Bancos de Leite: saúde a curto, médio e longo prazo

Feb 7, 2020 | Família

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São comuns os relatos de mulheres que descartam o excedente por não saber o que fazer com tanto leite materno. A boa notícia é que ele pode ser doado para um banco de leite humano. Aliás, o Brasil ocupa o primeiro lugar mundial em número de Bancos de Leite Humano (BLH). Desde 1998, contamos com a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR). Ela é composta por mais de 200 unidades e 180 postos de coleta, resultado de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz e o Ministério da Saúde.

Mas, afinal, o que é um banco de leite humano?

Por definição, os BLH são instituições públicas vinculadas a maternidades e hospitais infantis responsáveis pela promoção do aleitamento materno. Além da execução de coleta, processamento, armazenamento e distribuição do leite materno pasteurizado. A rBLH-BR regula a implantação e implementação de políticas públicas via Sistema Único de Saúde.

O papel do banco de leite humano, entretanto, vai além dos procedimentos técnicos relacionados à distribuição do líquido precioso que pode salvar a vida de recém-nascidos. Os profissionais que compõem as equipes são capacitados para prestar assistência a puérperas realizando atendimentos, avaliações e orientações que fazem toda a diferença no processo. 

Amamentar não é tarefa fácil e um grande percentual de mulheres apresenta dificuldades iniciais que podem colocar tudo a perder. É nesse momento que são introduzidos os substitutos do leite materno e os artefatos complementares. Como mamadeiras e chupetas ocasionando uma cascata que geralmente resulta em desmame precoce. Sendo assim, o BLH tem um papel social de extrema importância, gerando grandes impactos na saúde pública de um país.

Certo. Mas como posso fazer a doação para um banco de leite humano?

Um dos pré-requisitos para o não-desperdício é residir próximo à um BLH.  Muitas mães podem também não saber como doar ou acreditar que se trata de um processo complexo. A verdade é que se tornar uma doadora é simples. Não é possível que falte leite para o bebê amamentado no peito da mãe doadora pois quanto maior a demanda, maior a produção láctea. Isso significa que lactantes que extraem leite para doação acabam por aumentar sua produção, ao invés de diminuí-la. O que significa que não há prejuízo de nenhum tipo para o bebê. 

Além disso, qualquer quantidade é bem-vinda. Bebês prematuros ou nascidos com baixo peso (abaixo de 2500g), os principais beneficiados pelos BLH, se alimentam de pequenas quantidades de leite materno e um pote de 200 ml pode alimentar muitos bebês. Depois de coletado e congelado, a mulher deve entrar em contato com o BLH para entrega da doação ou para agendar a coleta domiciliar, quando tal serviço é oferecido.

É importante ressaltar que o leite dos bancos é destinado a hospitais e maternidades com UTI neonatal e que os bebês nascidos no local têm prioridade absoluta. Não é feita distribuição pessoal pois a legislação não permite. Também não é recomendada a doação, diretamente para outro bebê, do leite materno sem tratamento adequado (pasteurização) pois o risco de transmissão de doenças infectocontagiosas é elevado.

Entretanto, a captação de leite materno, segundo dados do Ministério da Saúde, ainda fica abaixo das necessidades em torno de 40%. Bebês prematuros e de baixo peso nem sempre podem contar com o leite dos bancos. A intensivista pediátrica Manoela de Hollanda C. K. Borba afirma que os BLH têm se configurado como um dos mais importantes elementos estratégicos da política pública em favor da amamentação.

A luta pela implementação de um banco de leite

Em Poços de Caldas, Minas Gerais, desde 2013, o Grupo de Apoio ao Parto, Amamentação e Maternidade Ativa Círculo Materno luta pela implementação de uma unidade filiada à Rede. Ou, minimamente, um Posto de Coleta vinculado à maternidade local. No caso do Posto de Coleta, as doadoras realizam a coleta e a entrega do material e todo o processo de pasteurização é feita em uma unidade de um município próximo. 

Foi realizada em novembro de 2019 uma Audiência Pública com a participação de gestores, ativistas, profissionais da área, mães e comunidade para a discussão da importância da criação do BLH. Como resultado, foram feitas pactuações com o objetivo de implementar tal política pública a curto prazo, com incontáveis benefícios a médio e longo prazos. Como a redução de gastos com fórmulas infantis pelo município e dos índices de mortalidade infantil (o leite humano é capaz de reduzir em até 13% as mortes evitáveis de crianças até 5 anos de idade). 

Giselle Samara da Silveira sentiu na pele a falta que um BLH faz. Sua filha Isis nasceu em prematuridade extrema, com 25 semanas e pesando 940 gramas. “Após quatro dias do seu nascimento, fui informada que meu leite seria ofertado a ela por sonda, 1 ml a cada 3 horas para ver como o seu organismo reagiria. Eu chegava a ordenhar de 200 a 300 ml de leite por vez e todo o excedente era descartado. Imagina a dor no coração de ver seu leite ser descartado sem poder armazenar para ajudar alguma outra mãe que estivesse em dificuldades. A Isis só pôde ser amamentada 77 dias após o seu nascimento e eu me lembrava da quantidade de leite que eu tinha descartado e na importância de um Banco de Leite na minha cidade.”.

Os benefícios do leite materno

O leite materno é o alimento considerado padrão-ouro pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma vez que possui todos os nutrientes necessários ao crescimento e ao desenvolvimento do bebê em termos quantitativos e qualitativos. Além dos fatores nutricionais a mulher lactante produz elementos indispensáveis à imunidade do bebê. Há estudos de alto impacto no meio científico que ressaltam a importância do aleitamento materno a longo prazo, se estendendo até a fase adulta na prevenção do desenvolvimento de doenças crônicas, por exemplo. Tais elementos não são ainda passíveis de síntese em laboratório, motivo pelo qual, apesar do avanço galopante de ações de empresas multinacionais que produzem fórmulas infantis, ainda não exista alimento mais completo. Embora tais informações sejam amplamente divulgadas, ainda temos muito a caminhar no sentido da promoção e da proteção à amamentação. 

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Eliza Sampaio

Doula de parto e pós-parto, nutricionista clínica especialista em Cuidados Paliativos. Transita entre o chegar e o partir desse mundo, de modo a fazer com que a humanização seja o alicerce dos processos de nascer e morrer. *Eliza é especialista em nutrição e foi convidada pelo Blog Leiturinha para compartilhar sua opinião com as nossas famílias leitoras.

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