. Então, a literatura traz aquele passado para o presente. Ela congela um pedaço do tempo como ele era. A literatura está aí pra encantar, para ensinar, para dizer como foram feitas as coisas. Ela existe para nos ajudar a nos manter bem, vivos e ativos no mundo. No sentido de que estamos participando dele o tempo inteiro.

Então, é isso que eu faço: desvendar o parar, congelar no tempo um pedaço da história. Escrever Chuva, Gente! foi uma experiência transcendental porque eu aprendi também o significado das chuvas. Eu aprendi como ela consegue se produzir, como ela consegue passear pelo mundo, que é o que ela faz. Cada tempo ela está em um lugar. Ela não é egoísta e ela é que dá sentido à existência da vida na terra para todos.

Ao escrever Chuva, Gente!, descobri que os rios debaixo são ligados pelas árvores para encher os rios de cima, como essa magia funciona, como o mar também, os oceanos, têm essa mesma função de levar as águas para cima e depois quando os rios enchem, que é a época de elas descerem naquele determinado lugar… Vai renovando tudo. É mágico. É extraordinário o sentido que a água tem para a existência de todos nós. Isso é muito belo.

Leiturinha: Cristino, o que consideramos como literatura indígena? Basta que o livro aborde aspectos culturais indígenas ou estamos falando de livros escritos por pessoas indígenas?

Cristino: Vai muito além disso. Não é só ser escrito por um indígena. Aquele indígena que escreve passa para a história todo o universo que rege aquele povo. O Brasil ainda tem 305 povos indígenas e cada povo desse tem um criador, que tem nome, que tem seus milagres. Cada povo tem a sua espiritualidade, o seu jeito de estar no mundo, de ver o mundo. Os rituais são muito diferentes. Alguns, parecidos. Mas escrever, colocar isso numa história… Cada indivíduo daquele povo escreve sobre o seu povo, ele tem a vivência daquele povo. E numa literatura indígena, além de ter o mundo, o universo ao qual aquele escritor pertence, tem uma espiritualidade muito clara em cada história. Tem uma família presente, tem a mãe natureza presente.

Então, esses elementos caracterizam o que é dito uma literatura indígena. Não é apenas ser escrita por indígena, porque o indígena pode estar em qualquer lugar. Ele pode nascer em uma aldeia e, dias depois, estar morando numa cidade, crescer numa cidade, crescer em outro país. Mas ele conhecer e falar daquela cultura que é muito rica, única, como povo, como um povo… A literatura indígena tem essas características: de falar de toda a riqueza da qual o escritor, da qual o povo daquele escritor pertence.

E também é uma luta política para preservação do meio ambiente, para a preservação da vida dos indígenas que estão lá, dos bichos que estão lá, dos seres que habitam aquele lugar. Desde o homem à formiga. As coisas que a gente não consegue ver, que são espirituais, mas que estão ali… Fazem parte desse contexto. Então, quando se derruba uma floresta você vai matando tudo isso, vai destruindo toda essa magia que rege esse povo. E todos os povos do mundo têm sua história de origem, tem o seu criador, têm os seus milagres, têm tudo que precisa para estar e viver nesse mundo.

Leiturinha: O contato constante e próximo com os livros desde a infância tem um papel fundamental para a formação das próximas gerações. Pensando na literatura indígena infantil, como ela impacta nossas crianças?

Cristino: O exótico, para qualquer povo, chama atenção. Ele quer conhecer um pouco sobre o outro povo. E esse querer conhecer sobre outro povo independe muito do que é real ou não. O exótico faz parte do mágico, da magia, e cada povo preserva isso. É isso que educa as crianças, é isso que educa o povo. E, quando se é criança, você está aberto a aprender, a entender. E aquilo que você lê, aquilo que você ouve, aquilo que você vê é o que vai te manter no futuro. É o que vai dizer quem você é: aquilo que você aprende.

Aprendizados tão mágicos que você lembra do momento que você está lendo, que você está vendo, que você se vê exatamente como você era naquele momento. Independente se você tem 50 anos, 60 anos, você vai se enxergar nos seus 8 anos, 9 anos, com aquele rosto de menino curioso, de menina curiosa.

E a literatura indígena é um tanto exótica, no sentido de ser surpresa para a sociedade saber que o indígena escreve, como se fosse uma coisa de outro mundo, de outro universo. Como se fosse uma coisa de extraterrestre. É pelo fato de entenderem, de serem formadas numa sociedade que classifica as pessoas pelas cores, classifica as pessoas pela classe social, o lugar onde estão, pelas suas histórias. E quando se fala de indígena pensam que são uma humanidade diferente, mas não há uma outra humanidade a não ser essa em que as pessoas são coloridas, em que as pessoas vivem, convivem uns com os outros. E que a mesma forma de você amar seu pai, amar sua mãe, isso não vai mudar porque você pertence a uma outra sociedade. Você se apaixonar, namorar, casar, ter filhos, vê-los crescer, amar os seus filhos, isso não vai mudar por causa de uma sociedade ser diferente.

