Quem já assistiu A Vida é Bela, do italiano Roberto Benigni, sabe do que estou falando: como é difícil tentar esconder fatos terríveis de um filho pequeno.
No filme, o personagem principal passa o tempo todo inventando criativas histórias para que seu filho não sinta as dores da Segunda Guerra Mundial.
Hoje, me vi numa situação parecida.
Estamos de férias em Nova Iorque e fomos visitar o Memorial do 11 de setembro, museu impactante que remonta a história dos atentados terroristas ocorridos em 2001.
E fomos todos, inclusive meu caçula de 5 anos cujas ideias sobre a maldade humana se resumem a: “o bem sempre vence e os malvados se dão mal”.
Como entrar num território de dor que te soca o estômago e aperta teu coração diante da grandiosidade dessa tragédia e ainda ter que inventar um cenário lúdico sem milhares de vítimas como fez o clássico italiano?
Impossível. Falhei.
Hoje, meu filho, chegou a hora de ouvir pela primeira vez que, às vezes, as pessoas boas morrem quando 2 aviões batem em um prédio. Sim, os bombeiros e policiais também. Hoje, querido, você vai perder um pouquinho da sua inocência ao se deparar com estruturas gigantescas de aço retorcidas como se fossem papel do seu material escolar.
Hoje, meu filho, você vai ver seu pai chorar por uma história que aconteceu há 17 anos, mas ainda o emociona, e assim vai entender que meu choro também é fruto de um coração puro que não consegue ignorar algumas dores do mundo.
Se o tamanho das crateras deixadas a céu aberto pela maldade do homem silenciou tua boca sempre tão falante, me sinto na obrigação de te dar uma explicação à altura desse momento.
Essa visita que te deixou impressionado ao ver um caminhão de bombeiros absolutamente destruído, e que fala de uma maldade que a tua cabecinha nem pode imaginar, foi para me ensinar que esse também é o papel de um pai.
Um pai, meu filho amado, precisa começar a contar um pouco da verdade do mundo para que a tua geração seja melhor que a dele e para que tu e teu irmão não tenham de explicar um absurdo desses aos meus netos.
Hoje, minha opção foi de não esconder do meu caçula que a vida nem sempre é bela, e percebi no olho arregalado e no comportamento comedido (ao contrário do arteiro de sempre) que ele conseguiu entender, do jeitinho dele, parte do que aconteceu ali.
Esse é o papel de um pai presente: encontrar o momento certo (e as palavras adequadas) para desvendar alguns mistérios da vida aos seus rebentos com a sensibilidade e o afeto necessários.
Um pai precisa saber que um dia chega o momento de começar a apresentar algumas dificuldades da vida aos seus filhos. Vivemos num mundo tão violento e cruel, entendo nosso desejo de criá-los numa redoma, mas compreendam, em alguma medida, essa proteção irá sufocá-los e aí será tarde.
Esse feeling sobre a hora certa só é possível para o pai presente que conhece seu filho e seus sinais. Esteja próximo, conviva, ensine e aprenda diariamente com seu filho. Esteja aberto para criar esse fluxo de afeto e entendimento. Assim, naturalmente você vai saber quando ele – e você – estarão prontos.
Como ele mesmo disse: nem o Hulk conseguiria entortar aquelas estruturas de aço. Não tive opção, concordei e acrescentei: muito menos o Thor!
Obrigado Stefano, por ajudar o papai a te explicar as coisas da vida.
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