Anos atrás, lá na época que nós nascemos, as mães já saíam do hospital com uma receita pronta. Amamente seu bebê de três em três horas, reveze os dois peitos. Dez minutos em cada senão o bebê pode não adquirir os nutrientes necessários e seu peito vai empedrar. Bom, o tempo passou, a ciência evoluiu e, pelo bem das mães e dos bebês, as referências hoje são outras. Com a amamentação em livre demanda cada vez mais em pauta, podemos considerar quase um retrocesso estabelecer horário de mamada. Mas, afinal, o que isso significa para mãe e bebê?
O que é amamentação em livre demanda?
Nos primeiros dias de vida, o bebê ainda está estabelecendo o contato com o mundo e isso é cansativo e duro para ele. Além disso, dentro da barriga era extremamente confortável e ele passava a maior parte do seu tempo dormindo. Por isso, é comum que precisemos acordá-lo para amamentar regularmente durante essa primeira semana. No entanto, com o passar das semanas, se ele estiver bem, ganhando peso e altura dentro dos parâmetros esperados, está tudo certo e ele é quem irá regular suas mamadas.
É aí que entra a amamentação em livre demanda, que nada mais é do que mãe e bebê entrarem em sintonia de tal forma que o bebê regula suas mamadas de acordo com sua necessidade. Afinal, é preciso lembrar que dentro do útero, o bebê recebe alimento e oxigênio o tempo todo. Quando nasce, a temperatura muda. Então, ele precisa sinalizar quando quer comer e todo o processo orgânico de digestão se inicia. Essa árdua mudança é pesada para mãe e bebê. Aí se iniciam os pitacos dizendo que o bebê precisa disso ou daquilo. Mas, nós mães que já passamos por isso ou estamos passando, sabemos: a conexão entre nós e nosso rebento diz mais do que qualquer conselho. E nada mais coerente do que fornecer esse alimento ao mínimo sinal do bebê. Ao menos tentando se aproximar da vida intra-uterina. Claro, quando esse cenário for bom – e possível – para mãe e bebê.
Meu “case” de sucesso!
Quando Caetano nasceu eu mal conseguia conversar com ele. O pós-parto foi extremamente difícil para mim e para ele. Mas, tudo o que eu conseguia fazer naquele momento era tentar deixá-lo o mais confortável possível. Ao um pequeno sinal de desconforto, lá estava eu quebrando as barreiras teóricas, os palpites familiares e dando o peito para ele. Ficava tudo bem. Sempre, o melhor remédio para Caetano era meu peito. Foi assim que nos três primeiros meses de vida Caetano quase triplicou de peso e se tornou a criança mas alegre que eu já tinha visto. No meio desse processo existiram mais dificuldades do que sucesso. O meu peito rachou na primeira mamada, eu precisei de muito auxílio para que ele aprendesse a famosa “pega correta” e ele ainda apresentou APLV (alergia a proteina do leite de vaca), o que mudou toda a minha alimentação e tornou essa fase ainda mais restrita. |
A mãe que amamenta pode ter sim vida social e trabalhar
Mas voltando ao bem que as novas pesquisas e informações científicas nos trazem, esse velho processo de devoção que teoricamente a amamentação representa é algo quase ultrapassado (a não ser pelo desserviço que o velho boca a boca ainda causa). Hoje, sabemos que uma mãe que amamenta não precisa se privar de comer certas coisas (a não ser em casos especiais como APLV), que a mãe que amamenta pode sim ter vida social e trabalhar. A amamentação em livre demanda fez muito bem para mim e para Caetano. Ainda que tenha precisado recusar a me curvar aos comentários alheios como “vai mamar de novo?!”. Eu e ele somos pares extremamente conectados e bem alimentados: ele de leite e eu de afeto.
Com a volta ao trabalho, a amamentação em livre demanda passou a ocupar apenas parte do nosso dia e a bombinha de leite passou a ser meu melhor acessório. No fim do dia e durante a noite, ela retorna e Caetano me acessa quando precisa: seja de alimento, de afeto ou conforto. Seguimos assim até quando for bom para ele e para mim. Dentre os benefícios empíricos e científicos que ressalto da livre demanda estão: a melhora da produção de leite; o fortalecimento da conexão entre mãe e bebê e a saúde da cria! Como a amamentação exclusiva é recomendada pelo Ministério da Saúde até os seis meses de idade, é importante que esse bebê tenha seu alimento apenas do seio da mãe.
O resultado da minha experiência (que ainda está sendo experienciada) foi: um bebê saudável, bochechudo e feliz. E uma mãe satisfeita com um peito maior que o outro (não, eu não revezo os lados) muito feliz e cansada.
Livre para quem?
Como tudo na maternidade, a amamentação em livre demanda está longe de ser só flores. Sou extremamente contra à criação de bebês pautada em regras rígidas e horários inflexíveis. Mas essa liberdade de viver e estar bem também deve ser acessada pela mãe. Amamentar é difícil, dói, cansa, nos priva de sono e de eventos sociais. Nesse processo é importante que também olhemos para nossa individualidade, a rede de apoio é extremamente importante para o sucesso da amamentação em livre demanda. Para produzir leite, a mãe precisa descansar, ter momentos de relaxamento e contar com a ajuda do seu ciclo familiar e social. Na medida que o bebê cresce e vai conquistando sua dependência relativa, tudo isso vai ficando mais fácil. O bebê vai construindo sua rotina de amamentação que, consequentemente, muda o ritmo e, depois do primeiro ano, se torna complementar.
Além disso, a boa informação está sempre a favor de mãe e bebê. Hoje existem diversos estudos sobre o tema além de grupos de auxílio e em pró do aleitamento materno. Um que foi extremamente útil para mim e Caetano foi o GVA (Grupo Virtual de Amamentação). E o melhor conselho é: siga seu instinto, fique confortável em amamentar e esteja conectada ao seu bebê. O sucesso mora aí.
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