Não é tudo igual. É igual porque nós somos gente, gente cheia de coisas de gente. E a nossa curiosidade busca o exótico. Mas, no fundo, só fazemos coisas de forma diferente, mas tudo, desde a alimentação, da roupa, dos remédios, tem a mesma função, cada uma para a sua finalidade. A roupa serve para vestir, o remédio serve para curar, a maquiagem serve para embelezar, o perfume serve para o cheiro. O que a nossa curiosidade humana busca é saber como é o cheiro do outro, como é o remédio do outro, como é que ele faz. Mesmo que isso chegue na mesma finalidade: de que o cheiro tem que cheirar, de que o fedor tem que feder, de que a maquiagem serve para embelezar, de que a música serve para você dançar, refletir.

Então, a literatura indígena é uma história contada de um povo, da forma que ele vive. E por ser exótica, às vezes há uma busca maior por isso. Mas somos, no final das contas, gente. Temos um olhar diferente do mundo, uma cor diferente, um cabelo diferente, uma pele talvez diferente, mas somos gente com os mesmo sentimentos, com as mesmas sensações, com as mesmas dificuldades, com os mesmos direitos de viver como gente, como ser.

Respiramos o mesmo ar e precisamos do remédio para curar as mesmas doenças. Precisamos da tolerância e do respeito do outro para que a gente consiga ter uma comunhão de humanos independente da língua ou de qualquer outro jeito de viver, para estarmos bem nesse mundo, cuidando desse mundo que está tão devastado… Quando derrubam as árvores, quando poluem os rios ou quando jogam os seus lixos de qualquer jeito, não separam os plásticos que estão acabando com o nosso planeta. Precisamos ter uma consciência de humanos, de que aquilo que prejudica os bichos, as águas, o nosso ar, a gente precisa deixar fora nas nossas vidas. E viver bem uns com os outros.

Leiturinha: Que tipo de conselho você daria para as famílias que estão começando a ter contato com a literatura indígena e a apresentá-la para seus filhos e filhas?

Cristino: Eu queria te convidar para esta humanidade única, neste planeta único, deste universo no sistema solar, nessa galáxia e nessas bilhões de galáxias que existem. Nós estamos numa coisa tão pequena, um grão de areia. E a gente tem tanta disputa, tanta guerra, tanta discussão, tantos exageros, tanta vontade própria de estar no topo de tudo quanto é coisa, de ser o melhor, de estar entre os melhores, de ter dinheiro, de ter isso e aquilo… Em detrimento de qualquer coisa. Viver bem é estar de acordo com a própria vida, com a caminhada, com o ciclo da vida.

Pensa numa árvore adulta, quantos passarinhos ela acolhe? Imagina quantos passarinhos um poste de concreto acolhe? Coloca uma árvore e veja a diferença. Eles preferem a árvore, eles preferem as flores, eles preferem a cor das árvores para sentar nos galhos, para dormirem, o calor das folhas para se aquecerem durante a noite para dormir. Não vão querer ir para o poste. E as árvores têm um papel fundamental de pegar essas águas que estão em baixo e levar para cima para que depois as mesmas águas voltem para a gente, para trazer vida, continuar a vida de todos. É um ciclo que não pode parar.

Mas a gente, como inteligente, como humanos, temos algumas pessoas que concentram um poder tão grande que para ele não importa quantas árvores precisam derrubar para aumentar o seu poder. E toda a humanidade vai sofrer com a falta destas árvores cobrindo o solo e ajudando no ciclo das chuvas.

Quem não serve para servir também não serve para viver. O servir é compartilhar com o outro, entender que o outro é gente como você, que tem o direito de gente: água saudável, se alimentar com comida saudável e viver de forma saudável. A literatura indígena está carregada de um jeito de família, desse cuidar do nosso planeta, ensinando que só temos esta única humanidade e essa humanidade deve viver de igual modo.

Sem ficar criando guerras com os outros para ter um pouco mais de dinheiro, para ter um lugar no mundo, para aparecer mais que as outras pessoas. Mas isso é um exercício que a gente vai fazendo durante a vida com as coisas que nós aprendemos. Chegamos a um equilíbrio de que viver é um direito de todos, ser cuidado  é um direito de todos, ser amado é um direito de todos e cuidar do mundo é uma obrigação de todos nós, não só dos indígenas.

É uma responsabilidade sua não jogar lixo nas ruas, não permitir que cortem e matem as árvores, que matem os rios. Então o que a literatura indígena ou os povos indígenas têm para deixar para as muitas sociedades, e não só a brasileira, é esse amor que nós temos por essa única mãe que é a mãe natureza. Temos que cuidar dela como ela cuida da gente. Aí os nossos filhos e netos terão continuarão a nossa saga: a vida aqui neste planeta.

E não podemos permitir que esse planeta aqueça mais um grau, que vai virar uma catástrofe. Em todo esse universo que está sendo explorado por tantas sondas, esse é o único lugar para a gente viver. Então cuidemos dele juntos, não deixem que só os indígenas ou algumas pessoas cuidem deste planeta, mas todos nós que vivemos dele.

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Jéssica Oliveira

Linguista e curadora na Leiturinha. É apaixonada pelo poder das palavras, pela educação em linguagens e pela excelência na produção de livros. É mestre em Estudos da Linguagem, pós-graduanda em Produção Editorial e formada em Letras – Português e Literaturas. Ama o universo da literatura infanto-juvenil e acredita que ele nos acompanha desde a barriga até nossos cabelos brancos.

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