Em 9 de abril, gestantes e puérperas foram incluídas pelo Ministério da Saúde no grupo de risco do Covid-19. Isso acabou gerando ansiedade em muitas mulheres em um período peculiar em que se sentir ansiosa e apreensiva se torna rotina. Gestar, parir, amamentar, estar no período popularmente conhecido por “resguardo” são etapas recheadas de sentimentos relacionados ao medo do desconhecido, receio de não conseguir, de não dar conta do recado, de falhar. Agora, além desses sentimentos, também devemos pensar na gravidez na quarentena. Essa nova realidade trouxe inclusive a solidão do isolamento social e o medo da solidão pós parto.
Quais riscos as grávidas possuem frente ao coronavírus?
Até o momento as evidências científicas indicam que gestantes saudáveis não apresentam probabilidade maior de apresentar complicações pela infecção pelo vírus. Ainda mais quando comparadas a mulheres não-gestantes da mesma faixa etária. Entretanto, se a mulher for portadora de outras doenças, como problemas do coração, pressão alta, diabetes, doenças respiratórias, entre outras, o risco aumenta.
As expectativas relacionadas à gestação e à maternidade em si mudaram
Se antes as preocupações já eram numerosas, com o cenário da pandemia houve um acréscimo significativo de questões a se considerar. A base delas é como a gestante pode se proteger e ao seu bebê do contágio. Uma síndrome gripal severa nunca é bem-vinda, porém quando se carrega um bebê no ventre o receio é muito maior. Medidas extras para precaução passaram a ser recomendadas. Se era rotineiro usar transporte público, sair para compras no supermercado, receber amigos em casa, visitar familiares, ir a eventos, agora tais atividades estão proibidas ou, no mínimo, dificultadas.
E se a gestante se contaminar?
Mesmo nos casos positivos, os estudos recentes têm demonstrado que não existe a transmissão do vírus pela placenta. Em alguns casos de recém-nascidos que testaram positivo, o contágio aparentemente ocorreu fora do meio intrauterino. Não foi encontrado o vírus no líquido amniótico, sangue do cordão, fluido vaginal ou leite materno.
A amamentação pode acontecer
A amamentação pode ser realizada com segurança. Inclusive contando como importante fator de proteção para o bebê. Durante o processo a mãe produz anticorpos específicos para seu filho e o colostro. O colostro é um leite produzido e secretado logo após o parto até cerca de 72 horas e é extremamente rico em imunoglobulinas. Em casos de suspeita, as recomendações são redobrar os cuidados. Mães que estejam bem para continuar amamentando devem fazê-lo usando máscara, com as mãos higienizadas e com roupas limpas. Caso a mulher não se sinta bem, poderá ter seu leite ordenhado e oferecido ao bebê por uma outra pessoa sadia. Isso pode ser realizado por meio de copinho e seguindo todas as precauções de higiene.
A melhor coisa a se fazer depois que o bebê nascer é amamentar, se possível. Também deve ficar em casa com seus familiares, não permitindo visitas. Restringir o contato dos outros filhos, caso os tenha, com pessoas de fora do círculo doméstico também é importante. Pode parecer ruim pensar que a rede de apoio estará reduzida, mas vamos nos lembrar sempre que a situação é transitória. Vai passar!
E o parto?
Em primeiro lugar é importante reforçar que a presença do acompanhante é garantida por lei (11.108 de 2005). Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu parecer recomendando a presença do acompanhante de preferência da gestante durante o trabalho de parto mesmo durante a pandemia.
A Lei 13.079/20, dispõe que a “disciplina para os cuidados com o coronavírus não deve se afastar dos postulados da dignidade da pessoa humana”. A presença do acompanhante continua garantida. Desde que ele se submeta às recomendações da nota técnica da Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Para isso, o mesmo deve ser assintomático e não integrar o grupo de risco. Neste sentido, a presença do acompanhante no parto deve ser vista como um direito não derrogável.
Outra questão importante que vem sendo amplamente discutida é o aumento do número de partos agendados com pretexto de proteção em meio à pandemia. O maior fator de proteção que pode haver para o bebê é aguardar pelo trabalho de parto. Pois assim existe a certeza de que seus sistemas estão prontos para “enfrentar” o mundo aqui fora.
Qual o melhor tipo de parto?
Estudos importantes realizados no mundo todo reforçam que a via de parto mais segura e vantajosa para mães e bebês é a vaginal. Estarmos vivendo uma pandemia não muda o fato de que as cesáreas, principalmente as agendadas, com a mulher fora do trabalho de parto, aumentam muito as chances de complicações. Dentre as mais significativas estão as respiratórias no recém-nascido.
Um bebê que não é mais prematuro (acima de 37 semanas) pode estar ainda imaturo para nascer. Se o objetivo é justamente a proteção e a prevenção da infecção pelo vírus, é necessário pensar muito bem nas decisões relacionadas à via de parto. Sem contar que o parto normal favorece a alta precoce. Ao contrário da cesariana que pode exigir mais horas de internação. Mesmo em situações em que a mulher seja suspeita ou confirmada para Covid-19, a via de nascimento não deve ser influenciada. A menos que a condição respiratória da mulher exija um parto urgente.
Algumas dicas para diminuir a ansiedade…
Para driblar um pouco a ansiedade, escreva! Redigir um plano de parto pode ajudar a organizar as ideias, então faça o seu. Converse com sua doula, sua equipe, sua família. Tome as decisões por você e pelo seu bebê. Você pode incluir questões sobre a amamentação e sobre o contato pele a pele. Os órgãos oficiais de saúde não os contraindicam nem mesmo em pacientes sintomáticas.
Cerque-se de afeto e curta a sua gestação. Embora o mundo lá fora esteja um caos, dentro de você uma vida cresce e se desenvolve. Isso é muito especial! Confira algumas dicas de como manter a gestação segura durante a pandemia.