Grupos de mães no WhatsApp: acalanto ou ansiedade?

jul 30, 2019 | 0 - 3 anos, 10+ anos, 4 - 6 anos, 7 - 10 anos, Família, Parentalidade

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Grupo da família, grupo dos amigos da faculdade, da escola do filho, do escritório… Com os avanços digitais, os grupos de WhatsApp passaram a fazer parte da vida da maioria das pessoas, como uma forma de aproximar, resolver questões e tirar dúvidas. Sendo assim, por que não um grupo de mães no WhatsApp? Sim. A rede de apoio, fundamental para as recém-mães, chegou também aos celulares, funcionando, principalmente, como um canal para tirar dúvidas, compartilhar angústias e, até mesmo, encontrar acalanto. 

Grupos de mães no Whatsapp: a maternidade na Era Digital

A facilidade do contato com as mais diversas pessoas que a internet nos traz, também amplia as possibilidades de encontrar outras mães que passem por situações semelhantes, sem estar necessariamente perto. Assim, os blogs de maternidade e os grupos de mães encontram cada vez mais força e relevância no que diz respeito ao auxílio neste momento tão delicado e importante. 

Para abordar esse assunto, conversamos com a psicóloga Juliana Di Lorenzo, que atua com Psicologia Perinatal e Parental e administra Rodas e Grupos Terapêuticos na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais, com foco principal em casais grávidos e no puerpério (pós-parto). Juliana ressaltou que muito mais do que informação, os grupos e encontros visam promover um espaço de fala e integração, sendo seu papel, enquanto psicóloga, guiar as conversas e mediar possíveis conflitos.

Nesta entrevista, discorremos especificamente sobre os grupos de mães no whatsapp que, em caráter prático, é o mais acessível a todas as famílias. Confira: 

Na sua opinião, como esses grupos podem ajudar mulheres a exercer a maternidade nos dias de hoje? Existe algum ponto negativo? 

Juliana: Quando falamos em “exercer a maternidade”, logo entendo que esta seja uma das principais funções dos grupos destinados ao público mencionado. Deste modo, “exercer a maternidade” é o ponto de partida e, ao mesmo tempo, o ponto de “chegada”. Uma vez que, não raro, é preciso desconstruir fantasias da maternidade ou paternidade idealizada e caminhar em direção a maternidade ou a paternidade real e possível. Assim, os grupos têm a possibilidade de atuar no fortalecimento do modo de ser de cada dinâmica familiar e, mais do que isso, de auxiliar na apropriação do “Ser Mãe” e “Ser Pai” de cada participante que ali se apresenta. Percebo que o acolhimento, o movimento de empatia e identificação entre os participantes promovem um ambiente de fala e escuta compartilhada, em que o respeito acontece de forma muito natural. Sobre o ponto negativo, o grande cuidado a meu ver, é a percepção em saber se a mulher, a mãe, está realmente disposta a estar neste lugar. Digo isso porque algumas se sentem desconfortáveis em ouvir e falar sobre determinados assuntos que ainda não estão preparadas, ou ainda, se sentem expostas ou invadidas em suas particularidades. Falar de si requer consentimento

Quais são as principais dúvidas das mães nos grupos? 

Juliana: Comumente, nesse formato de grupo, as mães chegam muito mais com angústias e demandas emocionais do que com alguma dúvida propriamente dita. Neste sentido, falamos mais dos sentimentos e, muitas vezes, dos medos associados à determinada questão. Por exemplo: o parto é tema recorrente nos encontros, logo, os receios aos tipos de parto, o medo do parto, a dor do parto e a recuperação no pós-parto são assuntos em pauta. A amamentação, participação dos pais e rede de apoio também são discussões frequentes em muitos encontros. 

Para você, essas mães se sentem acolhidas nesses grupos? Suas dúvidas são sanadas? 

Juliana: O acolhimento acontece naturalmente: o ambiente, a privacidade, o cuidado e respeito ao tempo de cada uma, tudo é preparado para que elas se sintam acolhidas e seguras. Assim, elas se sentem amparadas, representadas e, muitas vezes, escutam de outras mulheres aquilo que ainda não são capazes, ou não dão conta de pronunciar. Ouvem e são ouvidas verdadeiramente, há olhares dedicados e dispostos direcionados a cada uma. Quanto às dúvidas, sinto que são partilhadas, pois o retorno de um questionamento nem sempre vem como uma resposta, mas como um relato. Neste contexto, as experiências pessoais de cada uma seguem o tom e a realidade de quem narra. Este é o movimento de partilha. 

Como é a participação dos pais nisso? Há grupos específicos para eles também?

Juliana: A presença dos pais é, particularmente, um movimento do qual me mobilizo muito. Primeiro, porque compreendo que a gestação não é somente daquela que gera. Segundo, porque noto que muitos dos espaços destinados ao homem, com relação à apropriação da paternidade, ainda são muito discretos ou concentram seus esforços nas faltas e ausências e não na possibilidade de presença. Terceiro, porque em última instância, uma figura paterna implicada no processo atua como rede de suporte a díade mãe-bebê. Nos grupos que facilito, a presença dos pais ainda é muito esporádica, porém, quando há um pai no encontro sua participação é ativa. Em Poços de Caldas, não tenho conhecimento de grupos destinados a eles, entretanto, em âmbito nacional e até aqui na região Sudeste, já temos grupos de referência que promovem os encontros paternos.

Quando acontece alguma situação em que as mães se sentem desconfortáveis e/ou ansiosas, como o grupo ou representantes costumam lidar? Você tem alguma recomendação para casos assim? 

Juliana: A gestação e o puerpério são períodos de expressiva vulnerabilidade. A literatura nos diz que, em nenhum outro momento da vida da mulher, ela experienciará mudanças tão intensas em um curto espaço de tempo. Quando trazemos à luz algum sentimento ou angústia, é comum, e por vezes necessário, que haja um tempo de elaboração. Nesse período, a mulher pode ficar mais reclusa em si e reflexiva. Entretanto, compreendemos que, quando um sentimento aparece de modo a prejudicar o funcionamento diário dessa mulher, talvez seja viável uma ajuda especializada. Quando essa pronúncia ocorre dentro da roda, durante um encontro, há uma intervenção coerente com o que foi trazido pela participante. Porém, se for o caso, há o encaminhamento e orientação para um acompanhamento terapêutico individual, a fim de promover uma escuta individualizada. 

Cabe ressaltar que o período gravídico-puerperal é vivido de maneira singular, ou seja, não há uma receita, muito menos uma cartilha que dê conta da imensidão que a chegada de um bebê promove. Com isso, deixo registrado quanto à importância de abrir espaços para que estes fenômenos se manifestem, para que as futuras mães e futuros pais tenham a oportunidade de entrarem em  contato consigo mesmos e, assim, desmistificar os modelos idealizados que, por vezes, são impossíveis de serem seguidos.

E você, faz parte de algum grupo de mães no Whatsapp? Conta aqui pra gente como é a sua experiência!

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Paula Piffer

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